quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Crítica: Se Enlouquecer Não Se Apaixone (It's Kind Of a Funny Story, 2010)


Nem todos os filmes que são feitos surgem nos cinemas, as distribuidoras que não apostam em certos projetos simplesmente os ignoram e os lançam diretamente nas locadoras, ou seja, por muitas vezes filmes de qualidade são pouco prestigiados enquanto uma sequência de porcarias chegam as salas de cinema. "Se Enlouquecer Não Se Apaixone" é um desses projetos, de grande qualidade mas que são ignorados, infelizmente!

por Fernando Labanca

Dirigido pela dupla Anna Boden e Ryan Fleck, desconhecidos pelo público, o longa conta com atuações do iniciante Keir Gilchrist, da bela Emma Roberts e do comediante Zack Galifianakis, sua presença, aliás, responde a criação do [patético] título nacional "Se Enlouquecer Não se Apaixone", uma versão de "Se Beber Não Case", como última e frustrante forma de tentar vender o filme. Baseado no obra de Ned Vizzini, "It's Kind of a Funny Story".

Na trama, conhecemos Craig (Keir Gilchrist), um jovem de 16 anos que compreendeu que não se encaixa neste mundo, para resolver todos seus problemas, porque jovens acreditam ter muitos problemas, resolve cometer um suicídio, mas falha. Percebendo que precisava urgentemente de ajuda, vai atrás de uma clínica psiquiátrica, lá descobre que não havia alas que o separariam dos mais adultos, logo, conviveria com pessoas de todas as idades e dos mais diversos conflitos mentais, e num curto período de tempo, ao ver a situação daquela gente entende que o que passava em sua mente nem era tão grave assim, mas já era tarde demais, teria que terminar o "programa de ajuda" e ficar naquele estranho local até o fim da semana.


O que assistimos então, nada mais é do que esta estranha, divertida e intensa semana de Craig nesta clínica, é onde ele conhece Bobby (Galifianakis), um louco muito excêntrico mas que aos poucos se torna seu grande amigo, além de conhecer a bela Noelle (Roberts), uma garota de sua idade com sérios problemas psicológicos, mas que tornará estes dias em momentos memoráveis. E em apenas alguns dias, Craig passa a compreender coisas importantes da vida, coisas que não conseguira compreender fora daquela clínica durante 16 anos.

História simples, mas eficaz. Logo nas primeiras cenas vemos que não se trata de uma obra muito convencional, contrariando por completo a nossa primeira impressão, pré concebida devido a capa e ao título. Um jovem de 16 anos cometendo suícidio é forte, mas o roteiro brilhantemente transforma este evento em algo cômico e assim vai, todas as situações que poderiam fazer deste filme um intenso melodrama, são convertidas para um clime leve, gostoso de ver, misturado com uma pegada bem indie. Entretanto, mesmo tendo essas situações amenizadas pelo humor e sutileza do roteiro, não impede de vermos frases de impacto e cenas com algumas reflexões bem válidas para a vida. Mas esta sutileza, por outro lado, acaba criando algumas limitações que por vezes geram superficialidade, como é caso da relação de Craig com seus pais, que agem naturalmente quando se deparam com as estranhas atitudes do filho.

É interessante analizar também, como as personagens vão sendo construídas e vão evoluindo numa história que dura poucos dias e num cenário tão limitado. Vemos as situações com os olhos de Craig e tudo o que é novidade para ele, é novidade para nós também, e nos envolvemos com todas elas, sentimos sua evolução como pessoa devido aos conselhos que recebe e as lições que aprende com esses estranhos. Sua amizade com Bobby é de uma sensibilidade muito verdadeira, e sua relação com Noelle tem aquela loucura da adolescência mesclada com uma certa ingenuidade e inocência da infância, dois seres passando por uma fase complicada de transição, aceitação do mundo e aceitação de si mesmo.

As atuações não desapontam. Keir Gilchrist é definitivamente uma ótima revelação, um ator bastante promissor que espero que seja visto mesmo o filme tendo tão pouca divulgação. Emma Roberts não faz nada de muito incrível em cena, mas convense. Zack Galifianakis depois de seus papéis mais cômicos, ele consegue emocionar, logo, surpreende. Ainda vemos outros nomes como a sempre ótima Viola Davis e Lauren Grahan.

Um bom filme, com bons atores em cena, história bastante objetiva, roteiro bem desenvolvido, e uma trilha sonora bem indie que não decepciona aqueles que curtem o estilo, e graças a todos estes elementos, presenciamos belas cenas muito bem dirigidas. Vale muito a pena arriscar, mesmo que não tenha com quem comentar depois, mas se você é daqueles que curte ir um pouco contra a maré, se jogue nesta obra, original, por vezes limitada, mas ainda assim um projeto interessante. Ah! E não se deixe enganar pelo título nacional.

NOTA: 8



13 comentários:

  1. Gostei muito do filme, tenho um filho de 13 anos e identifiquei que muito dos pensamentos do personagem, podem passar pela cabeça dele. Ótimos diálogos! Bom filme para ver com a família reunida, com bastante pipoca!

