terça-feira, 21 de novembro de 2017

Crítica: Blue Jay (2016)

Filme independente escrito e estrelado por Mark Duplass, "Blue Jay" relata o reencontro amargo de um ex-casal depois de anos separados.

por Fernando Labanca

"Blue Jay" é um projeto bem interessante e mais uma pérola lançada - e perdida - na Netflix, que merece ser encontrada. Produzido pelos irmãos Duplass, Jay e Mark se tornaram dois nomes de respeito quando se trata do cinema independente norte americano. Com um texto primoroso e de extremo bom gosto, temos aqui um drama com leves pitadas de humor que dialoga muito com o que somos. E na história daquele casal retratado vemos um pouco de nós ali. Um filme intimista, de pequenas ideias e situações que ocorrem em pequenos espaços. E sua coloração em preto e branco não só acentua a seriedade de seus temas, como torna sua história de amor em algo frio, mesmo acontecendo em um lugar tão aconchegante, acolhedor.


Namorados na adolescência, um evento acabou por separar às vidas de Jim (Duplass) e Amanda (Sarah Paulson), eis que alguns anos depois, sem que planejassem, acabam se reencontrando na cidade que um dia viveram juntos. Agora adultos, a conversa daquela inusitada aproximação acaba fluindo, é quando decidem passar algumas últimas horas juntos, revivendo situações do passado e resolvendo questões não acabadas que jamais tiveram a chance de um fim.

Apesar de tratar sua trama com bom humor, "Blue Jay" é um filme melancólico. Doce, agradável de ver e ouvir, mas ainda assim, triste. Um encontro amargo de dois seres adultos e nostálgicos, que veem a felicidade no passado e se questionam quando foi que tudo mudou, quando foi que a vida se tornou tão difícil e tão séria. Quando foi que perderam a coragem de chorar por qualquer motivo e se viram obrigados a parecerem fortes diante de situações que tanto os destroem. Neste sentido, seu final é lindo, milagroso. Nos enche de dor, mas um certo alívio também. O exato instante em que Amanda se liberta e deixa suas lágrimas escorrerem é muito sensível e muito humano também. É bonito e fácil se identificar com esse descontentamento dos personagens, neste sentimento de frustração que os define, que compreendem que tudo está certo em suas vidas, mas a tristeza está lá, intrínseca em suas ações, às vezes sem razão para estar.

É um presente dos bons ver Sarah Paulson e Mark Duplass dividindo a cena. São dois grandes personagens e chega a ser comovente a maneira como são defendidos pelos atores. Os diálogos que trocam durante o filme são deliciosos, mesmo quando discutem inutilidades da vida e relembram memórias  da qual não tivemos acesso, porque durante aqueles preciosos minutos passamos a conhecê-los a fundo, das qualidades aos piores defeitos. É belo a natural comoção de Duplass diante das conversas corriqueiras e Paulson é dona de um talento admirável, mesmo que em uma atuação mais contida do que vem mostrando na TV recentemente, não deixa de oferecer uma performance notável, marcante. Apesar da simplicidade, "Blue Jay" é uma obra tocante, profunda e incrivelmente adorável de acompanhar. Um excelente achado.

NOTA: 8


País de origem: EUA
Duração: 80 minutos
Distribuidor: Netflix
Diretor: Alex Lehmann
Roteiro: Mark Duplass
Elenco: Mark Duplass, Sarah Paulson



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