por Fernando Labanca
"Ingrid Goes West" é uma comédia dark, que de tão trágica não conseguimos rir. Nos faz questionar se deveríamos ver humor em tudo o que nos revela. Ao seu fim, me senti diante de tudo o que não esperava...atingido por um drama denso, reflexivo e tão humano quanto perturbador. Se trata de uma trama que nos afeta justamente por ser tão próxima de nós, por falar sobre algo que vemos todos os dias. E que, apesar de seus exageros e bizarrices, é sim sobre todos nós, sobre as mentiras que dizemos a nós mesmos. Sobre a pessoa que inventamos e tentamos vender nas redes sociais. É um retrato triste sobre a modernidade e as consequências de se viver cercado que tudo que não é mais real.
Aubrey Plaza interpreta Ingrid, uma jovem viciada em aplicativos. Passa suas horas curtindo fotos, vendo vídeos e interagindo com pessoas que desconhece. Dona de uma grande herança deixada por sua mãe, que faleceu recentemente, decide investir seu dinheiro em uma viagem para Los Angeles, lugar que reside Taylor Sloane (Elizabeth Olsen), uma nova influencer digital. Apaixonada pelo estilo de vida cool e descolado de sua musa, Ingrid coloca em prática um bizarro plano de aproximação, tentando aos poucos fazer parte daquela rotina, se tornando aquilo que ela tanto admira e que só era real nas fotos que curtia.
Ainda que traga uma visão cômica dessa situação, é estranhamente desconfortável e assustador todo o desenvolver da trama. É muito crível, também, principalmente quando entra em cena Taylor e este estilo de vida que fica tão belo no perfil do Instagram. Curioso como, de longe, ela é uma pessoa extremamente fantástica e que, sim, também gostaríamos de ser amigos dela, no entanto, quanto mais conhecemos sobre sua rotina, seu passado e seus relacionamentos, mais percebemos o quanto tudo é vazio, sem sentido. O filme, então, reflete o tempo inteiro sobre essa dupla personalidade. De Ingrid que se transforma para fazer parte de uma vida que não é sua, enquanto seu parceiro de cena, interpretado pelo carismático O'Shea Jackson Jr., tem como grande inspiração o Batman, aquele que cria uma outra identidade para ser herói. Temos ainda o personagem Ezra (Wyatt Russell), um artista que se recusa a vender seu trabalho nas redes sociais, como se isso o fizesse perder sua integridade.


"Ingrid Goes West" encontra, ainda, um ótimo final. Não poderia ter terminado de outra forma e é ótimo quando sentimos isso de um filme. Nos faz pensar, com todas as suas bizarrices, no que a tecnologia tem nos transformado. Em tudo o que mudou com a acessibilidade das redes sociais. Nos faz refletir sobre essas necessidades banais que passamos a ter. Sobre os heróis banais que passamos a seguir e a idolatrar. Uma comédia sobre o nosso tempo, sobre nossa geração. Seria lindo se pudéssemos rir de tudo isso. Mas é triste e assustador demais para isso.
NOTA: 8,5
País de origem: EUA
Título Original: Ingrid Goes West
Ano: 2017
Título Original: Ingrid Goes West
Ano: 2017
Duração: 97 minutos
Distribuidor: -
Diretor: Matt Spicer
Roteiro: Matt Spicer, David Branson Smith
Roteiro: Matt Spicer, David Branson Smith
Elenco: Aubrey Plaza, Elizabeth Olsen, O'Shea Jackson Jr., Wyatt Russell, Billy Magnussen, Pom Klementieff
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