quarta-feira, 29 de maio de 2019

Crítica: Anos 90


A poesia da juventude.

por Fernando Labanca

Debute de Jonah Hill na direção, "Anos 90" surpreende por nos mostrar esse lado que desconhecíamos do ator, que alcança aqui um outro nível em sua carreira. É tudo o que não esperávamos dele e só por isso já vale a experiência. Seu talento por trás das câmeras é nítido e entrega um produto longe do glamour hollywoodiano, intimista, repleto de honestidade e alma. Não é a primeira vez que um ator busca no coming of age a inspiração necessária para um primeiro filme. Ryan Gosling, Greta Gerwig e recentemente Olivia Wilde - que está para lançar "Booksmart" - fizeram isso. Parece um passo mais certeiro, no entanto, Hill ousa por revelar uma obra nada óbvia e demostra bastante afinidade com o tema, quase como se filmasse algo que já viveu. 

Claro que há uma certa pretensão também. Mesmo que trabalhe com baixíssimo orçamento e uma trama simples, é nítido que o diretor tinha altas intenções aqui. Não é tão despretensioso quanto aparenta ser. Isso é claro quando ele tenta reproduzir o cinema renomado e alternativo de Harmony Korine e Larry Clark (Kids, Ken Park), ao mostrar a vida de jovens que seguem sem rumo, fumando um baseado, falando sobre sexo e andando de skate. Ainda que não seja uma visão muito nova, Hill é competente ao utilizar de boas referências e acaba por reviver uma fórmula que parecia esquecida. Parece um filme de outra época e ele, tanto como diretor como roteirista, revela um alto domínio, mesmo com poucos recursos. Na trama, Stevie (Sunny Suljic), de 13 anos, encontra um grupo de garotos no qual se identifica em meados da década de 90. Se em casa ele é maltratado pelo irmão mais velho (Lucas Hedges), naqueles estranhos ele acaba firmando um laço afetivo muito grande e ao lado desses novos amigos, passa a desfrutar de sua adolescência precoce e a conhecer mais de perto a realidade daquelas ruas.


O jovem ator Sunny Suljic é uma grande revelação e surpreende ao protagonizar a obra, entregando uma performance notável. Ele é, de fato, uma das razões do filme ser tão bom. Mas há algo a mais aqui. Jonah Hill acerta a mão e o que poderia ter se tornado um filme sobre um bando de babaca andando de skate, acaba se transformando, de forma tão singela e delicada, em um recorte naturalista e profundo sobre a adolescência. O improviso de cada diálogo, as conversas corriqueiras e o tempo que nunca corre, apenas caminha lentamente para nossa contemplação. Aos poucos, tudo aquilo vai se tornando tão especial para nós e é até difícil descrever o porquê. Há beleza em cada pequeno instante. A ótima direção de Hill, somado a fotografia e a excelente trilha sonora, composta por Trent Reznor e Atticus Ross, acaba por nos revelar sequências de uma poesia única. Seja quando os jovens são perseguidos por policiais ou o plano sequência de quando os amigos chegam em uma festa. Poderiam ser tudo tão ordinário, mas não é. Nunca é. É bonito, é prazeroso, é o cinema em sua forma mais genuína. 

NOTA: 8,5



País de origem: EUA
Título original: Mid90s
Ano: 2018
Duração: 84 minutos
Distribuidor: Diamond Films
Diretor: Jonah Hill
Roteiro: Jonah Hill
Elenco: Sunny Suljic, Katherine Waterston, Lucas Hedges



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias