quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Crítica: Eu Estava Justamente Pensando em Você (Comet, 2014)


"Me sinto como se eu estivesse no mundo errado. 
Porque não pertenço a um mundo onde não terminamos juntos. 
Existem universos paralelos onde isso não aconteceu. 
Onde eu estou com você e você está comigo. 
E seja qual for esse universo, é nele que meu coração vai estar."


Vendido como uma mistura de "500 Dias Com Ela" e "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", o longa é lançado com um atraso de um ano, aqui no Brasil, e marca a estreia do diretor Sam Esmail, atualmente conhecido por ser o criador da série-sensação "Mr.Robot". Simples e nitidamente produzido com baixo orçamento, "Comet" é apaixonante, aquele tipo de obra tão adorável que dá vontade de entrar na tela e desfrutar, por alguns minutos, um pouco de seu louco e delicioso universo.

por Fernando Labanca

Este atraso de lançamento pode ter causado alguma confusão no público, logo que muitos já o haviam assistido por meios ilegais e seu lançamento aqui no Brasil sempre foi incerto (como milhões de outros filmes, infelizmente). Por alguma razão, a distribuidora nacional Imovision o trouxe para os cinemas recentemente e sou eternamente grato por isso, é uma obra que merecia a tela grande. Realmente, acho desnecessário esta comparação com os trabalhos de Marc Webb e Michel Gondry, pois acaba criando uma expectativa que pode não ser alcançada. Fui ver ciente de que se tratava de algo diferente e não me decepcionai, pelo contrário, saí apaixonado, com um sorriso no rosto e com o coração batendo forte, uma sensação que há muito tempo um romance não me proporcionava.

"Eu Estava Justamente Pensando em Você" narra a jornada de um casal durante seis anos, passando pelo futuro, passado e presente (e alguns deles em um universo paralelo). É sobre Dell (Justin Long) e Kimberly (Emmy Rossum). Ele, que desacredita no amor e principalmente no "para sempre", e ela, que reluta para aceitar as imperfeições e defeitos daquele que ama. Eles se conhecem na fila de um evento, uma chuva de meteoros, bela mas que poderia resultar no fim da humanidade. É nesta dúvida do amanhã que ambos resolvem arriscar uma relação. Depois de um tempo não especificado, depois de possíveis encontros e desencontros, recomeços e rompimentos, Dell decide ir atrás de Kim, dizer o que o perturba, dizer sobre seus sonhos reais, uma sucessão de imagens, sobre a vida que provavelmente passaram juntos, que invadiu sua mente, decidido a entender se tudo aquilo realmente aconteceu.



"Nunca pensei que o amor existisse. 
E agora eu acho que a vida não existe sem ele."


O longa começa com o personagem de Justin Long, tentando se convencer de que tudo o que viveu é real, "Isto não é um sonho!", ele diz insistentemente, logo uma frase surge na tela e nos alerta de que possíveis acontecimentos ocorreram em um mundo paralelo. A partir deste ponto já temos a certeza de que o que veremos a seguir não seguirá um padrão ou, pelo menos, nos oferecerá algo diferente, e a cada nova imagem, essa teoria se confirma. É ótimo quando uma comédia romântica tem a ousadia de tentar algo novo, de entregar ao público a chance de experimentar algo que ainda não havia sido feito. O filme nos leva para uma viagem única, sensorial, dolorosa e ao mesmo tempo encantadora. A jornada pelas lembranças do casal apresentado, Dell e Kimberly, ganha força não só pela excelente presença de Justin Long e Emmy Rossum, mas pelo poder dos diálogos, além de ser divertido e dinâmico, demonstra um alto nível de inteligência e originalidade. Há também, nas palavras deste brilhante roteiro, uma sensibilidade que não se via há tempos em filmes de romance. Sam Esmail, estava extremamente inspirado quando resolveu falar sobre a crise de dois seres apaixonados. É difícil não encontrar uma fala que nos represente, seja pelo humor ou pela dor. Dá mesmo é vontade de ter um caderninho do lado e ficar reescrevendo tudo o que ouvimos, ou simplesmente ficar ali, por mais tempo, admirando aquelas conversas corriqueiras do casal. Seu texto inspirado, por fim, nos inspira, saímos leves e com o coração preenchido. 

Digo que é simplesmente mágico o que Sam Esmail realiza aqui. Com baixo orçamento, praticamente com dois atores em cena, com poucos cenários e locações. "Comet", ainda assim, não deixa de ser um filme fantástico. Acho genial todo o conceito por trás dele, como quando Kimberly se diz insatisfeita com o tempo, como odeia ser obrigada a viver sua vida seguindo horários e como até mesmo um filme precisa ter um começo, meio e fim para ser compreendido, justamente por isso, queria que sua vida fosse como uma pintura, que não precisasse do tempo para ser apreciada. É como se a própria montagem construída fosse como a vida que ela desejava para si. Uma pintura, sem começo, meio e fim. O roteiro não se importa com essas definições, terminamos o longa e definitivamente, não importa o ponto que indica o passado ou o futuro, o que importa são as lembranças e as sensações que elas trazem. Também não é claro sobre o que é real, sonho, invenção da mente ou um acontecimento em um universo paralelo. A obra nos traz aquele tipo de trama que quanto mais pensamos nela, mais brilhante ela se torna. É interessante também como a construção das cenas quebra com alguns paradigmas do cinema, como o fato de ter seus atores, constantemente, descentralizados na tela. "Eu Estava Justamente Pensando em Você" é como uma pintura, tão belo e tão poético como uma.

É sempre inspirador encontrar obras como esta. O cinema carece dessas tramas com casais que nos envolvam. O cinema carece, também, dessas histórias de amor e de tempos e tempos, surgem algumas que valem a pena, que trazem frescor para o gênero. Infelizmente, para muitos, falar de amor é sempre clichê e é bom quando uma obra tem a irreverência de brincar com eles, e justamente por isso, não perde tempo em soltar frases de efeito e declarações apaixonadas. Como tudo é possível em "Comet", nada disso parece fora de lugar ou forçado, longe disso, felizmente, existe aqui um texto inteligente que nos encanta, nos faz suspirar e querer ver tudo de novo. De fato, na memória recente do cinema, não se encontra nenhuma outra comédia romântica tão autêntica como esta. Gostei e não foi pouco, senti um prazer enorme por tê-la encontrado.

NOTA: 9


"Eu não estou vestida desta forma porque quero dizer algo ao mundo. 
Só para você. 
Porque não importa o quão ruim tenha sido nosso namoro, eu queria te agradecer 
do fundo do meu coração por ele. Porque eu precisei dele. 
Precisei de você nesta vida."





País de origem: EUA
Duração: 91 minutos
Distribuidor: Imovision
Diretor: Sam Esmail
Roteiro: Sam Esmail
Elenco: Justin Long, Emmy Rossum



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