quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Crítica: Invocação do Mal (The Conjuring, 2013)

Se em 2004, James Wan, até então desconhecido, surpreendeu com sua estreia em “Jogos Mortais”, revitalizando o gênero na época, este ano, ele prova que não fora apenas uma sorte de principiante, é um talentoso diretor e agora, com o lançamento de “Invocação do Mal” ele se firma como um dos novos mestres do terror. Com roteiro bem elaborado e com aquele velho e bom sentimento de medo e tensão, que há muito tempo não se via, o filme é, um dos melhores exemplares do gênero dos últimos anos.

Por Fernando Labanca

Com o selo “baseado em fatos reais” a trama já ganha um certo peso e uma certa expectativa também. O filme narra o que ele mesmo definiu como o caso mais assustador e mais difícil de Ed e Lorraine Warren, casal de investigadores paranormais, que na década de setenta vão parar no interior dos Estados Unidos para ajudar uma família aterrorizada com estranhos acontecimentos em uma casa de campo, onde logo comprovam a presença de uma entidade maligna. Carolyn (Lili Taylor) e Roger (Ron Livingston) são pais de cinco meninas e vão morar neste local afastado e não demoram muito até perceberem que há algo de muito errado ali, é então que sem mais o que fazer, Carolyn entra em contato com Ed e Lorraine para que os livrem do mal que estão enfrentando.


A mansão mal assombrada afastada da cidade, uma família feliz que logo descobre que não estão sozinhos. De início, “Invocação do Mal” até aparenta ser mais do mesmo, nos dando sempre a sensação de que já vimos aquele filme antes. Entretanto a direção diferenciada e o roteiro extremamente bem escrito logo nos provam o contrário, estamos diante de algo novo, mesmo que em pequenos detalhes, mas são esses detalhes que fazem da obra uma raridade, e mesmo se utilizando de uma ideia tão clichê e mesmo nunca fugindo daquilo que esperamos,  James Wan reformula o modo de trazer o medo ao expectador, reformula a maneira como tudo acontece ali na trama, facilmente se diferenciando de tudo o que tem sido feito nos últimos anos dentro do gênero.

O medo e a tensão não surgem de maneira óbvia, como nos insistentes “Atividade Paranormal”, a câmera e a trilha sonora não ficam nos entregando o que não há, não manipula, não diz ao público: “fiquem atentos porque agora vai acontecer alguma coisa assustadora!”. O terror surge naturalmente, em cada cena, em cada nova informação que surge, o medo vai se inserindo, aquele clima pesado, e logo ficamos aterrorizados com tudo o que vemos e ouvimos.  James Wan sabe muito bem como brincar com seu público, como conduzir o suspense, desde aparições aterrorizantes que até poderão ficar na cabeça dos mais fracos até um simples barulho atrás da porta que nos faz ficar de olho atento à tela. Sustos também não faltarão, a diferença é que aqui o susto não é a única arma que utilizaram para prender a atenção daquele que assiste. Além das diversas sensações que provoca em seu público, “Invocação do Mal” parece trazer ainda aquele sentimento nostálgico de como é bom ver um filme de terror no cinema, um bom filme de terror, resgata através de suas referências, desde Hitchcock à "O Exorcista" de William Friedkin, aquele jeitão antigo de se trabalhar com o medo. E por ser um filme de época, esta impressão se acentua, que aliás, belíssima composição dos anos setenta, desde os cenários, figurinos e equipamentos, que de certa forma, embelezam a obra e dão um charme a mais à sua composição.

Dentre tantos pontos positivos, o grande mérito do filme foi a construção de seus personagens. Mais um ponto para a obra, pois é o tipo de “detalhe” que nunca se preocupam em filmes de terror. Pode parecer pequeno demais, até porque quem vai assistir não está tão preocupado com isso, querem mais é se assustar. Porém, ao decorrer da trama, fica nítido que a maneira como eles nos apresentaram os personagens e a maneira como eles são construídos dentro da história faz toda a diferença. Saber que Carolyn e sua família são pessoas como nós, que se amam, que se preocupam com cada membro, saber que Ed e Lorraine são pessoas reais, não apenas ícones da investigação paranormal, que sofrem, que se incomodam com o que veem, enfim, o modo como o roteiro vai trabalhando essas relações afetivas entre os indivíduos, consegue trazer um realismo maior a trama, nos faz parar para pensar e nos colocar no lugar deles, e se fosse nossa família ali naquele lugar? Esse realismo trás em nós um medo maior, a trama se torna mais impactante, as situações se tornam mais incômodas.  E assim, James Wan consegue também, transitar muito bem para o drama, não parecendo forçado, mostrando com delicadeza essas relações, e são nessas relações que tornam a obra mais crível e de certa forma, mais adorável também. E por falar em gêneros, o filme ainda, para minha surpresa, sabe ser cômico sem ser trash, inserindo humor quando menos se espera e de forma inteligente.

O elenco é dos bons, Patrick Wilson e Vera Farmiga como o casal Warren estão ótimos, como sempre, aliás, elogiar o trabalho de Farmiga é como chover no molhado, uma atriz que sempre se supera. Ron Livingston e as meninas que interpretam as filhas trazem naturalidade e uma boa sintonia em cena e se entregam nos momentos de terror. Mas quem acaba se destacando mesmo é Lili Taylor, conhecida por sua carinha assustada em “A Casa Amaldiçoada” de 1999, ela realiza um trabalho notável aqui, oscilando bem entre a coragem e a fragilidade de sua personagem.

Por outro lado, “Invocação do Mal” não consegue fugir das armadilhas do gênero ao todo, os roteiristas souberem muito bem como trabalhar com os clichês, mas eles existem, estão lá e em grande quantidade, ora bem conduzidos ora caem na mesmice, como em seu final ingênuo. Enfim, não é perfeito, mas nos últimos anos, foi o filme que mais chegou perto de tal definição dentro do terror, não que ele seja genial, mas dentre tantos fiascos que surgem por aí, a obra se destaca. Se desejar ver um bom filme que assuste, tenso, que te faz ficar vidrado e aterrorizado com as sequências, que te faz não querer o escuro por um tempo,  escolha este, há todos os elementos clássicos em cena e conduzidos muito bem por este competente diretor. O cinema estava mesmo precisando de uma nova referência, finalmente um filme do gênero que vale a pena sentar e esperar até seu final, a boa expectativa é recompensada. Não é exagero dizer que este é o melhor terror do ano. Recomendo.

NOTA: 8,5




País de origem: EUA
Duração: 112 minutos
Elenco: Lili Taylor, Vera Farmiga, Patrick Wilson, Ron Livingston
Diretor: James Wan
Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes


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