sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Crítica: De Repente Pai (Delivery Man, 2013)

Vemos aqui, Ken Scott dirigindo o remake de seu próprio filme, o canadense "Meus 533 Filhos" de 2011. Sou extremamente contra à essas refilmagens de filmes recentes, não sou muito fã de comédias com Vince Vaughn, pelo simples motivo dele sempre fazer o mesmo papel, não fui com a cara deste poster nem de seu título, com mais uma tradução nacional patética. O que me fez querer escrever sobre a obra? Ela pegou todos esses meus preconceitos e ao seu final, me provou o quão errado eu estava. Enfim, por trás de tudo isso que escrevi acima, encontrei algo que me surpreendeu, um filme que é exatamente o que não perece ser...bom.

por Fernando Labanca

Conhecemos David Wozniak (Vaughn), um cara comum que trabalha como entregador de carnes, que sempre se esforçou para ter uma vida boa com uma graninha extra, por isso, chegou a realizar coisas bizarras como quando, anos atrás, doou esperma para uma clínica de fertilização. O grande problema começa quando lhe chega a informação de que gerou a vida de 533 pessoas, onde dezenas delas, já crescidas, decidem que enfim querem conhecer o tal pai biológico. Com a ajuda de seu amigo e advogado Brett (Chris Pratt), David entra na justiça para que sua imagem continue em sigilo, no entanto, ao receber a notícia de que sua namorada (Cobie Smulders) estava grávida, encontra em si, este desejo de ser pai, é então que passa a entrar em contato com alguns desses seus filhos, sem que eles saibam a verdade, conhecendo suas personalidades e procurando preencher algum vazio que a vida tenha lhes deixado.


Apesar de parecer, "De Repente Pai" não é uma comédia. O que para muitos essa foi a maior decepção do obra, vejo como sendo seu maior trunfo. Eles tinham o ator e a trama perfeita para uma comédia, a cada cena, confesso, fiquei esperando o roteiro se render ao humor, fazer tudo aquilo parecer uma palhaçada mesmo. É então que a obra nos surpreende, ao compreendermos de que, por mais propício que fosse, eles resolveram não entregar a comédia que o público provavelmente estava à espera, decidiram por seguir um caminho mais, digamos, maduro, sem medo de cair no drama, sempre optando pelo bom desenvolver da trama e pelo crescimento dos personagens e não pelas piadas. Sim, não deixa de ter uma história previsível, mas em nenhum momento deixa de ser agradável, gostoso de ver,  é curioso e nos instiga a permanecer, possui um roteiro bem escrito, inspirado e com bons diálogos, consegue e com êxito, colocar na tela seres tão adoráveis, onde de uma forma inesperada, me senti próximo àquelas pessoas, fascinado por suas tramas, por suas diferenças e peculiaridades. Como foi bom sentir isso diante de um filme que eu não esperava nada.

Vince Vaughn faz o Vince Vaughn de sempre, aquele cara que cresceu irresponsável, mas ainda assim é amigão de todo mundo. Porém, foi bom vê-lo aqui, compreende seu personagem, ainda que sempre cômico, entrega uma certa comoção à ele, além, é claro, de entregar todo seu natural carisma. Chris Pratt se destaca como amigo e conselheiro do protagonista, diverte e realiza boas sequências, já a belíssima (e eterna Robin de How I Met Your Mother) Cobie Smulders até se esforça, mas sua personagem é vazia, não há muito o que fazer. O elenco jovem surpreende, a cada nova aparição, um novo talento apresentado, como Jack Reynor, Britt Robertson e Adam Chanler-Berat.

"Delivery Man" é um pouco sobre este cara, que vive para entregar, ceder aos outros o que desejam, até que o destino resolve lhe dar algo em troca e ao compartilhar experiências tão únicas ao lado de todos esses filhos, compreende que apesar dos erros, deu vida à esses seres tão incríveis, e não há um presente mais valioso do que esse. E através de uma direção segura de Ken Scott, vemos sequências bem planejadas, além da ótima trilha musical, que vai de AC/DC à Devotchka e são muito bem inseridas nas cenas. Apesar da previsibilidade e de alguns clichês, vi um filme interessante, que surpreende pelo simples motivo de ser bom e indo contra à muitas críticas negativas que a obra recebeu, me admira muito o que vi na tela, uma trama que é capaz de entreter - vale muito um sábado a tarde com a família - e que tem potencial para emocionar, ainda que sutil, possui uma sensibilidade adorável. Recomendo.

NOTA: 8




País de origem: EUA
Duração: 103 minutos
Distribuidor: Disney / Buena Vista
Elenco: Vince Vaughn, Chris Pratt, Adam Chanler-Berat, Andrzej Blumenfeld, Britt Robertson, Dave Patten, Cobie Smulders, Jack Reynor, Amos VanderPoel
Diretor: Ken Scott
Roteiro: Ken Scott


2 comentários:

  1. Foi a primeira crítica desarmada que vi sobre esse filme. Mais do que um filme que não prometia nada. Me surpreendi com um bom crítico. Que conseguiu enxergar através das entrelinhas. Ver esse filme como uma comédia ou ficar comparando com ou outros trabalhos do ator foi o que mais encontrei nas críticas de "grandes" páginas. Parabéns. Continue sempre assistindo de mente aberta.

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    1. Poxa, Fabão...agradeço muito esse comentário! Fico feliz que tenha gostado do texto. E realmente, sempre tento ver um filme de mente aberta e este me surpreendeu bastante.
      Muito obrigado!

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