quarta-feira, 4 de março de 2020

Crítica: Jóias Brutas

O outro lado de Adam Sandler. 

por Fernando Labanca

“Jóias Brutas” é uma surpresa em muitos aspectos. Vai além do que esperamos de um filme e muito além do que esperamos de Adam Sandler. O ator que ganhou reputação bem ruim diante de tantas escolhas equivocadas em sua carreira vem para provar um talento raras vezes demonstrado. Ele não apenas entrega uma belíssima atuação como nos faz esquecer completamente a visão que temos dele. Sandler renasce neste papel e revela uma garra em cena admirável. Só por vê-lo fora de sua zona de conforto, a produção já valeria a pena, no entanto, este novo trabalho dos irmãos Safdie é pura catarse e merece nossa atenção por suas tantas outras qualidades. É eletrizante, intenso e uma experiência sem igual.

Sandler interpreta Howard Ratner, dono de uma joalheria e enfiado em diversas dívidas. Para contornar esta situação e se ver distante das constantes perseguições que sofre, resolve leiloar uma preciosa pedra que comprou diretamente da Etiópia. Porém, seus planos ganham uma nova trajetória, quando um de seus clientes, um astro da NBA, pega a pedra “emprestada” e Howard precisa driblar a grande confusão que ele mesmo criou e recuperar o objeto que pode ser sua única salvação. Essa jornada do protagonista é simplesmente hipnotizante. Cheio de vícios e uma habilidade em dificultar o que poderia ser simples, ele nos deixa apreensivos por seus passos tortos e aflitos por essa total ausência de controle em sua vida. 


Benny e Josh Safdie, que ganharam o respeito da crítica quando lançaram “Bom Comportamento” em 2017, retornam com um filme ainda mais completo e impactante. Há algo de muito novo no cinema deles, uma linguagem que se difere do que estamos habituados a assistir. “Jóias Brutas” é imersivo, insano e seu ritmo acelerado faz suas 2h15 minutos passarem voando por nós. Cada segundo parece ter uma informação nova e a todo instante o universo que cria parece virar de ponta cabeça. É verborrágico e nos faz rir no meio de suas tantas tragédias. É um riso nervoso, de desespero diante das cagadas de seu protagonista. Seja um plano mal elaborado, uma perseguição inquietante ou até mesmo a porta da loja em que trabalha que geralmente trava nas horas indevidas. Elementos que fazem o coração acelerar e ficar ansioso para ver tudo aquilo, em algum momento, dar certo. A direção dos Irmãos Safdies é brilhante, assim como a fantástica montagem que torna uma simples sequência em um evento vibrante e de tirar o fôlego, auxiliado por uma sempre presente e fantástica trilha sonora assinada por Daniel Lopatin. O roteiro merece destaque também, ao conseguir dar vida a tantos personagens, situações e amarrar tudo de forma coesa, mesmo no meio do caos e do turbilhão de sentimentos que expõe. 

“Jóias Brutas” acerta na composição de seu universo e nos mantém atentos do começo ao fim. Um filme muito único, divertido, revigorante e cheio de alma, de vida, de coragem. Me senti surpreendido por cada detalhe e ao fim me deixou completamente devastado e impactado por sua ousada saída. É ótimo, também, para vermos este outro lado de Adam Sandler, que distante da comédia, entrega aqui a melhor atuação de sua carreira. 

NOTA: 9,5


País de origem: EUA
Ano: 2019
Título original: Uncut Gems
Duração: 135 minutos
Distribuidor: Netflix
Diretor: Benny Safdie, Josh Safdie
Roteiro: Benny Safdie, Josh Safdie
Elenco: Adam Sandler, Lakeith Stanfield, Idina Menzel, Julia Fox


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