sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Crítica: A Pele Que Habito (La Piel Que Habito)

No início do ano, quando começaram a disponibilizar notícias sobre o novo e tão esperado projeto de Pedro Almodóvar, admito que fiquei muito com o pé atrás, principalmente por ter uma história e ter um estilo, o suspense, muito diferente do que o diretor fez em toda sua brilhante carreira. Quando vi o trailer, fiquei assustado e já comecei a sentir um cheiro de fracasso e decepção, seria aquele momento "Almodóvar enfim perdeu o jeito de fazer bons filmes". Ou seja, fui ver com uma péssima expectativa, e ao final do longa, só pude pensar duas coisas: o quão errado eu estava e que definitivamente estava diante de um dos melhores filmes deste ano!

por Fernando Labanca


Bom, para começar, preciso admitir, é muito complicado contar a história do filme, só assistindo mesmo para se ter noção da grandiosidade do projeto. É difícil contar sem spoilers, então comentarei bem por cima, por que há muitos outros detalhes na trama. "A Pele Que Habito" é baseado no livro "Tarântula" de Thierry Jónquet, e nos mostra Roberto Ledgard (Antonio Banderas), um renomado cirurgião plástico, que vive em sua bela casa tranquilo, porém logo presenciamos algo de incomum, há uma mulher, Vera (Elena Anaya) presa em um quarto, ela tenta de diversas formas fugir ou provar a Roberto que está pronta para ir embora, mas ele a mantém em cativeiro. Aos poucos vamos descobrindo um pouco mais deste homem misterioso, perdeu a esposa depois que ela se queimou inteira e se suicidou após se ver refletida no espelho, sua filha, atordoada, passa a frequentar uma clínica psiquiátrica. E no trabalho, Roberto passa a fazer uma pesquisa intensa sobre a criação de uma pele, que envolve a mutação de células, tudo isso por culpa, por querer encontrar a cura para casos como o de sua esposa, o problema é que ele resolve testar essa nova pele em humanos, neste caso, em sua paciente, Vera. 

Mas a vida deste cirurgião é muito mais complexa do que se parece, e aos poucos vamos descobrindo o porquê de ser Vera sua paciente, porque ele a mantém daquela forma, e isso envolve um passado sombrio e cheio de segredos. É então que surge o suspense, sobre quem realmente são essas pessoas e como elas chegaram até ali.


Não, Pedro Almodóvar não perdeu a mão, a boa forma, muito pelo contrário, mantém a qualidade. Apesar de se tratar de um gênero novo para o diretor, há muito de Almodóvar na tela, o exagero, as personalidades caricatas, as cores fortes, sensualismo, sem deixar de ser polêmico e tratar de temas extremamente delicados, como a mudança de sexo, além daquela normalidade com que ele nos mostra situações bizarras. A história é fantástica, ele escolheu o projeto certo, o admiro por se arriscar, mesmo depois de anos de carreira e de seguidores, não temeu trilhar por caminhos desconhecidos, e felizmente, ele acertou. 

O roteiro, que também é assinado por Almodóvar, é genial, a contrução das situações, a apresentação das personagens, o mistério, o modo como tudo vai se revelando, tudo muito dierente, original e de extrema qualidade. A idéia é fora do comum, pode assustar muitas pessoas até, principalmente os mais conservadores, mas é um filme que vale cada segundo, cada cena que surge, uma grande idéia, é um filme que não deixa as grandes surpresas somente para o final, ao decorrer da trama, vamos nos deparando com situações bem surpreendentes. Destaque para a trilha sonora do compositor Alberto Iglesias, bastante delicada e que parece elevar o nível do longa, além é claro, dos cenários e figurinos muito bem planejados. 

Antonio Banderas retoma sua parceria com Almodóvar, com quem não trabalhava desde 1990 com "Atá-Me", e essa parceria funciona mais uma vez, havia muito tempo em que não via Banderas tão bem em um filme, aliás, fazia muito tempo em que o via em um filme bom, sua atuação não é nada incrível, mas soube passar os sentimentos (ou falta deles) deste incrível personagem. Ainda há a presença de Marisa Paredes, muito bem em cena e do jovem Jon Cornet, num personagem que dá arrepios só de lembrar. Destaque para a ótima atuação de Elena Anaya como Vera, uma personagem muito marcante e cheia de bons momentos, a atriz se entregou e nos mostrou uma belíssima performance.

