quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Crítica: As Loucuras de Rose

Três acordes e uma verdade

por Fernando Labanca

Estrelas da música em ascensão tem sido um tema recorrente no cinema. Pegando carona em filmes como “Nasce Uma Estrela”, o longa britânico traz um novo olhar sobre o tema, mais plausível e realista. Desta vez, conhecemos a jornada de Rose-Lynn (Jessie Buckley), uma cantora country de Glasglow, na Escócia, que sonha em viver seu grande sonho em Nashville. A grande questão é que ela acabou de sair da prisão e precisa recuperar seu contato com seus dois filhos, além de aceitar suas responsabilidades como mãe enquanto busca por um espaço na música. Com comportamento agressivo e pouco tato para lidar com pessoas, a jornada da protagonista é sempre guiada por um caminho doloroso e de difíceis decisões. 

“As Loucuras de Rose” se divide entre a magia dos números musicais com a realidade crua vivida pela personagem. Ela acaba levando uma vida dupla, entre aquela em que vive seus sonhos e aquela em que precisa encarar seu passado e o peso de rotina. Chega a ser triste este embate travado dentro dela mesma, de ter o talento e disposição para ser grande, mas nunca poder porque sua realidade a puxa de volta. É lindo momentos como quando Rose, enquanto trabalha como diarista para pagar suas contas, visualiza ao seu fundo uma banda completa para seu show imaginário. É forte, ainda, esta relação que ela tem com sua família. As vezes ela age como uma criança perdida, tentando se achar e se entender ao mesmo tempo em que precisa ser mãe e um exemplo e suporte para seus filhos, que se mostram distantes, nunca prontos para aceitá-la novamente em suas vidas. Existe, apesar de tudo, sua mãe, incrivelmente bem interpretada por Julie Walters, que mesmo que não apoie seu sonho, ao menos está sempre presente. Neste sentido, o final é belo e extremamente comovente. Ver Rose contando, quase como um pedido de desculpas e agradecimento é um instante sensível e maravilhoso de assistir. 


Quando Jessie Buckley canta, algo mágico acontece. Ainda que seja um filme pequeno, trata-se de uma grande vitrine para a atriz, que defende sua personagem com garra e revela uma voz surpreendentemente potente. Ela sobe no palco e, de repente, nada mais importa. Seu alcance vocal é alto e ela destrói, entregando apresentações admiráveis e digna de muitos aplausos. O diretor Tom Harper acerta a mão e nos coloca para dentro do palco ao lado dela, sentindo toda sua vibração, energia e paixão. Jessie canta com verdade, intensidade e nos faz torcer por sua jornada. Acreditamos em Rose, na sua dor, em tudo o que perdeu e todas as limitações que a vida lhe dá. Justamente por isso é tão forte ouvi-la cantar, porque é quando ela expõe todo sentimento que vive guardado e vemos honestidade ali, em cada canção, em cada novo acorde. Sua personagem tem voz e tem muito a dizer, e é sempre lindo em como diz. 

“As Loucuras de Rose” é um filme doce, de boas intenções e momentos tão adoráveis que chega a ser triste vê-lo acabar. Emociona pela forma sutil com que relata os dramas de sua forte protagonista e nos coloca ali, torcendo imensamente por suas vitórias, por alcançar os sonhos que tanto merece. Ainda que o roteiro nunca perca o bom-humor, o filme tem tons melancólicos, traz um certo amargo da realidade. É crível as soluções que encontra ao fim e comove porque nos faz pensar em tantas Rose-Lynns que existem por aí, nessas lutas interrompidas, na vida real que nos enclausura e não nos permite partir, não nos permite voar. É assim que nos lembra que o que somos não é, necessariamente, o que queremos ser, mas o que conseguimos ser. 

NOTA: 8,5



País de origem: Reino Unido, Irlanda do Norte
Título original: Wild Rose
Ano: 2019
Duração: 100 minutos
Distribuidor: Diamond Films
Diretor: Tom Harper
Roteiro: Nicole Taylor
Elenco: Jessie Buckley, Julie Walters, Sophie Okonedo



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