Continuação da obra de 2011, desta vez sob a direção de Matt Reeves (Cloverfield, Deixe-me Entrar), o filme surpreende, não só por ser melhor que o primeiro - que já era ótimo - mas por ir muito além do que esperamos de uma sequência. É um blockbuster que se difere de tudo o que tem se produzido em Hollywood, mais do que efeitos especiais de qualidade, o que vemos é algo impactante, um roteiro bem elaborado, que finalmente consegue construir personagens marcantes, que nos prende e nos faz sentir diversas sensações. "O Confronto" chegou aos cinemas sem muitas pretensões e acabou se firmando com umas das melhores surpresas do ano, que diverte sem jamais subestimar seu público.
por Fernando Labanca
Dez anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, o vírus criado no laboratório se espalhou pelo mundo e devastou grande parte da população devido à conhecida "gripe símia". Os macacos, liderados por César, convivem em harmonia numa floresta próxima à San Francisco. Eis que um grupo de sobreviventes surge no local, decididos a reativar uma antiga usina para levar energia para o resto dos humanos. Com isso, ele passam a conviver com os símios, construindo uma relação de confiança. Os conflitos começam a surgir quando nem todos os humanos acreditam no estranho clima amistoso daquela comunidade, e nem todos os macacos acreditam que aquelas pessoas sejam capazes de criar alguma relação pacífica, sem a intenção de uma batalha por território. Assim pensa Koba, um dos símios, que não aceita a amizade de César com os sobreviventes e não aceita que humanos invadam seu espaço, sempre acreditando que para a evolução de uma raça seria necessário a extinção da outra.
O roteiro de "O Confronto" é primoroso e diferente de qualquer outro blockbuster lançado nos últimos anos, não apressa sua trama, dá tempo ao tempo, sem colocar ação e explosões na nossa cara sem nem ao menos dizer o porquê. Sua história nasce aos poucos, e mesmo se tratando de uma sequência, não evita explicações; Reconhece que existe um universo novo ali retratado e nos insere perfeitamente dentro dele, sempre se dividindo nas duas sociedades ali apresentadas, a dos humanos e como eles lutam por sobrevivência e a dos macacos e este surpreendente processo de humanização que enfrentam. E esta ampla visão que a obra nos oferece é crucial para seu desenvolvimento, ao conhecermos os dois lados e esta possibilidade do confronto entre as duas raças, tudo se torna mais interessante e este clima de medo e insegurança, que nasce deste futuro incerto, nos acompanha a cada instante. Não existe o lado bom nem o lado ruim, como é de costume em tramas como esta. Nos dois grupos há aqueles que promovem o caos, que agem de acordo com sua própria conduta, seguindo sua própria crença do que é certo. Há, também, seres frágeis, e ao adentrarmos nesta fragilidade e nesta sensação de vulnerabilidade que acompanha ambos os lados, sabemos o quão tudo pode dar errado, o quão suas ações, movidas pelo medo daquilo que desconhecem, serão trágicas. Tão bem escrito e tão bem elaborado, "O Planeta dos Macacos - O Confronto" é mais um daqueles casos que usam da ficção para estudar a realidade, sendo um poderoso estudo sobre os humanos, relatando de maneira densa e inteligente as falhas desta raça.
Outro ponto bem interessante no longa foi na construção de seus protagonistas. Se César já era incrível na primeira parte, o colocam, desta vez, ainda mais acima, o transformando em um personagem memorável, que nos faz torcer e sofrer de forma intensa; Um herói que nos inspira e nos faz ficar ali, vidrados em cada palavra que diz. Andy Serkis realiza um trabalho realmente digno de elogios, sua força em cena vai muito além de um bom efeito especial. Outra grande surpresa foi Koba, um dos "vilões" da trama. Havia muito tempo em que não escreviam um vilão como este, sua presença nos enche de ódio e um certo pavor. Além dos humanos e coadjuvantes que são muito bem inseridos na história, e o brilhante roteiro consegue amarrar bem essas relações entre os personagens, e como as atitudes de cada um, seja de um gesto de amor, medo ou rancor tem o poder de levar a trama para um outro caminho, sempre se aprofundando, surpreendendo e levando à obra à níveis cada vez mais complexos. Do restante do elenco, Jason Clarke manda muito bem como o líder dos sobreviventes, há uma constante fúria em seu olhar, Keri Russell, Gary Oldman e Kodi Smit-McPhee, como sempre, competentes.
Matt Reeves, como diretor, nos entrega um filme poderoso, sem jamais colocar na tela soluções óbvias como qualquer outro blockbuster. Poderia ter sido só mais uma boa sequência, mas ele preferiu nos entregar um filme único, marcante, que alcança momentos épicos e explora da melhor forma todas as possibilidades de sua trama. Exige o melhor de seus personagens e consegue, com maestria, colocar o público dentro do universo criado. De fato, "Planeta dos Macacos - O Confronto" é uma montanha-russa de sensações, que vai do ódio à tensão, do medo à comoção, que diverte e emociona, principalmente com seus diálogos, escritos com uma nítida sensibilidade. Um filme que parece crescer a cada novo instante, vai se tornando cada vez melhor, mais instigante, sem jamais deixar de entreter, alcançando um grande clímax ao seu final, dando ainda um gosto de quero mais. Vale destacar a incrível trilha sonora, composta pelo premiado Michael Giacchino. Na tela, tudo é tratado com seriedade e maturidade e por isso se difere e tanto do que tem sido produzido pelo cinemão de Hollywood. Sem piadas fora de hora, sem encheção de linguiça e sem naves explodindo a cada segundo, finalmente me deparei com um "produto de entretenimento" que não insulta seu público, que prova que é possível se divertir sem precisar desligar o cérebro, e prova também, que efeitos especiais - no qual atinge a perfeição - quando usados com propósito podem resultar em obras de extrema qualidade. Recheado de sequências eletrizantes e com um suspense de tirar o fôlego, vemos aqui um filme poderoso, inteligente. Desde já, um dos melhores do ano.
NOTA: 9,5
País de origem: EUA
Duração: 130 minutos
Distribuidor: Fox Filmes
Elenco: Andy Serkis, Jason Clarke, Keri Russell, Gary Oldman, Kodi-Smit McPhee
Diretor: Matt Reeves
Roteiro: Amanda Silver, Mark Bomback, Rick Jaffa
Revi o filmes esses dias, ótima crítica e escrita! Pontuou bem as características do filme, amei
ResponderExcluirÉ realmente um ótimo filme, Kannanda! Que bom que gostou da crítica tbm...agradeço o comentário!
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