"A Pele Que Habito" é uma obra-prima, por inúmeros motivos, direção impecável de Almodóvar, que parece ter tido cuidado com cada detelhe, logo que o resultado beira a perfeição. Pelo roteiro que nos apresenta uma das tramas mais ousadas e originais do ano, ou pelas grandes atuações representando grandes personagens. O longa discuti um pouco da falta de ética na medicina, mas de forma secundária, nos faz refletir sobre as atitudes desumanas de seres tão comuns, além de uma reflexão bem válida sobre nossa identidade, sobre o quanto nossa pele, essa casca que nos cobre, nos define, perderíamos nossa identidade se estivermos em um corpo diferente, se habitarmos outra pele? Reflexões feitas, filme tenso em processo de ser digerido, quando o filme terminou me veio um sentimento de felicidade, felicidade por estar diante de uma obra tão rica, de ver um cinema acontecer de forma tão rara, tão brihante. Magnífico. Inteligente. Ousado. Imperdível. 

NOTA: 10





terça-feira, 22 de novembro de 2011

Tarde Demais (Beautiful Boy, 2011)

Massacres em escolas vem sendo bastante discutidos nos últimos anos, infelizmente, é algo que ainda vemos nos noticiários. Do famoso e assustador caso de Columbine em 1999 ao mais recente caso de Realengo, cidade do Rio de Janeiro, onde um rapaz de 23 anos, vítima de bullying na infância, mata 12 alunos antes de se matar. O que vemos em "Tarde Demais", filme de Shawn Ku, é uma visão diferente deste tipo de caso, o lado em que a mídia não nos mostra.

por Fernando Labanca

Parecia um dia normal, um dia como qualquer outro, para o casal Bill (Michael Sheen) e Kate (Maria Bello) que moravam num subúrbio norte-americano. Até que recebem a notícia de que a escola em que o filho deles, Sammy (Kyle Gallner) estudava sofrera um terrível massacre, onde um dos alunos atirara em outros e posteriormente se suicidara. Sammy estudava e morava fora, há alguns meses tinha pouco contato com a família, o que aumentava a preocupação dos pais. Eis que policiais batem a porta de Bill e Kate para uma terrível notícia, Sammy morrera, entretanto, esta não era a única notícia, ele foi quem cometera o massacre.

A partir de então, a mídia cai em cima do casal, que passam a ser perseguidos, além de serem acusados pelos pais das vítimas. Os dois embarcam, então, numa fase complicada, entram numa profunda depressão, passam a se questionar sobre o ocorrido, teriam sido bons pais? Onde erraram? Poderiam ter revertido essa situação? Faziam de Sammy um garoto feliz? E o pior...seria o filho deles tão bom quanto eles achavam? Passam a se cobrar como pais, a tentar compreender o que ocorrera, a achar respostas. 

"Tarde Demais" é um filme pesado, denso. A todo momento, nos faz refletir, nos faz pensar de uma maneira que a mídia sensacionalista não faz. Não tem um intuito de trazer respostas, mas sim, nos fazer imaginar na pele daqueles que passam por uma situação delicada como essa. Os diálogos são bastante sinceros, quem os escreveu soube demostrar com sensibilidade e verdade os sentimentos mais dolorosos, mais intensos e por algumas vezes até cruéis deste casal. É interessante analisar os dois, e ver que mesmo antes do ocorrido, não eram felizes, e depois da tragédia, passam a se encarar, a dizer o que sentiam. Shawn Ku optou por closes das personagens, quase que o filme inteiro, captando com precisão as expressõs, os olhares, cansa, mas são primordiais para a proposta do longa, entrar na alma dessas duas pessoas, e ao decorer do filme, vemos Kate e Bill indo para o fundo do poço, passando por uma árdua jornada, de choros, de descontrole, de pura depressão. Essa proposta, "Tarde Demais" consegue com muito êxito, parece que sentimos o que o casal sentia. 

