O vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2014, "Mommy" é mais um filme realizado pelo jovem diretor canadense Xavier Dolan (Amores Imaginários). Visualmente irretocável, o longa é, definitivamente, seu melhor trabalho até aqui.
por Fernando Labanca
Visto como um diretor promissor desde seus primeiros filmes, Xavier Dolan, apesar da pouca idade, é um profissional ambicioso, dono de um talento indiscutível. As altas apostas em cima de seu nome estavam certas, pelo menos, ele ainda não provou o contrário. Vejo "Mommy" como o ponto ápice de sua carreira, tanto como diretor tanto como roteirista. Tudo flui melhor aqui, seus personagens, diálogos, suas ideias e até mesmo seu humor. É mais completo, mais verdadeiro e talvez por ele não protagonizar desta vez, é também, menos egocêntrico, sem deixar de ser ainda uma obra bastante pessoal, autoral. Recuperando o tema de seu primeiro trabalho, "Eu Matei Minha Mãe" de 2009, a trama foca, novamente, no relacionamento conturbado de um jovem problemático com sua mãe, interpretada, mais uma vez por Anne Dorval. Antoine-Olivier Pilon interpreta Steve, um adolescente hiperativo que é expulso do reformatório em que estava devido sua má conduta e por isso, passa a morar novamente com sua mãe. Com a personalidade agressiva de ambos, a relação entre eles apenas encontra um certo equilíbrio com a chegada de uma vizinha à suas vidas, Kyla (Suzanne Clément).
Apesar de admirá-lo, confesso que ainda acho Dolan muito pretensioso e seus exageros visuais denunciam isso, claramente. Acontece que aqui, no entanto, esta alta pretensão se justifica quando ele tem em mãos uma obra, de fato, poderosa, e ele entrega grandeza a ela, a enaltece com seu apuro técnico. E não tem como não se entregar e se apaixonar quando em um grande momento, o diretor opta pela câmera lenta ao som de Wonderwall do Oasis. Isso é pretensão, mas funciona, pelo menos eu fui comprado facilmente nesses instantes e digo que são vários deles. Quantas cenas maravilhosas em único filme! Dolan abusa e apela para diversos recursos interessantes, seja por sua fantástica trilha musical, que conta com nomes imprevisíveis como Counting Crows, Dido - fechando ainda com uma (genial) sacada de Born to Die de Lana Del Rey - seja, por sequências que soam com vídeo clipes memoráveis, com suas cores e seus belos enquadramentos, e claro, sua registrada câmera lenta. A fotografia e os figurinos, tornam a obra ainda mais contemplativa. Seu formato 1:1 (quadrado) é mais um item de suas peculiaridades, onde além de ser um formato que dialoga bem com tudo o que é contemporâneo, conceitualmente, também acaba sendo uma forma do diretor explorar seus personagens, a vida caótica e aprisionada que vivem. Enfim, é tudo extremamente bonito e consequentemente, prazeroso de ver, de sentir.
Mais do que um grandioso visual, "Mommy" acerta na composição de seu trio de protagonistas, e mais do que isso, na escolha de seu elenco. A relação entre Steve e sua mãe, Diane, é o que o torna, realmente, em um filme fantástico. Chega a ser hipnotizante acompanhar os dois na tela, suas discussões acaloradas, suas atitudes agressivas e descontroladas e o amor que um sente pelo outro e que lhes dá força para enfrentar tudo isso. É comovente a garra desta mãe e tudo o que ela faz ou deixa de fazer para protegê-lo, melhor ainda é o fato de que não personificam nela a heroína, a mulher exemplar e inabalável, Diana é tão falha quanto Steve, dois seres errando constantemente na busca eterna por acertar. Por outro lado, é ainda muito divertido vê-los contracenando, há muito humor e uma sintonia gostosa ali na tela, que soma com a chegada de Kyla, interpretada pela incrível Suzanne Clément, Anne Dorval, figura carimbada na filmografia de Xavier, entrega uma atuação marcante e primorosa, assim como o jovem Antoine-Olivier Pilon, que devora as cenas. Os dois juntos é de uma força descomunal, eles nos levam para um outro universo e não saímos dele até que o filme termine, sem conseguir pensar em outra coisa.
"Mommy" é insano, é brutal e nos atinge de forma intensa. São quase duas horas e meia de muitas sensações. É aquele tipo de filme que é difícil selecionar o melhor momento, porque, felizmente, ele nos oferece vários deles. Xavier Dolan alcança a maturidade em sua carreira e entrega uma obra memorável, de uma beleza fascinante. Recomendo.
NOTA: 9,5
País de origem: Canadá
Duração: 139 minutos
Distribuidor: Europa Filmes
Diretor: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Antoine-Olivier Pilon, Anne Dorval, Suzanne Clément
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