Vencedor do Palma de Ouro de Melhor Filme no último Festival de Cannes, "A Árvore da Vida" mostra o retorno de um dos diretores mais aclamados da indústria, Terrence Malick (Além da Linha Vermelha, Terra de Ninguém), que em quase quatro décadas de carreira, estréia seu quinto filme, apenas. O longa, também, levou cerca de quatro anos para ser editado, mostrando o aprimoramento quase que obsessivo do diretor, e na tela vemos o resultado perfeccionista e cheio de belos detalhes. "The Tree of Life" conta com Brad Pitt e a novata Jessica Chastain no elenco.
por Fernando Labanca
Texas, década de 50, conhecemos Jack (Hunter McCracken), um garoto que vive com seus dois irmãos e seus pais, a Sra. O'Brien (Jessica Chastain) que mantém uma conexão muito forte com a natureza, enxerga beleza nas coisas mais simples, além de manter um relação muito íntima com Deus. O pai (Brad Pitt) é o patriarca, gosta de provar que ele é quem manda no lar, é rígido e não aceita desrespeito às suas regras. E através do jovem e inocente olhar de Jack, veremos a rotina desta família, os conflitos com o pai, o ciúmes que mantém de seu irmão mais novo, e a vontade de querer mais atenção e ter uma relação mais profunda com o pai, a intenção de compreender Deus assim como a mãe ao mesmo tempo em que O questiona. A beleza da mãe e toda a harmonia que ela consegue transmitir, as brincadeiras no jardim, as conversas e a liberdade que sentiam na ausência da rigidez do pai.
E essa história de família vai além, desde os primórdios da história, o início de tudo, o Big Bang, passando pela evolução humana, década de 50 no Texas, anos mais tarde, a perda de um dos filhos e o desiquilíbrio emocional que se instala, até muitos anos depois, Jack (Sean Penn) perdido em sua rotina no mundo contemporâneo, tentando encontrar algum sentido para sua vida e relembrando sua jornada e tudo o que marcou para sempre em sua mente e o transformou no que ele é hoje.
"A Árvore da Vida" dá um volta enorme para contar a jornada de uma família, mas o filme vai muito além disso, mostra o quanto nossa história se iniciou muito antes do que nós lembramos, a nossa vida é só uma pequena parte na história do universo. Terrence Malick transforma a vida em poesia, é um ode a vida, ao milagre que existe e pouco percebemos, nossa árvore genealógica se iniciou muito antes, houve grandes acontecimentos para hoje estarmos vivos, logo, cada amanhecer, cada anoitecer, uma brincadeira de família, um simples abraço, uma conversa, um olhar, é tudo um pequeno pedaço de um plano maior, é um milagre. O quanto nós somos pequenos diante do universo, mas o quanto cada pequena ação de um dia pode nos marcar, o quanto as conexões que fazemos a cada dia com as pessoas que amamos nos é impostante, e uma época feliz assim como a infância pode nos definir para sempre, pode ter valido uma vida inteira.
Terrence Malick testa aqui um cinema completamente novo, fora dos padrões, não há um roteiro organizado, não há começo, meio e fim, há apenas imagens (e belas imagens) com diálogos soltos como narrações em off, são como poesias ilustradas. E digo com toda a certeza, foi uma das experiências mais profundas e emocionantes que tive numa sala de cinema este ano, é bom ver algo novo, original, mas é melhor ainda ver algo feito com tanto cuidado, com muita alma, é tudo muito sentimental, cada palavra ali parece ter sido selecionada e feita para mexer com o público, faz com que nos emocionemos em cenas simples como um simples almoço de família, é tocante, é um projeto único, feito com verdade, para ser refletido e ser levado em nossas memórias durante muito tempo.
O visual é fantástico, fiquei realmente sem palavras, visualmente falando, o filme mais lindo de 2011 até agora, cada imagem ali é de tirar o fôlego, é tudo muito belo, as cores, o modo como a câmera as captura, é surreal. Fotografia impecável. Para aprimorar nada melhor que uma boa trilha sonora, Alexander Desplat foi o selecionado e fez, digamos, um trabalho excepcional.
O longa peca por distanciar o público em várias passagens, como uma longa sequência nos mostrando detalhadamente a evolução humana, praticamente estava diante de um documentário ciêntífico, quase me esqueci que havia uma história acontecendo ali, acredito que tenha sido um grande erro, desiquilibra o que estava ótimo, quebra o clima totalmente. Além de vários diálogos soltos que temos que deduzir quem é o destinatário, é feito de forma interessante e bastante bonita, confesso, mas nem sempre funciona. Mas o pior de todos os erros, foi a inserção de Jack adulto, na pele de Sean Penn, o personagem não faz o menor sentido, aparece em algumas cenas, não fala, e parece completamente perdido, deslocado, não há como compreender sua existência, até mesmo o próprio ator confessou recentemente que não entendeu sua presença no filme.
Não há o que comentar de Sean Penn, lamentável. Brad Pitt, por sua vez, constrói um personagem interessante, mas longe de ter uma grande atuação, faz muito bem, mas nada surpreendente. O destaque fica para os novatos, a bela Jessica Chastain está irretocável, brilha assim como a trilha sonora e as imagens surreais, está perfeita, convense como a mãe dedicada e esposa submissa, há tanta beleza e leveza em seu olhar, enfim, fantástica. O jovem Hunter McCracken é quase que um protagonista, é ele quem vai nos guiando, há muito força neste pequeno ator, como há poucos diálogos, os sentimentos se prendem no olhar, e seu olhar é poderoso, consegue transmitir os sentimentos um tanto quanto complexos de Jack.
"A Árvore da Vida", mais uma vez, é um filme belo, tanto no visual, quanto no roteiro, nas atuações, na trilha sonora, enfim, um conjunto de elementos em estado perfeito capaz de criar uma das obras mais marcantes do ano. Terrence Malick faz um incrível trabalho, me lembou por muitas cenas o cinema de Stanley Kubrick, principalmente em "2001: Uma Odisséia no Espaço", desde a riqueza de detalhes, ao silêncio, a lentidão, a perfeição. Há sim seus erros, mas são pequenos no meio de tantos acertos. Um projeto poderoso, grandioso, que fala sobre a vida e todos seus desdobramentos, sua complexidade, sua intensidade, seus mistérios, seus milagres, e sobre os caminhos que seguimos, no caso, o diretor nos apresenta dois: o caminho da graça, o dom de Deus e da natureza, a vida terrena. Recomendo, um filme memorável.
NOTA: 9
Camino a ser un filme de colección. Me gusto mucho el mensaje que transmite la película.
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