O longa é bastente original por mostrar um novo ângulo de um tema já discutido outras vezes, o massacre aqui é completamente secundário, o que vemos na tela, o filme inteiro são as discussões e questionamentos do casal e a maneira como eles tentam superar a perda do filho. Me lembou um filme recente chamado "Reencontrando a Felicidade", com Nicole Kidman e Aaron Eckhart na pele dos pais que perderam um filho, o que de certa forma, foi ruim, pois comparando os dois, o longa de Kidman é superior. "Tarde Demais" por mais que levante questionamentos interessantes e bastante inteligentes, onde o roteiro consegue muito bem explorar as situações vividas pelo casal, o filme é muito cansativo, parece nunca se desenvolver de verdade, seu clímax ocorre nas primeras cenas e depois dela, vemos uma repetição de conversas, de cenas, que são, aliás, um tanto quanto claustrofóbicas. Mais uma vez, há bons questionamentos, mas faltou história para preencher os 100 minutos de filme.

Destaque para as atuações de Michael Sheen e Maria Bello, que são dois bons atores, mas que infelizmente sempre acabam se envolvendo com os projetos errados. É muito bom vê-los num filme que os explore, que permite que ambos mostrem seus talentos, e é o que acontece aqui. As cenas são difíceis, e os dois se envolvem de maneira admirável, sem a grande atuação desta dupla, o filme perderia e muito de sua força. Vale a pena conferir, pela boa ideia, pelas performances impecáveis e por conseguir emocionar, não tanto quanto eu esperava, mas emociona. Mas não espere muito, é um projeto independente, pequeno, não possui a intensidade que parecia ter, não há grandes acontecimentos e dá uma leve impressão de não sair do lugar, de acabar da mesma forma que começou.

NOTA: 6,5








sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Crítica: O Guia do Mochileiro das Galáxias (The Hitchhiker's Guide to the Galaxy, 2005)

 

Algumas obras são atemporais, é o que podemos dizer de "O Guia do Mochileiro das Galáxias", a criação de Douglas Adams. Surgiu em 1978 como uma série na rádio BBC, acabou que ganhando fama e admiradores, Adams resolveu levar seus personagens para os livros, na hoje conhecida como "trilogia de quatro livros" (que na verdade, são cinco!), tendo como sequência "O Restaurante no Fim do Universo", "A Vida, O Universo e Tudo Mais", "Até Mais, e Obrigado Pelos Peixes" e "Praticamente Inofensiva".

Um marco na ficção ciêntífica, "O Guia" é uma referência forte na cultura nerd. De citação nas obras de Neil Gaiman, passando pelo álbum "Ok Computer" (de 1997) de Radiohead, que funciona quase como uma homenagem aos livros. Até mesmo o Google entrou na onda, onde o usuário tem como resposta "42" ao buscar a resposta para a vida, o universo e tudo mais. Além do conhecido Dia da Toalha, 25 de Maio, dia da morte de Douglas Adams, onde realmente os aficcionados pela obra carregam suas tolhas, como referência ao objeto indispensável na mochila de um viajante do espaço. Enfim, todo esse incrível universo não poderia passar despercebido pelo cinema, Adams escreveu o roteiro, e Garth Jennings (O Filho de Rambow) dirigiu. A obra fora dedicada ao gênio Douglas Adams que faleceu antes da finalização do longa.