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  2. eu achei este filme muito interessante , a parte que fala sobre problemas na adolescencia , a menina que se corta e o menino que toma rémedios e tals ..

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  3. Muito bom o filme. Me identifiquei com o ator principal.
    Mas este título nacional, nada a ver, né?

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  4. só mesmo sob pressão pra entender... under pressure...

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  5. Confesso que não iria deixar nenhum comentário; rsrs, pra falar a verdade: assim que terminei de ler a 'crítica' já nem lembrava do filme( tem uns 12 minutos que acabei de assistir na Netflix); mas acredite, Na minha mente pelo menos nesse momento, o Filme é incrivelmente interesting, yes, interesting in inglês. Very God. Ta bom, voltando ao português - Após terminar o Filme, procurei algumas críticas e está aqui foi a primeira em que clickei e o motivo é que imaginava encontrar transcrito as descrições de atividades feitas pelo Craig que antecederama última frase: "Isto é a Vida". Mas n encontrei o que procurava e ao quase sair de seu blog, vi a #NuncaTePediNada. Pronto, por isso comentei.

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    1. #NuncaTePediNada ashuashuas genial
      Faz uns meses já que assisti esse filme e gostei mt. Bateu uma saudade dele (vai entender) a resolvi vim ver umas resenhas e tals, e a saudade aumentou. Vc falou da trilha, das frases de efeito. O jeito é eu ir ali assistir de novo mesmo. o/ Bela crítica.

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  6. Acabei de "tropeçar" Nesse Filme por acaso na Netflix e A unica coisa que posso me perguntar é pra que cargas d'agua fazer isso com o titulo?

    Enfim uma obra simples mas completa em todos os sentidos, complexa e sensivel, faz com que nós nos enxerguemos melhor, quantos de nós somos como os protagonistas, temos tudo, uma boa familia, saúde, estudo e mesmo assim nos questionamos e nos sentimos impotentes perante a nossa capacidade de solucionar os nossos problemas, quantas vezes ja pensamos em suicidio mesmo tendo tudo, e porque ainda sabendo que é errado continuamos com os mesmos pensamentos?

    Ainda assim, o filme nos leva a algumas discretas reflexões, como o fato de que uma vida (aparentemente) perfeita não implica necessariamente em felicidade, além de tratar da difícil transição da vida infantil para a adulta. A depressão tem caráter epidêmico e por diversas vezes seus sintomas são ignorados ou confundidos, principalmente quando se trata de adolescentes, por isto nunca é demais explorar estas questões.

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    1. Sim, Klinger...até hoje não consigo entender esse título!

      Mas muito legal sua análise. Faz bastante tempo que vi o filme e preciso fazer uma revisita e quem sabe o ver com um olhar mais profundo como o seu.

      Agradeço o comentário! Valeu

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    2. Reveja Fernando, e nos conte o que achou, e o que viu de novo.

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  7. Não digo que não gostei do filme, pois eu senti o oposto enquanto assistia, mas esse sentimento se limita ao entretenimento; pois ele usou dos clichês de problemas adolescentes enquanto deveria ter mostrado algo original e que se aproximasse da realidade, além de mostrar a depressão de uma forma rasa de modo que é quase impossível dizer que o Craig tem problemas. Não consegui sentir junto com personagem e apesar do filme ter tentado tratar de forma cômica, bem, não deu. Além do ator principal não ter convencido muito.
    Mas alguns pontos podem ser aproveitados, como a questão da ignorância acerca da depressão e outros transtornos; como na cena em que o amigo do protagonista desmerece sua doença e num outro momento em que o psiquiatra que se mostra hesitante em ajudar o protagonista por não compreender a gravidade da situação.
    Daria umas três estrelas, ou quatro pelos coadjuvantes.

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  8. O filme é leve, porém traz certa profundidade em torno da questão da lucidez, o personagem central revela angustia que a maior parte das pessoas sente com a pressão de se alcançar o sucesso, um padrão de vida ideal, que na verdade se traduz na artificialidade material, no mundo de aparências.
    Todo esse stress presente no cotidiano, costuma deprimir as pessoas, que pela falta de dinheiro e tempo mal consegue compartilhar seus problemas com o próximo, quem dirá ouvir as angustias do outro, as pessoas devem ser fortes por si próprias e isso de certa maneira é solitário.
    Em um hospital psiquiátrico, rodeado de pessoas que não seguem esse mesmo ritmo da sociedade do lado de fora, pessoas com comportamentos e pensamentos fora do comum, apresentam ao protagonista uma nova perspectiva de como olhar para a vida, mostram que as vezes no sufocamos, nos estressamos por problemas, objetivos que nem eram nossos, insistimos em seguir caminhos que não escolhemos e que algumas vezes nossas atitudes são encaradas como loucas, mas é somente você tomando decisões consciente em meio o caos que pode ser a vida

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