Vencedor do Oscar e Globo de Ouro 2011 de Melhor Filme Estrangeiro, o dinamarquês "Em Um Mundo Melhor" conta com a direção de Susanne Bier (Brothers). Drama muito bem realizado mas que perde o foco ao tentar ser um filme político, o que de fato, não é.
por Fernando Labanca
Logo no início nos deparamos com a miséria na África e no meio daquele caos, estava Anton (Mikael Persbrandt), um médico-ativista que dedica uma parte de sua vida cuidando dos refugiados, a outra parte de sua vida, ele se dedica como pai em uma pacata cidade na Dinamarca, cuidando de seus dois filhos pequenos. Separado, ainda ama sua ex-esposa, Marianne (Trine Dyrholm), e mantém com ela uma relação amigável mas nunca consegue recuperá-la. Assim como não consegue lidar com sua separação, também não consegue lidar com o fato de seu filho mais velho, Elias (Marcus Ryggard) sofrer bullying na escola.
Elias sempre fora perseguido pelos alunos maiores, até que é salvo por um novo aluno, Christian (William Johnk Nielsen), que por sua vez perdera sua mãe recentemente e passou a viver somente com seu pai naquele mesmo local, com quem mantém uma relação conflituosa. Se sentindo perdido e ainda sofrendo por sua perda, passa a encarar o mundo de outra forma, um mundo que precisa de ajuda, um mundo onde os heróis não estejam apenas nas páginas de quadrinhos, e após salvar a pele de Elias, junto com ele, tenta elaborar alguns planos de vingança contra aqueles que merecem uma punição mais justa.
No geral, uma idéia interessante, forte e promissora. "Em Um Mundo Melhor" nos mostra estes "heróis" que surgem na vida real e tentam de acordo com seus ideais fazerem deste lugar algo melhor. O homem que faz o impossível para salvar a vida de um povo ignorado e necessitado na África, em oposição, um garoto que acredita que alguns seres "cruéis" mereçam certas punições. Entretanto, o mais interessante no roteiro, são as situações-limites que cada personagem acaba se deparando no decorrer da trama, aquelas situações do tipo "o que você faria?", como quando o pai dá a cara a tapa para ensinar o filho a não brigar. Outros pontos a se destacar são as oposições que os personagens enfrentam, o homem que é herói na África, mas não sabe lidar com sua própria vida, parece não ter controle sobre nada e o garoto que não enfrenta os conflitos com o pai mas acredita que pode salvar a vida dos outros, entre outras passagens muito bem escritas.
Como ponto negativo, é a falsa intenção de Susanne Bier tentar fazer de seu filme uma obra política que trata de problemas como o dos refugiados no continente africano, quando na verdade a obra é um drama familiar, que fala sobre os conflitos entre seus membros. Parece que ela não acreditava no potencial de sua própria criação e tenta inserir uma realidade cruel para provar sua seriedade e seu compromisso com a sociedade. Se por outro lado, sua intenção era fazer uma comparação entre os dois mundos, o dos africanos com o dos dinamarqueses, não colou também. Sim, era necessário nos mostrar o papel de Anton naquele local, mas não fazer destas cenas algo constante no filme, que sempre quando surgem, parecem algo deslocado, perdidas no roteiro.
Tudo acontece como se a intenção era fazer algo intenso, o que falha, simplesmente não consegui me emocionar com nenhuma história mostrada, isso porque sou um grande admirador desses dramas familiares, alguns atores surgem em cena e não demonstram nenhum sentimento, não há sequer um grande diálogo que merecesse destaque e que fizesse alguma reflexão mais profunda. O filme termina no estilo novela das oito, tudo se resolve e tudo o que resta é um sentimento de completo vazio, de uma trama promissora que termina de forma raza. Uma obra bem dirigida, boa fotografia, entre os atores destaco somente Trine Dylholm, a única que pareceu querer transmitir algum sentimento real. Não mereceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, faltou força para demonstrar toda essa intensidade que o roteiro pretendia passar.
NOTA: 6
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