por Fernando Labanca

O filme, apesar de ter sido escrito pelo próprio autor da obra, possui inúmeras modificações. Na trama, conhecemos Arthur Dent (Martin Freeman) que certo dia acorda e recebe a notícia de que sua casa precisava ser demolida pois fariam uma via espacial exatamente no território que sua casa ocupava, ironia do destino. Para piorar seu dia, seu amigo, Ford Prefect (Mos Def) se revela um alienígena e que a Terra está prestes a acabar. Para se salvarem, Ford consegue carona na nave daqueles que provocaram o fim do nosso Planeta, os Vogons, criaturas cruéis e de péssimo humor. Depois de serem torturados, eles conseguem pelos milagres da improbabilidade se salvarem mais uma vez e acabam parando na nave Coração de Ouro, que nela habitam Zaphod Beeblebrox (Sam Rockwell) e Trillian (Zooey Deschanel), para total surpresa de Arthur que conhecia a bela moça e que aliás, era apaixonado por ela, mas a omite algo muito importante, de que não podia mais retornar à Terra. Ah! E na nave também estava Marvin, o andróide paranóico, o robô maníaco depressivo.

E numa aventura cheia de improbabilidades, Trillian, Ford e Arthur embarcam nos estranhos planos de Beeblebrox, que pela fama resolver ir atrás da Pergunta Fundamental, a razão e o sentido da vida. Enquanto isso, Arthur tenta aos poucos compreender a loucura de viver longe de seu planeta, ao mesmo tempo em que vai se envolvendo com a outra única sobrevivente. Mas para ajudá-lo, seu amigo, Ford, possui o "O Guia do Mochileiro das Galáxias", uma obra com milhões de páginas capaz de responder todas as perguntas para aqueles que vivem no espaço, tudo sobre os Vogons, a Coração de Ouro, até mesmo do amor, só não é capaz de responder o sentido da vida, um mistério que envolve anos de pesquisa, computadores com inteligência avançada e...ratos!


No original, o autor não teve compromisso algum com a lógica, acontecimentos sem pé nem cabeça surgiam nas páginas e no final de cada livro percebíamos que a verdade é que nada fazia realmente muito sentido, e esta era a graça! Para o roteiro do filme, infelizmente, essa liberdade "poética" é perdida, tentam construir uma lógica para os estranhos acontecimentos, colocam um porque para quase tudo, mas ainda assim, como cinema, a obra parece ter pouco sentido, ainda que tenha, um começo, meio e fim, "O Guia" pode parecer muito mais estranho para aqueles que não leram os livros, as referências fortes do original passarão despercebidos, entretanto aqueles que as reconhecem dificilmente entrarão na "brincadeira" de Adams outra vez, que apesar de ter vários elementos do livro presentes em cena, personagens, e frases como "Toda resistência é inútil", "Não Entre em Pânico", a toalha, o humor escrachado, enfim, estão longe de agradar os admiradores. Seja pela correria do roteiro, as inúteis alterações ou as patéticas sequências que são somadas, como por exemplo, arranjarem um motivo para cortarem a cabeça de Beeblebrox!

Muito do que era bom no livro, aqui se perde pela fraqueza do roteiro. Há cenas que beiram o ridículo, construção de sequências tão fracas que não explicam o porquê de terem sido criadas, mais uma vez, pela tentativa frustrada de tentarem criar uma lógica, que obviamente, não funcionou. As personagens, por outro lado, até que possuem muito do que fora criado por Adams, e que por muitas vezes parecerem estar inseridas num contexto um pouco diferente, agem como as personagens originais agiriam em tais situações. O Arthur Dent de Martin Freeman é exatamente como eu o imaginava, sua composição é bastante fiel e convense como o britânico azarado. Mos Def manda bem como Ford e sua veia cômica ajuda bastante no desenvolvimento de algumas cenas, diferente de Sam Rockwell que constrói um Beeblebrox extremamente caricato e que infelizmente não possui a mesma força que o personagem original. Zooey Deschanel é Zooey Deschanel, linda e mais uma vez bastante cativante, trás brilho para o filme. Destaque para o robô Marvin, tão bom quanto o original. Ainda há a participação de grandes atores, como John Malkovich, Bill Nighy, Jason Schwartzman e dublagens de Alan Rickman e Helen Mirren.

