quinta-feira, 16 de julho de 2015

Crítica: O Ano Mais Violento (A Most Violent Year, 2014)

Sendo apenas o terceiro filme de J.C. Chandor, que dirigiu anteriormente "Margin Call" (2011) e "Até o Fim" (2013), vemos aqui mais uma prova de que seu nome é um dos mais promissores do cinema atual. Ignorado nas grandes premiações de 2015, "O Ano Mais Violento" é uma daquelas obras quase que irretocáveis, que se torna um deleite cinéfilo, ao oferecer uma história interessante e um primoroso visual. 

por Fernando Labanca

A trama acontece no ano de 1981 em Nova York, época em que os gangsters dominavam os negócios e construíam seus reinados através de métodos não muito louváveis. É neste cenário em que Abel Morales (Oscar Isaac), que herdou de seu sogro uma empresa no setor de combustíveis, tenta se erguer, sempre com a ajuda de sua esposa Anna (Jessica Chastain), como um dos melhores empresários no ramo, passando a investir muito dinheiro para conseguir uma área onde poderia armazenar seu produto. Alvo forte de seus concorrentes, tudo começa a se desestabilizar quando uma série de assaltos e ameaças começam a ocorrer contra seus funcionários, além da pressão que sofre pelo promotor (David Oyelowo) que decide iniciar uma investigação sobre seu negócio. E dentre tantos obstáculos, Abel tenta se manter limpo, honesto, sempre distante de tudo aquilo que vai contra sua moral.


"O Ano Mais Violento" é aquele tipo de filme que caminha lentamente, que demora a dizer suas reais intenções. O roteiro, vai aos poucos, construindo seu personagem, seus ideais, seus planos e a época em que vive. Entregando uma base muito sólida sobre o universo retratado, todos esses itens que apresenta, sem pressa, são essenciais para a compreensão de tudo. Alguns poderão até desistir no meio do caminho, no entanto, poderá haver aqueles como eu, que se sentirão extremamente envolvidos por cada assunto que trata, pela forma como apresenta seus temas, com toda sua seriedade e elegância, que fascina, que instiga. J.C. Chandor acerta e muito em toda sua composição, criando um clima tenso que nos prende, onde sua trama vai crescendo, se tornando, cada vez mais sufocante. Acompanhamos este incrível personagem, que veio de outro país e tenta se consolidar no reino dos lobos, no entanto, sua lealdade e seus próprios princípios o impedem de ser como todos eles. A obra é basicamente sobre isso, deste homem tentando ser justo em uma sociedade que não é mais, em um momento onde os indivíduos usam da violência e corrupção para alcançar o que almejam. É belo e muito interessante seus discursos, de sua coragem de olhar nos olhos dos que o traem, de buscar ter orgulho de si mesmo, de ser o melhor através de seus méritos. Seu único medo não é descobrir que precisa ser um gangster para vencer, pois este risco ele não corre, seu medo maior é fracassar e descobrir, no final, que seus esforços não foram recompensados.

"When it feels scary to jump, that is exactly when you jump. 
Otherwise you end up staying in the same place your whole life."

O que torna obra tão atraente, é este cuidado meticuloso sobre a época, sobre suas locações e todas as soluções visuais e narrativas que J.C.Chandor encontra para levar sua trama ao público. Ele consegue criar uma atmosfera densa, conflituosa, seja por suas cores frias, seja pelo seu ritmo desacelerado e sua seriedade, remetendo a filmes como "O Poderoso Chefão" de Francis Ford Coppola, e sinceramente, não acho que seja um exagero compará-los. Sua direção é de extrema eficiência, entregando sequências belíssimas, com seus enquadramentos calculados e uma excelente fotografia. A direção de arte só enaltece este brilhante trabalho, os cenários, objetos de cena e os ótimos figurinos que nos levam de volta à década de oitenta. A trilha sonora composta por Alex Ebert foi o detalhe que menos me agradou na produção, havia momentos em que o silêncio teria sido mais eficiente. O elenco também se destaca, Oscar Isaac surpreende, construindo um protagonista forte, melhor ainda quando ele divide a cena com a sempre fantástica Jessica Chastain, se mostrando, mais uma vez, uma coadjuvante de ouro, aliás, sua personagem Anna é intrigante. Enigmática, ela seduz seu marido a fazer o que deseja, sempre visando sua riqueza e seus próprios interesses.

Apesar do título se referir a um ano, acompanhamos, na verdade, um trecho específico na vida de um homem. No entanto, este pequeno trecho, tem mais do que o intuito de ser um retrato de um ano, de uma época, por fim, passa a ser o retrato, triste e extremamente realista da nossa atual sociedade, ou sobre o processo que trouxe a humanidade até aqui. J.C. Chandor aproveita, também, para criticar o modo como o tal famoso "sonho americano" foi construído, aliás, de forma bastante irônica, ao colocar um imigrante como protagonista, que busca por sua "americanização". "O Ano Mais Violento" termina e deixa, além de boas reflexões, um vazio com sua trama fria, e de certa forma, melancólica e descrente. Um filme poderoso que precisa ser visto!

NOTA: 9



País de origem: EUA
Duração: 125 minutos
Distribuidor: Paris Filmes
Diretor: J.C. Chandor
Roteiro: J.C. Chandor
Elenco: Oscar Isaac, Jessica Chastain, David Oyelowo, Albert Brooks, Alessando Nivola




2 comentários:

  1. Acredito que “O Ano Mais Violento” nada mais é que uma metáfora sobre o destino. Por mais que tenhamos consciência do caminho que estamos seguindo, este nunca vai depender unicamente de nossas decisões ou escolhas. Pois esses caminhos se divergem, se cruzam e muitas vezes desaparecem. Cabe a nós decidir, entre esperar que ele seja refeito ou buscar vias alternativas, quem responde isso é os valores que movem o mercado, sejam eles seus ou daqueles que contigo estão jogando.
    Escrevi mais aqui: http://luiztonon.blogspot.com.br/2016/07/o-ano-mais-violento.html

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    1. Valeu pelo comentário, Andre! Gostei do seu ponto de vista sobre o filme, não tinha o visto muito por este lado, mas faz sentido e com certeza é uma interpretação válida

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