terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Crítica: Holy Motors (Holy Motors, 2012)


Exibido no Festival de Cannes ano passado, "Holy Motors" marca o retorno de Leos Carax, diretor francês que não fazia filmes há mais de uma década. Podemos dizer que este tempo lhe fez bem, quando nos deparamos com esta obra extremamente inovadora e ousada, que foge completamente do que já foi feito, trazendo novas ideias e uma nova forma de encarar o cinema.

por Fernando Labanca

Somos apresentados a Oscar (Denis Lavant), um senhor aparentemente rico, que logo pela manhã entra em uma limousine, ao que tudo indica, encarar seus inúmeros compromissos. É sempre guiado por Céline (Edith Scob) que dirige o automóvel e lhe entrega uma pasta revelando o que precisa ser feito. O interior da limousine, por sua vez, funciona quase como um camarim, contendo figurino e maquiagem, é onde Oscar se transforma, mais do que isso, ele renasce, adquire outra identidade, outra personalidade, vive durante seu dia diversas vidas que não é a sua, podendo ser uma senhora pedinte, uma criatura monstruosa que vive nos esgotos, um pai infeliz, um senhor em coma, entre outros personagens, transitando pelas ruas da cidade, um lugar onde a ficção é a nova realidade e a representação, sua verdade. 


"Holy Motors" veio para quebrar certos paradigmas da sétima arte. Sem começo, meio e fim, sem um grande clímax, sem um personagem que se desenvolve durante a trama, que enfrente conflitos ou que aprenda algo ao seu final. Um estudo interessante e inovador de como se fazer um novo cinema, que nos guia a um caminho inovador e repleto de surpresas, que nos treina durante seus minutos a encarar o cinema de uma forma diferente, ignorando tudo aquilo que nos prende a um filme. Aqui, o que nos prende é a originalidade, a curiosidade que a trama nos faz sentir ao nos apresentar um universo tão inusitado. Leos Carax também não fez questão de fazer algo adorável, pois de fato, seu longa trás momentos que causam bastante estranheza, repulsa, fazendo aquele que assiste se sentir incomodado, mas ao mesmo tempo, hipnotizado por tudo aquilo, nos faz querer compreender do que realmente se trata. 

Um estranho e misterioso homem que pode viver inúmeras vidas. De início, nada faz sentido e até seu final, não fará. O que diferencia é o nosso olhar e o modo como encaramos a novidade. Se no começo vemos Oscar como um louco vivendo uma vida bizarra, ao decorrer da trama, vivenciamos sua rotina, passamos a ver lógica dentro do que se propõe. Não é uma mera atuação, pois ele encarna outros "personagens" mesmo quando não há público, o que ele pretende? Aonde tudo isso vai chegar? São questões que nos rodeiam todo o filme, mas que ao ser refletido, percebemos as boas e loucas intenções de Carax. Uma diferente e inovadora homenagem ao cinema, o roteiro extremamente criativo e ousado constrói esta fábula bizarra sobre a sétima arte, cria uma espécie de universo paralelo, onde a representação está por todos os cantos, onde ninguém vive, apenas encena, sentimentos são apenas palavras soltas e não reais. O que seria o cinema se não o local onde vivenciamos os sonhos de outra pessoa? Os conflitos de uma vida que não é nossa. E tudo isso é transmitido através de pouquíssimos diálogos, é então que surgem as imagens, com uma ótima fotografia e trilha sonora eficiente, o que vemos é um trabalho competente de Carax, que realiza cenas de grande impacto, que transita entre o poético e o grotesco.

A capacidade de Denis Lavant em se transformar como ator, se reinventando a cada sequência, torna toda esta ideia possível. Apesar de não ser um ator carismático, faz um ótimo trabalho. Ainda temos as aparições da bela Eva Mendes, como uma modelo, mas não fala em cena, e da cantora pop Kylie Minogue, que não só atua bem, como canta e realiza uma das cenas mais enigmáticas do filme. "Holy Motores" também possui seus defeitos, acredito que os delírios do cineasta, mesmo que ainda consiga construir uma obra criativa, também peca pelo excesso, onde o bizarro nem sempre cai para o bom gosto, como a cena final, totalmente nonsense, que mais do que causar incômodo, também causa irritação. No geral, é um filme que definitivamente ganhará um público ainda daqui uns anos, quem sabe será reconhecido como obra-prima por alguns. Poucos filmes ousaram se arriscar tanto quanto este, algo que pouco se viu nos últimos anos e sei que jamais farão um igual. Brilhante! Recomendo.

NOTA: 8,5



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