Sempre vi "O Guia do Mochileiro das Galáxias" como uma obra inadaptável, ao ler Douglas Adams, percebemos a dificuldade que teriam para levar a trama para os cinemas, simplesmente não há como. O cinema, querendo ou não, necessita de certos padrões, o que foge completamente da trama criada, que não há lógica. Tentaram, muito do que há no original retorna, mas retorna com menos força, o humor lembra muito, ainda é engraçado, não tanto quanto, mas ainda é. Se mostra na tela, como uma ficção ciêntífica ainda assim muito original e criativa, mas perde muito da inteligência, daquela já citada liberdade que funciona como literatura. No geral, um filme fraco, com boa trilha sonora instrumental com direiro a uma canção original, a divertida "So Long, And Thanks For All The Fish", em referência ao quarto livro da série, com cenários simples que lembram uma sitcom, longe de serem comparadas com grandes produções hollywoodianas do mesmo gênero, o que por algumas vezes o torna interessante por não optar sempre para efeitos especiais. Fiquei decepcionado, sabia que não poderia ser tão bom quanto o livro, mas não imaginava que fosse tão inferior. 

NOTA: 5






sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Crítica: Amizade Colorida (Friends With Benefits, 2011)

Você já deve ter se perguntado o porquê das comédias românticas nunca mostrarem um relacionamento de verdade, desde a maneira como o casal se conhece, passando pelos conflitos até seu final, por muitas vezes, irreal, nos mostram uma fantasia, algo que nunca aconteceria. Pois bem, "Amizade Colorida" vem para questionar tudo isso, e se sai muito bem!

por Fernando Labanca

O longa conta com a presença de Mila Kunis e Justin Timberlake, dois ex-coadjuvantes de peso em recentes filmes premiados, ela em "Cisne Negro" de Darren Aronofski, ele em "A Rede Social" de David Fincher, agora, os dois protagonizam e ambos tem espaço de sobra para provar talento. Dirigido por Will Gluck (de "A Mentira"), o filme muito antes de ter sido lançado já era comparado com outra produção, "Sexo Sem Compromisso", recentre trabalho de Natalie Portman e Ashton Kutcher, que mostrava a relação de dois amigos muito íntimos baseada somente no sexo. Mas desde o ínicio de "Amizade Colorida", percebemos que se trata de uma história bem diferente e no resultado final, é bem superior ao filme de Portman.

Conhecemos Jamie (Kunis), uma bela moça que trabalha recrutando e encaminhando pessoas para grandes empresas, é assim que conhece Dylan (Timberlake) que se interessa numa vaga como editor de sites, área que possui grande conhecimento, mas tem dúvidas sobre morar em Nova York, até que Jamie como parte de seu trabalho, convense o estranho a ficar e prova o quanto a cidade é fantástica e quanto ele cresceria profissionalmente. Assim, surge uma inesperada amizade, logo que ele não conhecia ninguém no local e ela passa a ser sua única companhia. Eis que certo dia, ambos discutem sobre a carência que sentem de sexo, e assim surge uma espécie de pacto, onde transariam quando sentissem vontade e nada de relacionamento sério, ninguém se afeiçoando a ninguém, somente sexo, nada além disso!

Jamie, por sua vez, sempre foi fã de comédias românticas e sempre se questionou porque os relacionamentos perfeitos não existem na vida real, e nisso acaba que criando um bloqueio emocional em si mesma, e mesmo "estando" com Dylan se arrisca em outros relacionamentos paralelos mas que fracassam e acaba sempre parando nos braços de seu "amigo". Até que quanto mais tempo os dois passam juntos, um vai conhecendo mais o outro, a família, os erros do passado, os medos, as fraquezas de cada um e sem que percebam vão criando um laço muito forte entre eles, uma conexão que não haviam planejado.


Gosto de comédias românticas, mas admito que elas são ainda melhores quanto tantam fugir do óbvio e tentam seguir um caminho menos fantasioso e mais realista, casos raros como "500 Dias Com Ela" e "Ele Não Está Tão Afim de Você". "Amizade Colorida" é mais um caso raro, que discute de forma não tão madura quanto os outros exemplos, mas ainda assim, de forma inteligente, onde o roteiro acerta o foco e nos mostra de forma bastante eficiente um "relacionamento moderno", ao mesmo tempo em que questiona as mentiras que a ficção nos conta e como o cinema influencia nossa mente nos fazendo acreditar em mulheres ou homens que não existem. Assim, conhecemos Jamie, aquela que se apega ao cinema e diz não acreditar em relacionamentos como os da ficção, mas que no fundo, ainda espera aquele príncipe, o problema é que Dylan não é bem aquele príncipe, é humano, é fraco, erra e está longe de ser perfeito.

