O inferno de Gaspar Noé.
por Fernando Labanca

Com um roteiro de apenas cinco páginas e filmado em quinze dias, "Climax" é um espetáculo improvisado. Seu único momento coreografado é a sequência de dança inicial e se trata de um momento marcante ali. Não só nos deixa hipnotizados pela beleza do plano sequência e pela qualidade dos movimentos dos atores, como também nos convida a adentrar em seu universo único que está prestes a começar (e que até então, não fazíamos ideia para onde o diretor nos levaria). Quase como um ode a bad trip, a partir dali, Noé nos leva a uma viagem sem volta a um interminável pesadelo, perturbador, claustrofóbico e histérico. Tudo isso porque um grupo de dançarinos se reúne em um prédio aparentemente seguro, logo que o lado de fora congelado pela neve parece um lugar inabitável, e em um evento de confraternização, alguém coloca algo na sangria que bebem e todos acabam embarcando em uma grande viagem repleta de alucinação e paranoia.
É bastante incômoda essa experiência que o filme propõe. Filmado em um único espaço, é desesperador acompanhar seus personagens, que completamente entregues ao que ingeriram, perdem a noção do que é real. Aos poucos aquilo vai perdendo sua cor, os diálogos se tornam ruídos, a humanidade se desfaz e todos se tornam selvagens. Os humanos se tornam macacos no fim e esta auto destruição é aterrorizante. Segundo Noé, viver é uma impossibilidade coletiva e morrer parece a saída mais segura. É muito interessante como isso vai se desenvolvendo na trama e como o filme que começa como um musical energético se transforma em um circo pavoroso. A iluminação, os cortes e a maneira como o diretor usa de suas referências, que vai de "Suspiria" (1977) até "Possession"(1981), mostram um domínio surpreendente do diretor por trás das câmeras, que constrói aqui sua obra menos expositiva, mas ainda assim visceral e impactante.

"Climax" é agressivo. É alvoroço. É expressão. Uma experiência insana, sádica, propositalmente desagradável, de difícil digestão. Nada pode nos preparar para o que o filme nos revela. No entanto, penso que a necessidade de chocar é maior do que o preparo que Gaspar Noé teve com seu filme. Falta cuidado, falta desenvolver melhor suas ideias. É um produto original, instigante mas arriscado demais para não ser melhor elaborado.
NOTA: 7
País de origem: França
País de origem: França
Ano: 2018
Duração: 95 minutos
Distribuidor: Imovision
Diretor: Gaspar Noé
Roteiro: Gaspar Noé
Elenco: Sofia Boutella
Elenco: Sofia Boutella
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