A cada ano a Disney Pixar lança um filme e sempre carrega junto de si aquela expectativa no público e a dúvida se o próximo projeto será tão bom quanto os anteriores, logo que a empresa é responsável por verdadeiras obras-primas nos últimos anos, como "Toy Story", "Wall-e" e "Up". E depois de um sucesso atrás do outro sempre veio a pergunta, até quando eles reinariam? E "Valente" vem ao cinema como a prova de que infelizmente a Pixar não passar por sua melhor fase, carente de um bom roteiro, carente, por incrível que pareça, de inteligência e criatividade, itens que estiveram presentes em todos os filmes e que devido a eles nos afeiçoamos às suas animações.
por Fernando Labanca
A Disney desde muito tempo foi aquele estúdio que nos apresentou um mundo lúdico dos contos de fadas, o universo das princesas, dos reis e rainhas. Com um cenário medieval, mais precisamente, uma antiga Escócia, a Pixar retorna ao universo das princesas, entretanto com um tempero a mais, temos como heroína a princesas Merida, aquela que vai contra os padrões, que não aceita aquele velho destino de qualquer filha de um grande reino, casar e ser líder, agir como uma mulher respeitada, seguir ordens. Para seu desespero, Merida conta com a ajuda de sua mãe, que se mantém ao seu lado para lhe dar ordens e ditar tudo e como ela deve ou não deve agir. Eis que Elinor, sua mãe, decide realizar um torneio, colocando três primogênitos de três reinos diferentes, para que disputem a mão de Merida, que não aceita e decide lutar pela própria mão. Como último ato de querer fugir daquilo que já lhe estava pré-estabelecido, ela encontra uma poção mágica capaz de mudar sua mãe e como consequência, seu destino.
A premissa de "Valente" é ótima, não há como discutir isso, reconstruindo o universo clássico de uma princesa, lhe atribuindo características novas, Merida é de fato, uma personagem interessante, jovem, querendo viver a vida e não simplesmente aceitar sua vidinha comum. A relação que ela tem com a mãe fortalece ainda mais a idéia, quando a rainha vai contra a tudo o que sua filha diz, jamais aceitando suas atitudes, muito comum numa relação mãe-filha. O filme ganha força neste momento, mas é logo destruído quando de repente, muda seu foco e a trama segue por um caminho não tão óbvio, mas muito sem graça. O filme começa com um torneio que tinha tudo para ser interessante, homens disputando por aquilo que a protagonista jamais entregaria, é então que o roteiro simplesmente ignora esses fatos iniciais e segue mais no drama familiar, o grande problema é que para revelar esses conflitos, eles transformam a mãe num urso e pronto, a porta para o fiasco é aberta e a trama vai decaindo a cada passo que segue. Quando soube que a história seria centrada nesta relação entre as duas, isso me animou, mas acabou sendo decepcionante. Os conflitos entre Merida e Elinor são facilmente resolvidos, sem um grande momento, sem grandes inovações, longe do que conhecemos dos roteiros da Pixar. A trama ainda reserva um espaço para o humor que não faz rir e se mostra pobre e por vezes forçado, além de uma forjada aventura, aquela mostrada nos trailers, onde tudo se resume a princesa correndo com seu cavalo por cenários limitados, sem ter que enfrentar nenhum perigo ou nenhum obstáculo, tudo muito rápido, muito fácil, que não diverte e nem empolga.
O que chama mesmo a atenção em "Valente" é seu visual, a cada ano as técnicas em animação se mostram ainda mais aprimoradas e o filme revela um nível assustador, desde os cenários bastante realistas, aos riquíssimos detalhes dos personagens. É claro que o que mais se destaca é o tão comentado cabelo da protagonista. É simplesmente belo, extremamente bem feito, mas chega a ser um grande problema quando o grande atrativo do filme é o cabelo da personagem e não as "aventuras" que ela está vivendo. A trilha sonora ajuda a compor a trama, composta por Patrick Doyle, ele realiza um trabalho bom, mas que não vai além do que se espera de uma história medieval, nada que fique na cabeça ao seu término.
"Valente" vale por seu visual, apenas. Parece um exercício do estúdio para treinar e mostrar o quão a animação está avançada, mas dessa vez, bem diferente do que a Disney Pixar realizou nos últimos anos, acabou deixando a inteligência e um bom roteiro de lado, optando por caminhos fáceis e sem nenhuma criatividade. E no fim, a sensação que fica é que ele vai contra a tudo o que desenvolveu em sua premissa, a liberdade daquela jovem e aquela ousadia de querer fazer as coisas diferentes, fugir do padrão, tudo parece errado em seu final, pois toda a desgraça que acontece entre a família foi causada por sua ousadia, o que podemos concluir disso? Faça tudo o que te mandam fazer, não fuja dos padrões. Pois bem, a Pixar resolveu pôr isso em prática e fez exatamente o que a trama dizia, não ousou, não arriscou e nisso, acabou realizando seu mais fraco trabalho, longe de ser lamentável, o filme tem suas qualidades, é bem feito e isso é inegável, no entanto se mostra limitado demais, pequeno demais, fraco para um estúdio que nos provou que tudo era possível.
NOTA: 6
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