O roteiro é bom, bem desenvolvido, a maneira como o casal se conhece convense, assim como os problemas que enfrentam e o mesmo digo de seu final. Diferente de "Sexo Sem Compromisso", o roteiro não se perde em outros personagens secundários, o foco aqui é o casal, portanto os temas abordados são trabalhados de forma mais eficiente, e os coadjuvantes que surgem não são inúteis e nem bobos como no geral das comédias românticas. Outro ponto positivo é a trilha sonora, muito bem aproveitada nas cenas, com direito a "Closing Time" do Semisonic, em uma passagem divertida em um flash mob bem estiloso e bem realizado. Entre esta, há outras inúmeras cenas boas, diálogos bem escritos e sequências que ficam na nossa mente mesmo depois de já ter terminado.

Mila Kunis é extremamente carismática, diverte e para completar, atua bem. Apesar de jovem, a atriz já possui uma certa experiência frente às câmeras e soube com competência protagonizar o filme. Justin Timberlake para surpresa de toda a nação, atua bem também, e funciona como ator, e ao lado de Kunis, os dois formam um divertido casal, talvez um dos mais interessantes que surgiu este ano nos cinemas, há uma química incrível entre eles, conversam como se conhecessem há anos, há naturalidade em ambas as performances. Dentre os coadjuvantes, vemos o sempre ótimo Richard Jenkins, Jenna Elfman, boa em cena, Woody Harrelson, impecável como amigo gay de Dylan e Patricia Clarkson na personagem mais exagerada do longa e acaba que se saindo não muito bem.

Uma das comédias românticas mais interessantes deste ano, fato! Vale pela química entre o casal principal, só por Mila Kunis e Justin Timberlake já vale o ingresso. Mas ainda há outros elementos que fazem deste filme, uma obra interessante e muito bem realizada. Perde um pouco a força no meio do filme, mas recupera na parte final e termina muito bem. Apesar de questionar a forma como os relacionamentos amorosos são mostrados no cinema, "Amizade Colorida" não foge tanto dos clichês e por muitas vezes segue um caminho já seguido, tenta driblar mas acaba que caindo na armadilha de ser clichê, mas afinal, que mal há nisso? Quando bem inseridos, clichês são válidos e neste caso, funcionou muito bem. Um filme divertido, bem engraçado, entretenimento de qualidade e que também sabe emocionar! Recomedo.

NOTA: 8,5


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Crítica: Capitães da Areia (2011)


74 anos após sua publicação, a elogiada obra de Jorge Amado, enfim chega às telas de cinema, 100 anos após seu nascimento. Uma adaptação um tanto quanto obrigatória, logo que se trata de um dos livros brasileiros mais importantes, e também pelo fato de possuir uma história interessante, que funciona também como filme e por ainda ser atual, mesmo narrando uma trama dos anos 30.

por Fernando Labanca

Dirigido por Cecília Amado, neta de Jorge Amado, o longa conta com um elenco de atores formados em comunidades carentes de Salvador, mostrando assim, mais realismo a história contada. Na adaptação, conhecemos os Capitães da Areia, crianças que vivem num trapiche na beira de uma praia na Bahia dos anos 30, passam as horas nas ruas furtando os desatentos, em busca de alimento e em busca daquilo que eles almejavam, uma vida mais digna, num mundo onde viam todas as portas se fechando para eles, e roubar passa a ser o único modo de seguir em frente. Estão lá todos os personagens clássicos, Pedro Bala (Jean Luís Amorim), o líder; Professor (Robério Lima), o estudioso e que levava a magia da imaginação para os garotos; Gato, Sem-Pernas, Boa-Vida, Pirulito, entre outros.

