Clint Eastwood é um dos grandes diretores ainda ativos, e nesta última década conseguiu manter uma ótima média de quase um filme por ano, entre eles, obras marcantes como "Menina de Ouro" e "Sobre Meninos e Lobos", entre outros nem tão marcantes mas ainda assim dignos de admiração. Eis que ano passado ele surge com "Além da Vida", lançado aqui no Brasil no começo do ano, uma das apostas ao Oscar, o longa só conseguiu uma indicação à "Melhores Efeitos Especiais" e marca um dos momentos mais fracos do diretor.
por Fernando Labanca
Na trama, conhecemos três histórias paralelas, todas elas com algo em comum, a vida de três pessoas que por alguma razão tiveram uma conexão maior com a morte. George Lonegan (Matt Damon) é médium, tem o dom de ouvir os mortos além de ser vidente, mas encara isso como uma maldição em sua vida e tenta a todo custo levar uma rotina normal, fugindo daqueles que o procuram, em uma dessas tentativas entra numa classe de culinária, é onde conhece Melanie (Bryce Dallas Howard) que logo rola uma boa química entre os dois. Marie (Cécile de France) é uma jornalista francesa que numa viagem acaba se deparando com um tsunami, um acidente natural que destrói toda uma região e mata milhões de pessoas, e quando ela é salva e acorda, acredita ter tido contato com a morte, acredita ter "morrido" e por algum instante ter presenciado a vida após a morte.
Em Londres, Marcus (George/Frank McLaren) perde seu irmão gêmeo ao ser atropelado, e que por ter uma mãe com problemas de bebida, vai para uma casa de adoção e nisso se vê completamente sózinho no mundo, e tenta de diversas maneiras "reencontrar" seu irmão. E assim, essas histórias se seguem, pessoas que de certa forma tentam se reeguer, encontrar uma nova forma de vida, mas sempre em conexão com a morte.
O roteiro é do elogiado Peter Morgan, o mesmo de "O Último Rei da Escócia" e "Frost/Nixon", e ao meu ver, tem um desempenho inferior a seus outros trabalhos. Há uma premissa boa, mas que infelizmente não consegue se manter ao decorrer das duas horas de filme, tudo parece ser arrastado, não pelo fato de ter um ritmo lento, mas por falta de conteúdo mesmo para preencher todo esse tempo. A impressão que tive, é que a história termina na primeira meia hora e até seu final, o roteiro se arrasta de forma cansativa. Nenhum personagem ali em cena prende a atenção e nenhum deles possui uma trama tão interessante que nos faça querer ver o final. Final, aliás, fraco, o filme nos faz entender que haverá uma ligação muito forte entre essas pessoas, de fato, até há, mas acontece de forma morna e longe de ser impactante e surpreendente. O formato até lembra um pouco aqueles do mexicano Guillermo Arriaga dos ótimos "21 Gramas" e "Babel", mas Peter Morgan esteve longe de conseguir o mesmo feito do roteirista.
Analisando "Além da Vida" se percebe que aqueles que o criaram pouco acreditavam naquilo que reproduziam na tela, no caso, na vida após a morte, tudo acontece de forma fria, George parece achar super natural "conversar" com mortos e Matt Damon não parece acreditar naquilo que fala e em nenhum momento expressa algum tipo de rancor pelo seu dom ao mesmo tempo em que diz sentir. O mesmo ocorre com Cécile de France que não nos faz acreditar em seus diálogos, não expressa dor por ter passado por um tsunami, não expressa pesar por estar perdendo sua carreira e não demonstra acreditar naquilo que a personagem acredita, não há garra da mesma forma que a personagem deveria ter. Os jovens atores Frank e George McLaren, até que se esforçam, mas o roteiro é tão frágil que não há espaço para eles emocionarem o público, o mesmo ocorre com todos os outros personagens. Dentre os atores destaco somente Bryce Dallas Howard, que faz uma participação mais do que adorável e consegue transmitir em apenas duas cenas, emoção, que nem Matt Damon nem Cécile de France conseguiram até o final do filme.
Entretanto "Além da Vida" não é um filme descartável, ainda há as boas mãos de Eastwood, logo, cenas muito bem feitas, faltou ritmo, mas em nenhum momento me fez querer desistir de vê-lo. mas não há nem comparação com seus trabalhos anteriores. A cena do tsunami foi incrível, a participação de Bryce Dallas, marcante, entre outros pequenos momentos que de certa forma chamam a atenção, há qualidade. A sequência de Marcus e George consegue emocionar de forma bem sutil, não vai muito além, mas marca um outro bom momento do longa. A trilha sonora é fraca é por vezes de gosto duvidoso, destaque para as boas locações, fazendo deste projeto um pouco maior do que ele realmente é. Em certo momento, o personagem de Matt Damon nos diz algo como "Viver uma vida centrada na morte, não é vida", tentei me prender nesta frase para compreender melhor o filme, e acredito que "Além da Vida" não seja um filme de espiritismo como muitos apontaram, é justamente sobre isso, sobre a mania que as pessoas tem de tentar encontrar respostas na morte, usar ela como desculpa para tantas coisas, se prender nela, sendo que é na vida que encontramos as respostas que precisamos, sendo que é em vida que encontramos os motivos para permanecer aqui.
NOTA: 6
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