quinta-feira, 14 de abril de 2016

Crítica: Sentimentos Que Curam (Infinitely Polar Bear, 2014)

Primeiro filme dirigido por Maya Forbes, até então roteirista de Hollywood, "Sentimentos Que Curam" é um trabalho autobiográfico, onde ela se baseia na história que viveu ao lado de seu pai, um maníaco-depressivo, vivido por Mark Ruffalo, na tela. Mais do que uma dramédia leve sobre um assunto pesado, o longa passa a ser, também, uma bela carta de amor da autora para sua família.

por Fernando Labanca

Ruffalo interpreta Cameron, que mesmo com seus colapsos nervosos, conquistou a bela Maggie (Zoe Saldana), com quem teve duas filhas, Amelia (Imogene Wolodarsky) e Faith (Ashley Aufderheide). Entretanto, com o passar dos anos, a relação da família vai ficando cada vez mais difícil, eis que após um dos ataques de Cam, Maggie se vê obrigada a partir e deixá-lo internado em um hospital psiquiátrico. Um tempo depois, porém, devido as dificuldades financeiras da família, a mãe decide estudar em Nova York, deixando as duas filhas com o marido, que retorna para casa, lhe dando uma chance de conquistar sua posição de pai novamente, criando uma rotina de novas responsabilidades, cuidado e afeto, capaz de trazê-lo de volta aos eixos.


Narrado pela pequena Amelia, "Infinitely Polar Bear" traz, justamente por isso, um olhar doce e ingênuo sobre este homem bipolar, ou melhor, infinitamente urso polar, assim como entende sua irmã mais nova. Desta forma, a trama segue sem muita profundidade, sem dramalhões, conflitos densos e reviravoltas. É apenas uma passagem de tempo, um recorte na vida desta família, desequilibrada pela personalidade do pai, mas que tenta se manter forte e inabalável. Uma visão bem leve e simples, assim como as já conhecidas dramédias independentes do cinema norte-americano, extremamente inofensivo, mas gostoso de ver, de sentir. É um retrato bastante intimista sobre estes indivíduos, que dividem um lar, mas que nem sempre vivem na mesma sintonia, e através de seus naturais diálogos e momentos corriqueiros, adentramos em sua vidas, em suas rotinas, assim como quando algumas sequências revelam vídeos caseiros da família, viajamos no tempo com eles, nos afeiçoamos e sentimos a dor que é ter alguém que se ama, que queremos por perto, longe de si.

Apesar de ser apenas o primeiro filme dirigido por Maya Forbes, ela se mostra bastante a vontade e demonstra segurança nas cenas. É interessante seus enquadramentos, principalmente em locais fechados e sua câmera constantemente trêmula nos dão uma sensação de bagunça, de falta de controle, tão pertinente a maneira como vivia a família. Outro item de grande destaque na obra é sua trilha sonora, composta por Theodore Shapiro, tão doce e tão delicada quanto o resto. O elenco também não decepciona, e como já era de se esperar, Mark Ruffalo - que ao lado de J.J. Abrams, também produz o longa - entrega uma performance fantástica, assim como as pequenas atrizes com quem contracena, que se mostram bastante focadas. Zoe Saldana, sempre incrível, mesmo que em um papel menor.

"Sentimentos Que Curam", inevitavelmente, cai na armadilha do "amor salva até mesmo doenças", e por isso pode até parecer enfadonho em suas ideias. E esta sua característica de ser tão inofensivo e leve, o transforma em uma obra não muito marcante, adorável, mas que deixa a sensação de que poderia ter se aprofundado mais, ter caído mais na realidade e nem tanto na fantasia. Porém, ao saber que a própria Maya Forbes enfrentou o que a pequena Amelia - que por sua vez, fora interpretada por sua própria filha - enfrentou na tela ao lado do pai bipolar, vi o longa com outros olhos, é como se tudo isso fosse sua carta de amor à ele, à vida que tiveram juntos, Maya transforma seu pai em um herói, e acredito que aí está a grande beleza da obra. Confesso que me surpreendi, e mesmo diante de algumas falhas, vi um filme encantador, simples, mas repleto de alma, honesto e feito de puro afeto. A última cena é a prova disso, que me deixou com um nó na garganta, com o coração apertado. E foi muito bom. Recomendo.

NOTA: 8






País de origem: EUA
Duração: 90 minutos
Distribuidor: Imagem Filmes
Diretor: Maya Forbes
Roteiro: Maya Forbes
Elenco: Mark Ruffalo, Imogene Wolodarsky, Ashley Aufderheide, Zoe Saldana, Keir Dullea

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