
O "Superman" é um dos heróis mais clássicos dos quadrinhos, o personagem que fora criado na década de 30 pela DC Comics já teve cinco adaptações para cinema, incluindo a quadrilogia estrelada por Christopher Reeve nos anos 70 e 80 e a tentativa mal sucedida de Bryan Singer em 2006 com "Superman - O Retorno". Já foi alvo de piadas e questionamentos sobre sua história não ter muita lógica e ao longo dos anos foi caindo no esquecimento ou no desgosto popular. Eis que sob o comando de Zack Snyder, diretor do excelente "Watchman" e com produção e roteiro de Christopher Nolan, o gênio por trás da nova trilogia do Batman, surge um herói renovado, pronto para conquistar um novo público e também pronto para agradar aqueles que há anos esperam uma produção decente para o personagem. "O Homem de Aço" é, com certeza, o melhor blockbuster do ano, até agora.
por Fernando Labanca
Primeiramente, é sempre bom deixar claro, não sou a melhor pessoa para falar sobre o herói. Nunca gostei do "Superman" e desde sempre, pouco me interessei por seus filmes e pelas HQ's, ou seja, não poderei nem comentar da obra como adaptação ou compará-la a qualquer outro filme feito. O lado bom disso é que este, mais uma vez, voltou às origens do herói, é um novo começo.
Voltamos ao início. O planeta Krypton vive um verdadeiro caos, é neste cenário que Jor-El (Russell Crowe) e sua esposa Lara (Ayelet Zurer) resolvem salvar o filho deles, Kal-El, o enviando para a Terra e junto com ele, uma importante informação genética de seu povo, indo contra ao cruel General Zod (Michael Shannon), que promete encontrar o tal filho enviado. Na Terra, a criança encontra um lar, com o nome Clark Kent, ele é criado por seus novos pais (Diane Lane e Kevin Costner), porém, quando criança já percebe que é diferente dos demais e desde então vive com algumas questões que o perseguem, sobre quem ele é, de onde veio e o que o futuro lhe reserva. Adulto, interpretado por Henry Cavill, ele tenta se adaptar, se escondendo, é assim que conhece a jornalista Lois Lane (Amy Adams), que ao perceber que existe uma chance daquele homem ser de outro planeta começa a investigá-lo. Eis que Zod retorna, anos depois, pronto para reencontrá-lo e coloca a vida de toda a população em perigo, obrigando Clark a encarar sua realidade, se colocar a frente e se mostrar como o verdadeiro herói que é mas que sempre teve medo de se aceitar.

Zack Snyder renova a jornada deste herói em diversas formas e tudo o que é acrescentado aqui, faz um bem enorme para o personagem. Do figurino mais sutil e realista, de um herói mais bem desenvolvido, conseguindo contar sua infância, seus conflitos, seus dilemas de forma rápida, mas profunda. A introdução feita em Krypton é sensacional, bem didática até, mas muito bem realizada, aliás, tem uma arte conceitual muito parecida com a de Alien, ficção científica clássica de Ridley Scott. Há muito de Christopher Nolan em cena também, sua seriedade e seu realismo estão presentes, a trilha sonora, fantástica, diga-se de passagem, composta por Hans Zimmer acentua esta impressão. Há também uma forte referência religiosa, que pode não ser clara a todos, mas ela é bem nítida, o homem de trinta e três anos, vindo de um lugar que desconhece, cuidado por pais que não o conceberam, é especial e destinado a grandes feitos, a esperança de toda uma população.

O que me impressionou nesta obra foi seu roteiro, tão bem cuidado e muito bem desenvolvido, raridade quando se trata de filmes de heróis. Os filmes da Marvel, por exemplo, seja "Os Vingadores" ou as sequências de "O Homem de Ferro" pouco se importaram com a história e como ela seria transmitida. Bom saber que ainda existe espaço e pessoas que ainda se preocupam com o roteiro. A recente trilogia de Batman provou isso, "O Homem de Aço" veio também, com a intenção, de trazer um conteúdo, não só efeitos especiais. Interessante a maneira como colocaram a infância de Clark na trama, em rápidos flash backs, conseguindo mostrar como cada ação do passado refletiu em suas escolhas no futuro, construindo assim, um personagem forte, assombrado por tantos enigmas, vivendo sob o fardo de que ele "é a resposta de que os seres humanos não estão sozinhos no universo" e que qualquer caminho que escolhesse em sua vida, seria responsável por mudar o mundo. Belo também é seu envolvimento com os "pais adotivos", seu pai que se recusa a vê-lo se tornando um herói com medo da reação das pessoas, o protegendo, e sua mãe que o acolhe a cada instante. A mocinha também é muito mais do que só "a mocinha", tem um papel ali na trama, é importante. E finalmente um roteiro que se preocupa em construir um vilão decente, Zod é bem trabalhado no filme e se destaca principalmente pela forte atuação de Michal Shannon.

"O Homem de Aço" é longo, muitos até acharão ele parado em alguns instantes. Não vejo como defeito, foi necessário, há espaço para uma trama melhor desenvolvida, sem pressa, tendo uma dose correta de drama e ação. Gosto do silêncio do filme em algumas sequências, são nelas que Zack Snyder se destaca como um excelente diretor. Vejo Snyder nos bons cortes, nas tomadas bem cuidadas, milimetricamente bem pensadas e na calmaria é quando o roteiro mostra seu valor, nos bons diálogos, que muitas vezes são capazes de emocionar. São nesses momentos também que a bela fotografia e a eficiente edição se destacam. A obra perde um pouco de sua identidade e personalidade nas cenas de ação, elas aparecem em grande escala, é tudo muito grandioso, é tudo muito bem feito, aliás, os efeitos especiais estão ótimos, mas cansa, em algumas cenas, é até difícil entender o que se passa na tela, com o exagero de informação que há. Entretanto, entendo que existe um público a procura da ação desenfreada, ou seja, provavelmente será bem recebido pelo público mais e menos exigente.
Henry Cavill se encaixa bem como "Superman", não há uma grande atuação, mas ele faz bem o papel do herói e não decepciona. Michael Shannon trás, mais uma vez, uma ótima interpretação, é sem dúvida, o destaque do filme. Amy Adams é sempre incrível, pena que não teve muito espaço para mostrar seu talento, apesar de nos revelar uma Lois Lane mais interessante que o usual. O restante do elenco, todos estão bons, Diane Lane, Kevin Costner, Laurence Fishburne e Russell Crowe.

"O Homem de Aço" se firma como um dos bons filmes de herói que já fizeram. Tudo muito bem pensado, bem trabalhado. Zack Snyder trás para as telas uma obra completa, com efeitos especiais para ninguém por defeito somado a uma história muito bem contada, bem planejada. Não sou fã de "Superman" e nem de filmes de heróis, mas este, definitivamente, me conquistou, isso porque depois de tantos blockbusters que surgiu este ano prometendo uma coisa que não foi, finalmente me deparo com um filme tão grandioso e tão fantástico quanto parecia ser. Recomendo.