quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Crítica: A Menina Que Roubava Livros (The Book Thief, 2013)

Baseado no best seller de Markus Zusak, o filme tem a difícil missão de adaptar essa que é uma das obras mais adoradas dos últimos anos. E assim como muitas adaptações, "A Menina Que Roubava Livros" possui um roteiro correto, fiel ao texto original, mas carece de alma, entregando um drama belíssimo, porém, superficial.

por Fernando Labanca

Assim como no livro, entramos na história através da narração da morte, esta que conta sobre aqueles seres que mais a assombra e que mais lhe chama a atenção, os humanos. Uma história em particular lhe fez pensar sobre muitas coisas, a história de Liesel Meminger (Sophie Nélisse), filha de uma mãe comunista que é perseguida pelo regime nazista, ela é entregue a uma família pobre da Alemanha, tendo como pais adotivos, Hans (Geoffrey Rush) e Rosa Hubermann (Emily Watson). Liesel carrega consigo um livro que "roubou" no enterro de seu pequeno irmão, o único objeto que a faz lembrar daquele que deveria estar ao seu lado naquele momento. Curiosa sobre aquelas palavras, a menina passa a ter o incentivo de Hans para aprender a ler, além de frequentar sua nova escola, lugar onde se aproxima de Rudy (Nico Liersch), que passa a ser seu grande amigo. Eis que certa noite, para cumprir uma antiga promessa, Hans oferece refúgio para Max, um judeu sem rumo. Transtornado por muitos acontecimentos, Max (Ben Schnetzer) encontrará nas palavras de Liesel Meminger a força e inspiração que precisava para continuar vivendo.


Uma coisa é inegável, "A Menina Que Roubava Livros" é um filme adorável. E é fácil criar essa empatia pela obra, os personagens, os diálogos, é tudo bonito o que vemos e comandada com uma certa sensibilidade pelo diretor Brian Percival. Entretanto, senti que vi algo bonito demais, correto demais, não vai muito além disso, parece ter sido adaptado tudo ao pé da letra, tive a sensação de que o texto foi fiel, entretanto, a essência daquelas palavras, o sentimento produzido pela leitura se desfaz para que eles produzissem um drama familiar redondo, com história simples e soluções fáceis. Tudo o que foi impactante no livro, eles retiraram. É claro, e não poderei negar isso, há um pano de fundo extremamente triste, mas a realidade daqueles tempos jamais chega às cenas, o cotidiano daqueles personagens é tratado com superficialidade, bonito de se ver, mas realizado com certa preguiça, sem jamais ter a intenção de chocar ou ao menos se tornar memorável.

O roteiro, ainda que fiel à obra original, peca em alguns momentos. A narração da morte é extremamente importante no livro, já no filme é colocada de forma aleatória, pouco aparece e se retirada não faria diferença. O desenvolver dos personagens, ainda que muito bem interpretado pelos atores, é fraco. Hans é apenas o bom pai, Rosa a mãe estressada porém de bom coração, Rudy é o amigo fiel e Max o judeu sofredor, não há oscilações, transformações, eles terminam da mesma forma que começaram. Max, por sua vez, foi o que mais me incomodou, se no livro ele era uma das coisas mais interessantes da trama, aqui ele some, perde sua importância, a relação que ele tem com Liesel é pouco explorada e isso fez mal à obra, pois a dupla tinha muito a oferecer. Por outro lado, o roteiro privilegiou passagens de pouca relevância, vemos muito cenas de cotidiano que nada alteram e de repente, sem esperarmos, com toda sua linearidade e quase nada de conflitos, estamos diante da cena final, que é realizada de forma neutra, sem clímax, que tem o poder de emocionar pelo cenário triste que retrata, não necessariamente mérito do roteiro, que conduz o espectador ao drama sem muito sentimento, sem muito a oferecer, guiado sempre pela manipuladora e pouco inspirada trilha sonora de John Williams.

As locações utilizadas é outra prova da superficialidade que a história é tratada, jamais convencendo de que aquilo é real, longe da desconfiança e medo que os cenários de Roman Polanski despertava em "O Pianista" ou Spielberg em "A Lista de Schindler". Brian Percival entrega um filme correto, que apenas se salva pelo sensível texto que tem em mãos, que mesmo com suas inúmeras falhas, não ofende a obra original. O longa ganha ainda mais pontos, e muitos pontos, aliás, pelos grandes atores que surgem em cena, Geoffrey Rush faz de Hans um personagem adorável e ao lado de Emily Watson com todo seu talento me fez ter a certeza de que não haveria outros atores a interpretar os pais adotivos de Liesel, que por sua vez, ganha vida por essa que podemos chamar de uma bela revelação, Sophie Nélisse, que surpreende. O pequeno Nico Liersch engrandece o personagem Rudy e Ben Schnetzer entrega sua sensibilidade à Max e convence. Vi muitas falhas, confesso, "A Menina Que Roubava Livros" é menor do que parecia ser, é menor do que poderia ser, mas ainda assim é um filme delicioso, encanta mesmo com suas limitações. Tem potencial para agradar aos fãs do livro e gerar curiosidade para aqueles que não leram. Gostei, no entanto, como disse anteriormente, é um filme que não se esforça para ser memorável, logo, poderá ser esquecido minutos depois que a sessão se encerre.

NOTA: 7






País de origem: EUA
Duração: 131 minutos
Distribuidor: Fox Filmes
Elenco: Sophie Nélisse, Geoffrey Rush, Emily Watson, Ben Schnetzer, Nico Liersch
Diretor: Brian Percival
Roteiro: Michael Petroni

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