segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Crítica: Mãe! (Mother!, 2017)

O mais novo filme do aclamado Darren Aronofsky, que marca seu retorno ao terror psicológico, é um amontoado de metáforas que surpreende por sua ousadia mas cansa com suas altas pretensões.

por Fernando Labanca

O diretor conquistou o público e a crítica com seu conturbado e memorável "Réquiem Para um Sonho" (2000) e filmes como "O Lutador" (2008) e "Cisne Negro" (2010) confirmaram seu talento, o tornando ícone e referência no cinema independente. Quando um cineasta conquista tamanho status é sempre arriscado. Terrence Malick, Christopher Nolan, Lars Von Trier, entre outros, muitas vezes se perdem em suas próprias ambições. Aronofsky, que até então parecia ter sua carreira intacta, entrega, enfim, seu produto mais inconsistente e confuso. É difícil até para Aronofsky ser Aronofsky, que em uma tentativa de manter as expectativas em torno de suas criações, se descontrola, entregando um produto megalomaníaco, exagerado. "Mother!" é, de longe, seu pior momento no cinema. 

A trama envolve a vida de uma jovem dona de casa (Jennifer Lawrence), que casada com um homem bem mais velho (Javier Bardem), tem sua rotina preenchida por cuidar do lar e ser o suporte que seu marido, como um escritor sem muitas inspirações, tanto precisa. Esse mundo "perfeito", no entanto, é destruído com a chegada de estranhos, que abalam aquelas estruturas e trazem o caos àquela casa, revelando a fúria existente na mãe que sempre foi tão pacífica.


"Mãe!" traz para as telas uma premissa um tanto quanto curiosa. De fato, me vi preso naquele universo tentando entender o que de fato estava acontecendo. Quem eram aqueles personagens e por que agiam de tal maneira? Entre diálogos misteriosos e situações inesperadas, Aronofsky realiza seu mais novo terror psicológico, que nos causa um constante desconforto, nos causa estranheza a tudo o que nos oferece. Se até sua metade, nada parece fazer muito sentido, logo suas charadas vão sendo decifradas e vamos compreendendo suas loucas metáforas, percebendo que cada detalhe possui sua razão de estar ali. Vamos, então, construindo em nossa mente, um segundo filme, aquele com todas as nossas possíveis teorias. As referências bíblicas são claras e por isso, muitos já o chamam de controverso, no entanto, ainda assim, seu final deixa algumas questões em aberto, dando aquele nó no cérebro e permitindo com que cada um tenha sua própria interpretação.

Se trata de sua produção menos interessante, visualmente falando. Sua câmera trêmula e sempre próximo dos personagens é um recurso cansativo e torna a experiência de vê-lo ainda menos agradável. Sim, Aronofsky nunca fez nada apara agradar, a questão é que nada na tela causa alguma empatia, diferente de todos os seus outros trabalhos. Difícil acompanhar a jornada da mãe, quando ela é tão passiva e apática a tudo. A inserção dos outros personagens também nunca causam nada além de irritação. No fim, tive a sensação de que suas ideias e intenções são ótimas, no entanto, ele nunca segue pelos melhores caminhos, alcançando um final absurdo, com diálogos pouco inspirados e situações que buscam a todo instante chocar e causar impacto, mas força e acaba impressionando não pelo brilhantismo e sim pela bizarrice. 

Jennifer Lawrence é uma ótima atriz, se esforça e, de fato, faz de "Mother!" algo melhor do que realmente é. A câmera que sempre está mais interessada em suas reações do que nas ações que acontecem ao seu redor, captura as expressões da atriz ininterruptamente, inclusive, em alguns planos sequência. É belo o trabalho de Lawrence. É forte. É brutal. E espanta por ser uma atriz tão jovem e ainda assim realizar algo de tamanha grandeza. Dos coadjuvantes, todos bem corretos. Como disse anteriormente, nenhum personagem causa interesse e todos não passam de peças para os tantos simbolismos que o diretor desejou criar. 

Fruto das altas pretensões de Darren Aronofsky, "Mother!" é um amontoado desesperado de metáforas. No fim, são tantos assuntos debatidos e teorias possíveis dentro daquele universo que não fica claro o ponto que ele queria chegar. E se chegou, não causa a fissura e encanto que obras que pretendem "explodir o cérebro" de seu público conquistaram. É pura ambição e nada de inspiração, de genialidade. Seu final é uma bagunça lamentável e a forma como ele fecha seu ciclo é vergonhoso e de extremo mal gosto. Existe tanta necessidade de chocar, que o diretor perde a mão e não sabe o momento certo de parar. E este choque se torna gratuito quando não mais soma em sua trama. Quando os créditos finais subiram, presenciei algo inédito. As pessoas da sala em que estava, riram. Humor involuntário é triste e é a grande prova de que as tantas intenções de Aronofsky não foram alcançadas. 

NOTA: 5




País de origem: EUA
Duração: 121 minutos
Distribuidor: Paramount Pictures
Diretor: Darren Aronofsky
Roteiro: Darren Aronofsky
Elenco: Jennifer Lawrence, Javier Bardem, Kristen Wiig, Michelle Pfeiffer, Ed Harris, Domhnall Gleeson


2 comentários:

  1. O critico não entendeu o filme é detona na superficialidade. Lamentável.

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    Respostas
    1. A pessoa não aceita uma opinião contrária e prefere dizer que o outro "não entendeu o filme".

      É possível entender o filme e não gostar dele.

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