segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Crítica: O Castelo de Vidro (The Glass Castle, 2017)

Brie Larson tenta seguir sua carreira após vencer um Oscar. É um peso enorme que se carrega, ainda mais sendo uma atriz tão jovem. "O Castelo de Vidro" é seu retorno ao drama e, ainda que encante com sua belíssima trama, marca um momento menor e não tão significativo em sua carreira.

por Fernando Labanca

Não cheguei a ler o livro que o filme se inspirou mas é provável que eles tenham romantizado grande parte dos eventos em prol de ser uma obra mais aceitável, mais digestível, como já cheguei a ler em alguns comentários. De fato, deixa a sensação de que muitos momentos são distorcidos para que alcance uma vibe "Capitão Fantástico", o deixando mais belo do que deveria ser, logo que são relatos pesados vindos de uma biografia. São instantes bonitos de se ver, mas perde o brilho quando sua fonte de inspiração é ainda tão recente. A trama gira em torno de uma jornalista, Jeanette Walls (Larson) que alcançou o prestígio em sua carreira e vive uma vida boa em Nova York, ao lado de seu noivo (Max Greenfield). No entanto, quando encontra seu pai, Rex (Woody Harrelson), que há anos não via, largado sujo nas ruas, uma série de eventos retornam a sua mente, revivendo sua complicada infância ao lado de seus irmãos e ao lado dele, que tinha problemas com bebidas e uma visão excêntrica sobre a vida.


"O Castelo de Vidro" é longo e sua trama caminha aos poucos. É bom porque não atropela seus acontecimentos, contando com cuidado cada passagem, no entanto, cansa em alguns instantes, ainda mais quando muitos deles poderiam ter sido resumidos ou até mesmo cortados. Ficando, assim, repetitivo, massante. Outros momentos, porém, até possuem lá sua função dentro da história, mas são tão desastrosos, tanto pelo roteiro quanto pela direção, como quando Jeanette leva seu noivo para conhecer seu pai ou quando, na infância, os pais surtam e logo em seguida fazem piada do ocorrido, assustando os filhos (e o público também). São apenas alguns exemplos dentre outros e são cenas que enfraquecem o produto como um todo. Brie Larson, também, não parece muito a vontade com sua personagem, principalmente nas passagens "atuais". Falta carisma, provando não ter sido a melhor escolha para protagonizar a produção. Não estraga, pelo contrário, realiza algumas boas sequências, mas fica devendo.

O grande mérito aqui é esta construção que flui bem entre presente e passado, tanto pela boa caracterização dos personagens, existindo uma escolha bem feita de atores jovens e mais velhos, tanto pelo roteiro, que vai crescendo ao seu decorrer e trilhando de forma convincente entre os diferentes tempos. Existe uma trama bastante conflituosa e é interessante como parece existir uma bomba ali, sempre prestes a explodir. É denso e a todo instante há algo não dito, uma discussão que não segue adiante, mesmo quando todos parecem desconfortáveis com a vida que levam, os desaforos que aguentam calados. O silêncio aqui é perturbador e vai corroendo todos os membros desta conturbada família. Quando o drama vai afunilando e chegando a sua reta final, sentimos, junto com todos eles, que algo precisa ser feito, palavras de ódio precisam ser ditas. Este sentimento vai nos consumindo ao longo do filme, chegando ao ponto de torcermos para que uma briga aconteça, para que alivie seus personagens de tanta dor, tanta frustração.  

Apesar de não ser o melhor momento de Brie Larson - que aqui repete sua parceria com o diretor Destin Daniel Cretton de "Temporário 12" (2013) -, a atriz ainda realiza alguns bons momentos, principalmente nos instantes finais. Seus embates com Woody Harrelson são ótimos e garantem boas sequências. Woody, por sua vez, é a alma do filme e não poderia ser outro ator a não ser ele. É o tipo de papel que funciona com o ator e ele domina seu texto. Naomi Watts, infelizmente, mais uma vez, uma coadjuvante apagada, não recebendo o destaque que merece. Max Greenfield decepciona, ainda mais quando não consegue esquecer seus trejeitos cômicos que pouco dialogam o restante do filme. 

Por fim, "O Castelo de Vidro" tem seus momentos fracos que não atingem o potencial que nitidamente tinha. Poderia ter ido além, falta mais coragem para alçar voos mais altos, a trama permitia isso. Entretanto, mesmo oscilando, existem lá suas sequências valiosas que deixam a obra acima da média. No fim, confesso, mesmo enxergando suas falhas, gostei do que vi, do que me permitiu sentir. Existem bons conflitos e são trilhados por caminhos dolorosos e por vezes até impactantes. Em seus últimos minutos, me rendi, deixei que minhas lágrimas falassem por mim. Fazia tempo que não chorava vendo um filme e só por ele ter me comovido a este ponto, percebi que valeu a pena. É bonito de se ver, acompanhar seus instantes tão cheios de poesia e dor, que são fortes e emocionam. E quando paramos para pensar que foi inspirado em eventos reais, tudo se torna ainda mais angustiante e profundo. Temos aqui um drama comovente sobre uma família disfuncional e este universo próprio que constroem. Mágico. Tão grande como um castelo, tão frágil quanto o vidro. Pode ter seus pecados, no entanto, o saldo geral é bem positivo. 

NOTA: 7,5





País de origem: EUA
Duração: 113 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: Destin Daniel Creetton
Roteiro: Destin Daniel Creetton, Marti Noxon
Elenco: Brie Larson, Woody Harrelson, Sarah Snook, Max Greenfield, Naomi Watts






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