Se em 2004, James Wan, até então desconhecido, surpreendeu
com sua estreia em “Jogos Mortais”, revitalizando o gênero na época, este ano,
ele prova que não fora apenas uma sorte de principiante, é um talentoso diretor
e agora, com o lançamento de “Invocação do Mal” ele se firma como um dos novos mestres do terror. Com roteiro bem elaborado e com aquele velho e bom sentimento de
medo e tensão, que há muito tempo não se via, o filme é, um dos melhores
exemplares do gênero dos últimos anos.
Por Fernando Labanca
Com o selo “baseado em fatos reais” a trama já ganha um
certo peso e uma certa expectativa também. O filme narra o que ele mesmo
definiu como o caso mais assustador e mais difícil de Ed e Lorraine Warren,
casal de investigadores paranormais, que na década de setenta vão parar no interior dos Estados
Unidos para ajudar uma família aterrorizada com estranhos acontecimentos em uma casa de campo, onde logo comprovam a presença de uma entidade maligna. Carolyn
(Lili Taylor) e Roger (Ron Livingston) são pais de cinco meninas e vão morar
neste local afastado e não demoram muito até perceberem que há algo de muito
errado ali, é então que sem mais o que fazer, Carolyn entra em contato com Ed
e Lorraine para que os livrem do mal que estão enfrentando.
A mansão mal assombrada afastada da cidade, uma família
feliz que logo descobre que não estão sozinhos. De início, “Invocação do Mal”
até aparenta ser mais do mesmo, nos dando sempre a sensação de que já vimos
aquele filme antes. Entretanto a direção diferenciada e o roteiro extremamente
bem escrito logo nos provam o contrário, estamos diante de algo novo, mesmo que
em pequenos detalhes, mas são esses detalhes que fazem da obra uma raridade, e
mesmo se utilizando de uma ideia tão clichê e mesmo nunca fugindo daquilo que
esperamos, James Wan reformula o modo de
trazer o medo ao expectador, reformula a maneira como tudo acontece ali na
trama, facilmente se diferenciando de tudo o que tem sido feito nos últimos
anos dentro do gênero.
O medo e a tensão não surgem de maneira óbvia, como nos
insistentes “Atividade Paranormal”, a câmera e a trilha sonora não ficam nos
entregando o que não há, não manipula, não diz ao público: “fiquem atentos
porque agora vai acontecer alguma coisa assustadora!”. O terror surge naturalmente,
em cada cena, em cada nova informação que surge, o medo vai se inserindo,
aquele clima pesado, e logo ficamos aterrorizados com tudo o que vemos e
ouvimos. James Wan sabe muito bem como
brincar com seu público, como conduzir o suspense, desde aparições aterrorizantes
que até poderão ficar na cabeça dos mais fracos até um simples barulho atrás da
porta que nos faz ficar de olho atento à tela. Sustos também não faltarão, a
diferença é que aqui o susto não é a única arma que utilizaram para prender a
atenção daquele que assiste. Além das diversas sensações que provoca em seu
público, “Invocação do Mal” parece trazer ainda aquele sentimento nostálgico de
como é bom ver um filme de terror no cinema, um bom filme de terror, resgata
através de suas referências, desde Hitchcock à "O Exorcista" de William Friedkin,
aquele jeitão antigo de se trabalhar com o medo. E por ser um filme de época,
esta impressão se acentua, que aliás, belíssima composição dos anos setenta,
desde os cenários, figurinos e equipamentos, que de certa forma, embelezam a
obra e dão um charme a mais à sua composição.
Dentre tantos pontos positivos, o grande mérito do filme foi
a construção de seus personagens. Mais um ponto para a obra, pois é o tipo de “detalhe”
que nunca se preocupam em filmes de terror. Pode parecer pequeno demais, até
porque quem vai assistir não está tão preocupado com isso, querem mais
é se assustar. Porém, ao decorrer da trama, fica nítido que a maneira como eles
nos apresentaram os personagens e a maneira como eles são construídos dentro da
história faz toda a diferença. Saber que Carolyn e sua família são pessoas
como nós, que se amam, que se preocupam com cada membro, saber que Ed e
Lorraine são pessoas reais, não apenas ícones da investigação paranormal, que
sofrem, que se incomodam com o que veem, enfim, o modo como o roteiro vai
trabalhando essas relações afetivas entre os indivíduos, consegue trazer um
realismo maior a trama, nos faz parar para pensar e nos colocar no lugar deles,
e se fosse nossa família ali naquele lugar? Esse realismo trás em nós um medo
maior, a trama se torna mais impactante, as situações se tornam mais
incômodas. E assim, James Wan consegue
também, transitar muito bem para o drama, não parecendo forçado, mostrando com
delicadeza essas relações, e são nessas relações que tornam a obra mais crível
e de certa forma, mais adorável também. E por falar em gêneros, o filme ainda,
para minha surpresa, sabe ser cômico sem ser trash, inserindo humor quando
menos se espera e de forma inteligente.
O elenco é dos bons, Patrick Wilson e Vera Farmiga como o
casal Warren estão ótimos, como sempre, aliás, elogiar o trabalho de Farmiga é como chover no molhado, uma atriz que sempre se supera. Ron Livingston e as meninas
que interpretam as filhas trazem naturalidade e uma boa sintonia em cena e se entregam nos momentos de terror. Mas quem acaba se destacando mesmo é
Lili Taylor, conhecida por sua carinha assustada em “A Casa Amaldiçoada” de
1999, ela realiza um trabalho notável aqui, oscilando bem entre a coragem e a
fragilidade de sua personagem.
Por outro lado, “Invocação do Mal” não consegue fugir das
armadilhas do gênero ao todo, os roteiristas souberem muito bem como
trabalhar com os clichês, mas eles existem, estão lá e em grande quantidade,
ora bem conduzidos ora caem na mesmice, como em seu final ingênuo. Enfim, não
é perfeito, mas nos últimos anos, foi o filme que mais chegou perto de tal
definição dentro do terror, não que ele seja genial, mas dentre tantos fiascos
que surgem por aí, a obra se destaca. Se desejar ver um bom filme que assuste, tenso, que te faz ficar vidrado e aterrorizado com as sequências, que te faz não querer o escuro por um tempo, escolha
este, há todos os elementos clássicos em cena e conduzidos muito bem por este
competente diretor. O cinema estava mesmo precisando de uma nova referência,
finalmente um filme do gênero que vale a pena sentar e esperar até seu final, a boa expectativa é recompensada. Não é exagero dizer que este é o melhor terror
do ano. Recomendo.
NOTA: 8,5
País de origem: EUA
Duração: 112 minutos
Elenco: Lili Taylor, Vera Farmiga, Patrick Wilson, Ron Livingston
Diretor: James Wan
Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes
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