quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Crítica: Sicario - Terra de Ninguém (Sicario, 2014)

Um dos grandes destaques do último Festival de Cannes, "Sicario", conta com a direção do canadense Denis Villeneuve (Incêndios, Os Suspeitos), e começa, já na reta final do ano, a corrida para o Oscar 2016.

por Fernando Labanca

Desde já, um dos prováveis indicados à premiação, "Sicario" tem conseguido vários elogios e quem sabe, pode, finalmente, premiar Villeneuve, que não é de hoje que vem construindo uma carreira interessante, sempre retornando com excelentes trabalhos. O longa, que conta com os nomes de Emily Blunt, Benicio Del Toro e Josh Brolin nos papéis principais, mostra, através de um clima tenso, a luta contra o tráfico de drogas na fronteira dos Estados Unidos com o México em uma grandiosa e arriscada operação para deter o líder de um Cartel mexicano. Blunt interpreta Kate Macer, policial do FBI, que acaba parando nesta missão, sem compreender exatamente como tudo será executado e qual sua real função ali dentro.

"Sicario" traz uma trama pesada e que causa bastante incômodo, seja pela violência, seja pelos assuntos que debate. É um retrato cru e real sobre o narcotráfico e Villeneuve imprime na tela, um constante clima de tensão e seriedade, assim como todos os seus outros trabalhos. E no meio disso, há cenas bem marcantes, como o eletrizante tiroteio no meio de um congestionamento ou como a do "jantar", perto de seu final, bastante chocante e um tanto quanto memorável. A  produção do longa é, definitivamente, um show a parte, há muito o que ressaltar, como a fotografia e a interessante e bastante original trilha sonora, assinada por Jóhann Jóhannsson, que venceu o Globo de Ouro este ano por "A Teoria de Tudo", ele realiza mais uma composição notável, que enaltece cada instante do filme. E claro, belíssima direção de Denis Villeneuve, que constrói sequências, visualmente, fantásticas.



Vejo o roteiro, escrito pelo estreante Taylor Sheridan, como o grande problema de "Sicario". O texto não acompanha a maturidade que a produção tenta construir ali, se a direção sugere algo de extrema seriedade, relevância e urgência, o roteiro acaba, desta forma, por oferecer, uma constante quebra de expectativas. Seu final, por exemplo, chega a ser frustrante perto do que prometia, que até tem a pretensão de parecer maior, mas não é. E ao seu decorrer, há uma série de acontecimentos, não necessariamente previsíveis, mas que ele acaba optando, sempre, pelas soluções mais fáceis. Não há clímax, justamente porque tudo ocorre como o planejado. O longa, ainda tenta trazer um relato complexo sobre quem seriam os vilões e heróis dentro da trama, no entanto, traz uma visão já antes revelada por outras tantas obras, como quando colocam a moral e ética intacta de uma policial no meio da corrupção. O resultado já conhecemos e o roteiro não se esforça em trazer algo novo. Para piorar este cenário, os personagens são unilaterais, sem profundidade alguma, o que impede que qualquer reflexão seja feita na tela. 

Me agrada o fato da protagonista ser feminina em um tipo de filme tão predominado por homens, o que não me agrada é o fato deles perderem essa chance de mostrar o verdadeiro "girl power" para intensificar ainda mais essa visão estereotipada da mulher como sendo a mais frágil. Passamos o filme inteiro sem entender a real função da protagonista e quando isso é revelado é simplesmente decepcionante. É estranho quando temos a sensação de que ela, que deveria ser importante ali, poderia ter sido descartada que a história aconteceria exatamente da mesma forma. Sorte da obra é ter Emily Blunt para isso, ela expande o pouco espaço que tem e se mostra uma atriz ainda mais forte do que já havia provado. Josh Brolin e Benício Del Toro, também estão ótimos em cena. 

Em suma, "Sicario - Terra de Ninguém" é um filme, tecnicamente falando, impecável. É aquele tipo de cinema grandioso, bem elaborado, que prova, mais uma vez, o enorme talento de Denis Villeneuve como diretor, que entrega um thriller perturbador e hipnotizante. Por outro lado, temos o falho roteiro, que só não coloca tudo a perder por causa da produção e dos excelentes atores que trouxeram. Provavelmente será lembrado nas grandes premiações e acredito que ele mereça, sim, algum reconhecimento. A crítica especializada o tem elogiado muito, no entanto, apesar de ter gostado, não consigo vê-lo a não ser como uma obra já muito superestimada. 

NOTA: 7






País de origem: EUA
Duração: 121 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Denis Villeneuve
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Emily Blunt, Josh Brolin, Benicio Del Toro, Daniel Kaluuya, John Bernthal, Victor Garber

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