Tudo muda com a chegada de Dora (Ana Graciela) e seu irmão, Zé Fuinha. Recém órfãos, os dois acabam conhecendo Professor, que os leva para o trapiche, revoltando todos os Capitães, inclusive Pedro Bala, por ter uma garota no meio deles. Mas com a convivência, eles passam a enxergar Dora com outros olhos, ela passa a ser mãe, amiga, aquela que cuida, que abraça, passa a mudar o modo como todos viviam, os mostra esperança, e mostra para Pedro, um sentimento até então desconhecido, o amor.


Quem, assim como eu, que admira a obra de Jorge Amado, dificilmente sairá [tão] decepcionado das salas de cinema. Cecília Amado parece ter captado exatamente o que seu avô queria transmitir com "Capitães de Areia", todo o sentimento, a poesia, sim, aquela boa e doce poesia de cada diálogo, retorna com grande beleza nas mãos da diretora, que realiza um trabalho digno, e sendo este seu primeiro trabalho, só podemos ter a certeza de que está no caminho certo. Há cenas muito bem planejadas, bem filmadas, ajudada pela ótima fotografia, o bom uso da câmera lenta, os ótimos cenários e belas locações e a combinação perfeita com a trilha sonora assinada por Carlinhos Brown. Mais uma vez, o roteiro é muito bem escrito, Cecília trás toda aquela beleza da Bahia, e assim como havia poesia nas palavaras de Jorge, ela trasmite poesia em cada cena. Vemos, então, não uma adaptação apenas com fins lucrativos, vemos um filme que respeita seu criador, que respeita aqueles que admiraram a obra, parece ser algo despretencioso, sem querer disputar com grandes produções ou sem querer entrar para a história, vem para nos relembrar a qualidade de uma literatura pouca valorizada.

Por outro lado, Cecília Amado resolveu amenizar muitos elementos, e isso acaba que sendo um lado negativo, no fim das contas. Tudo é tão sutil, que o que tinha extrema força na obra de Jorge surge nas telas ainda com beleza, mas não com a mesma intensidade. Vejo o desenvolver de Dora, onde no livro ela é o ponto crucial de tudo, a importância que ela passa a ter na vida deles e no filme, isso é infelizmente pouco explorado, e a forma sutil de mostrar essa passagem acaba que pesando no final da trama que de longe não tem a mesma intensidade da obra original. A relação dos garotos com a menina é apenas um pequeno detalhe, a não ser, sua relação com Pedro Bala, essa sim, feita com bastante delicadeza. A presença do padre também é pouco mostrada, não vemos o homem que sofre por querer ajudar os meninos, o que impede de vermos o quanto é difícil mudar a vida daqueles garotos. Outro ponto pouco explorado e que fez muita falta foi o desenvolver do Sem-Perna, o personagem mais complexo do livro, aqui é apenas um muleque chato, o que dizer de seu final? ignorado e um dos momentos mais emocionantes do original onde ele se envolve com a família que iria fazer um grande furto, é muito sutil e de pouca emoção. Ou seja, parece que resolveram seguir o caminho mais fácil, e os momentos em que exigiam uma força maior, de grande complexidade são deixados de lado.

Os atores realmente não fazem um trabalho brilhante, mas trazem realismo a trama e não estragam o projeto. Há beleza, tanto nos diálogos quanto nas imagens, boa música, boa direção. Peca por não conseguir e por muitas vezes evitar emocionar tanto quanto o livro, faltou mais emoção em inúmeras passagens, além de toda a complexidade dos personagens ter sido ignorada. Vale a pena, ainda há muito de "Capitães de Areia" no filme, mesmo faltando passagens, somando cenas, e alterando algumas sequências dos fatos, recomendo, assim como recomendo o livro. Um filme verdadeiramente nacional, que explora nossa cultura e leva como referência a história do nosso povo, sem querer ser pretencioso ou imitar obras estrangeiras, sem querer ser mais do que é, um filme pequeno, sutil, leve, divertido e bonito de se ver! Merece ser apreciado.

NOTA: 7



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