quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Crítica: Lições em Família (Wish I Was Here, 2014)

O ator Zach Braff, mais conhecido pelo seriado "Scrubs", se arriscou como diretor no filme "Hora de Voltar" há mais de dez anos atrás, e surpreendentemente, acabou construindo um clássico cult. Desde então, ele jamais retornou na função e muitos, assim como eu, estavam a espera de seu retorno. Sob expectativas altíssimas, eis que surge "Wish I Was Here", indie, sensível, trilha musical das boas e todas aquelas características já presentes em muitas outras obras. É bom, mas infelizmente, já vimos este filme antes.

por Fernando Labanca

O nascimento da obra é bastante curioso, logo que surgiu pelo investimento do próprio público através da campanha criada por Zach no Kickstarter. Em apenas três dias, ele conseguiu mais de dois milhões para produzir seu filme. Escreveu o roteiro com a colaboração de seu irmão, Adam J.Braff e reuniu um elenco de peso para estrelar seu projeto, no qual lançou no Festival de Sundance, em 2014. Protagonizado por ele mesmo, onde interpreta um ator fracassado (Sim, de novo!), a trama gira em torno deste homem, Aidan Bloom, que após ter atingido certa idade, compreende que não conquistou muitas coisas e esta sua crise só piora quando recebe a notícia de que seu pai, Gabe (Mandy Patinkin) está prestes a morrer. Outro problema é que, devido a isso, ele é obrigado a tirar seus dois filhos da escola, pois era Gabe quem pagava as mensalidades. É então que Aidan passa a ensiná-los dentro de casa, contando sempre com o apoio de sua esposa Sarah (Kate Hudson), que trabalha fora e praticamente o sustenta. No meio disso tudo, ele ainda precisa convencer seu irmão, Noah (Josh Gad), a perdoar seu pai, para que antes da morte, possam estar, pela última vez, juntos. 


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"Quando eu era criança, eu e meu irmão brincávamos de fingir que éramos heróis com espadas. 
Nós éramos os únicos que poderiam salvar o dia. Mas, talvez, criamos um padrão um pouco alto demais. Talvez nós fôssemos apenas seres comuns. aqueles que deveriam ser salvos."
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A trama de "Wish I Was Here" é bastante confusa, no sentido de que parece não haver um foco e por isso as situações chegam na tela sem um grande propósito, é tudo muito aleatório, perdido, onde os personagens estão presos em uma situação e não avançam para nenhum outro ponto. Com toda a certeza, o roteiro é a grande falha deste retorno de Zach Braff no cinema. Ele peca, ainda, por reprisar o mesmo problema de "Graden State", sua primeira meia-hora. O tempo exato para trazer o público para dentro da trama e o instigá-lo a continuar, Braff desperdiça com momentos que nada dizem e isso se torna um grande problema quando ele não consegue mais recuperar isso, seguindo com sua trama sem rumo algum. O que resta, porém, por trás destas falhas são suas boas intenções e são por elas que nos envolvemos, criamos uma certa identificação com o que é mostrado, como a relação do protagonista com a fé e aquele medo constante de nunca vencer. É muito sensível, também. sua relação com a família, ainda que soe bastante forçado a felicidade e otimismo de todos eles. Além de tudo isso, é muito interessante essa analogia que a trama faz com as ficções científicas - e a direção de arte capricha nesses instantes - e com este universo fantasioso onde homens são heróis. Aidan não é herói, ainda que a criança que ele fora um dia sonhasse com isso, no entanto, estar na Terra requer certos esforços diários, requer coragem, principalmente quando estamos diante do inevitável, a morte, quando percebemos, enfim, a efemeridade da vida. 

Zach Braff amadurece como diretor. Ele constrói sequências, visualmente, incríveis, tanto porque selecionaram belíssimas locações para as filmagens, tanto por mérito dele também por conseguir reunir tudo isso em único filme, o tornando em algo, visualmente, atrativo. Por outro lado, Braff também se utiliza de recursos apelativos, como câmera lenta, indivíduos refletindo sobre a vida em montanhas com um lindo pôr-do-sol ao fundo, fogueira no deserto e a clássica caminhada "somos fodas" por uma calçada movimentada. Some tudo isso com personagens pronunciando frases de efeito, onde todos se amam muito, e uma trilha musical para nenhum admirador da música indie por defeito, com direito à The Shins, Hozier, Bon Iver, Bradly Drawn Boy e Cat Power. A trilha é um dos maiores acertos da obra, é boa, é de bom gosto e funciona muito bem nas cenas. O elenco também é dos bons, com destaque para Mandy Patinkin, que emociona ao interpretar o pai do protagonista e ao lado da estonteante Kate Hudson, realiza a cena mais poderosa do filme. Hudson, por sua vez, brilha, mesmo que não aparecendo muito, e a jovem Joey King se mostra uma grande revelação. Zach Braff, o de sempre e Josh Gad sendo escalado, mais uma vez, para interpretar um cara nerd.

Talvez o peso de se criar algo tão bom quanto seu trabalho anterior, limitou o criador. Há algo de "Hora de Voltar" presente em todo o filme, não sei se por necessidade de repetir os acertos ou por falta de criatividade mesmo. Falta a "Wish I Was Here" autenticidade, ainda que ele tenha a pretensão de se parecer cult e inovador. Não, não é, e Zach Braff caminha constantemente por caminhos que já percorreu, perdendo a chance de criar algo realmente bom, já que havia ali, nitidamente muitos elementos para que isso acontecesse. Por isso, o longa termina e deixa a sensação boa que qualquer feel good movie é capaz de deixar, no entanto, deixa também uma dose de decepção, por não cumprir as expectativas que prometia. Mesmo assim, ele ainda consegue entregar um filme prazeroso, gostoso de ver, com boas cenas, diálogos e atores competentes. E claro, vale por conhecer a excelente soundtrack, que funciona muito bem fora da tela e que provavelmente será uma das melhores que você irá ouvir deste ano. 

NOTA: 6,5


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 "Nada na vida irá requer de nós mais coragem do que encarar o fato de que ela termina."
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País de origem: EUA
Duração: 106 minutos
Diretor: Zack Braff
Roteiro: Zack Braff, Adam J. Braff
Elenco: Zach Braff, Joey King, Pierce Gagnon, Kate Hudson, Mandy Patinkin, Josh Gad, Ashley Greene, Michael Weston, Jim Parsons






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