sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Crítica: A Pele Que Habito (La Piel Que Habito)

No início do ano, quando começaram a disponibilizar notícias sobre o novo e tão esperado projeto de Pedro Almodóvar, admito que fiquei muito com o pé atrás, principalmente por ter uma história e ter um estilo, o suspense, muito diferente do que o diretor fez em toda sua brilhante carreira. Quando vi o trailer, fiquei assustado e já comecei a sentir um cheiro de fracasso e decepção, seria aquele momento "Almodóvar enfim perdeu o jeito de fazer bons filmes". Ou seja, fui ver com uma péssima expectativa, e ao final do longa, só pude pensar duas coisas: o quão errado eu estava e que definitivamente estava diante de um dos melhores filmes deste ano!

por Fernando Labanca


Bom, para começar, preciso admitir, é muito complicado contar a história do filme, só assistindo mesmo para se ter noção da grandiosidade do projeto. É difícil contar sem spoilers, então comentarei bem por cima, por que há muitos outros detalhes na trama. "A Pele Que Habito" é baseado no livro "Tarântula" de Thierry Jónquet, e nos mostra Roberto Ledgard (Antonio Banderas), um renomado cirurgião plástico, que vive em sua bela casa tranquilo, porém logo presenciamos algo de incomum, há uma mulher, Vera (Elena Anaya) presa em um quarto, ela tenta de diversas formas fugir ou provar a Roberto que está pronta para ir embora, mas ele a mantém em cativeiro. Aos poucos vamos descobrindo um pouco mais deste homem misterioso, perdeu a esposa depois que ela se queimou inteira e se suicidou após se ver refletida no espelho, sua filha, atordoada, passa a frequentar uma clínica psiquiátrica. E no trabalho, Roberto passa a fazer uma pesquisa intensa sobre a criação de uma pele, que envolve a mutação de células, tudo isso por culpa, por querer encontrar a cura para casos como o de sua esposa, o problema é que ele resolve testar essa nova pele em humanos, neste caso, em sua paciente, Vera. 

Mas a vida deste cirurgião é muito mais complexa do que se parece, e aos poucos vamos descobrindo o porquê de ser Vera sua paciente, porque ele a mantém daquela forma, e isso envolve um passado sombrio e cheio de segredos. É então que surge o suspense, sobre quem realmente são essas pessoas e como elas chegaram até ali.


Não, Pedro Almodóvar não perdeu a mão, a boa forma, muito pelo contrário, mantém a qualidade. Apesar de se tratar de um gênero novo para o diretor, há muito de Almodóvar na tela, o exagero, as personalidades caricatas, as cores fortes, sensualismo, sem deixar de ser polêmico e tratar de temas extremamente delicados, como a mudança de sexo, além daquela normalidade com que ele nos mostra situações bizarras. A história é fantástica, ele escolheu o projeto certo, o admiro por se arriscar, mesmo depois de anos de carreira e de seguidores, não temeu trilhar por caminhos desconhecidos, e felizmente, ele acertou. 

O roteiro, que também é assinado por Almodóvar, é genial, a contrução das situações, a apresentação das personagens, o mistério, o modo como tudo vai se revelando, tudo muito dierente, original e de extrema qualidade. A idéia é fora do comum, pode assustar muitas pessoas até, principalmente os mais conservadores, mas é um filme que vale cada segundo, cada cena que surge, uma grande idéia, é um filme que não deixa as grandes surpresas somente para o final, ao decorrer da trama, vamos nos deparando com situações bem surpreendentes. Destaque para a trilha sonora do compositor Alberto Iglesias, bastante delicada e que parece elevar o nível do longa, além é claro, dos cenários e figurinos muito bem planejados. 

Antonio Banderas retoma sua parceria com Almodóvar, com quem não trabalhava desde 1990 com "Atá-Me", e essa parceria funciona mais uma vez, havia muito tempo em que não via Banderas tão bem em um filme, aliás, fazia muito tempo em que o via em um filme bom, sua atuação não é nada incrível, mas soube passar os sentimentos (ou falta deles) deste incrível personagem. Ainda há a presença de Marisa Paredes, muito bem em cena e do jovem Jon Cornet, num personagem que dá arrepios só de lembrar. Destaque para a ótima atuação de Elena Anaya como Vera, uma personagem muito marcante e cheia de bons momentos, a atriz se entregou e nos mostrou uma belíssima performance.

"A Pele Que Habito" é uma obra-prima, por inúmeros motivos, direção impecável de Almodóvar, que parece ter tido cuidado com cada detelhe, logo que o resultado beira a perfeição. Pelo roteiro que nos apresenta uma das tramas mais ousadas e originais do ano, ou pelas grandes atuações representando grandes personagens. O longa discuti um pouco da falta de ética na medicina, mas de forma secundária, nos faz refletir sobre as atitudes desumanas de seres tão comuns, além de uma reflexão bem válida sobre nossa identidade, sobre o quanto nossa pele, essa casca que nos cobre, nos define, perderíamos nossa identidade se estivermos em um corpo diferente, se habitarmos outra pele? Reflexões feitas, filme tenso em processo de ser digerido, quando o filme terminou me veio um sentimento de felicidade, felicidade por estar diante de uma obra tão rica, de ver um cinema acontecer de forma tão rara, tão brihante. Magnífico. Inteligente. Ousado. Imperdível. 

NOTA: 10





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