quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Crítica: A Guerra dos Sexos (Battle of The Sexes, 2017)

Depois do sucesso indie "Pequena Miss Sunshine" (2006), os diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris retornam em mais um filme agradável, que além de trazer excelentes atuações de Emma Stone e Steve Carell, debate na tela um assunto de extrema relevância: a igualdade entre os sexos.

por Fernando Labanca

Acho sempre curioso quando o cinema aborda essas histórias que aconteceram no passado, mas que estão diretamente ligadas aos tempos de hoje. Apesar de acontecer na década de 70, "A Guerra dos Sexos" fala muito sobre os dias atuais e sobre um tema que ainda muito se discute, trazendo uma verdade que às vezes muitos preferem ignorar, a discrepância existente na remuneração entre homens e mulheres no ambiente de trabalho, quando realizam exatamente a mesma função. É triste pensar que esta é uma batalha ainda não ganha, no entanto, o longa traz este viés inspirador e esperançoso. Nos faz acreditar que estamos no caminho, que existem pessoas lutando por isso e é incrível ver a jornada real da tenista Billie Jean King e como, em um ato de extrema coragem, desafiou a história e deu um passo a frente nesta luta por direitos iguais.


Interpretada por Emma Stone, Billie Jean, no auge de seu sucesso, liderando uma importante competição de tênis, decide arriscar tudo, levando à mídia a sua insatisfação com o dinheiro dado às esportistas, que recebem bem menos que os homens e lotam os estádios na mesma quantia. No mesmo instante, um veterano do esporte, Bobby Riggs (Steve Carell), ainda em forma e viciado em apostas, decide retornar aos holofotes promovendo uma televisionada disputa entre os sexos, onde ele retornaria ao campo de tênis contra a vitoriosa Billie Jean, provando assim, que existe sim uma diferença entre homens e mulheres.

"A Guerra dos Sexos" é uma obra contagiante, que nos faz torcer do primeiro ao último instante por sua protagonista. Acreditamos em seus discursos e em suas intenções, acreditamos em sua luta e vibramos por sua vitória. Claro que não é muito difícil ser contra à Bobby Riggs, a personificação do machismo, que poderia até parecer caricato se ele não fosse tão real e estranhamente humano. Neste sentido, é brilhante a composição do roteiro, que traz humor e uma certa ingenuidade à Riggs, o torna possível e de certa forma, carismático aos nossos olhos. Ele não é o vilão e o filme não pretende taxá-lo assim, entregando ambiguidade e uma complexidade à sua presença. O roteiro também acerta na construção de Billie Jean. É bonito de ver em como ela cresce na tela e como precisa lidar com tantas batalhas ao mesmo tempo, seja no campo, seja em sua vida pessoal. O humor, que aqui se faz presente quase o tempo todo, é extremamente bem-vindo e bem inserido nas cenas. Não só torna a obra mais dinâmica e gostosa de ver, como torna seus momentos tensos e dramáticos ainda mais relevantes.

É realmente surpreendente ver Emma Stone, tão pouco tempo depois de vencer um Oscar, entregar uma atuação tão incrível quanto àquela que lhe rendeu o prêmio. Primeira vez em sua carreira que interpreta uma personagem real, a atriz se sai muito bem, realizando um trabalho notável. Parece arriscado dizer, no entanto, penso que este é seu melhor momento no cinema. Stone nunca passou tanta verdade quanto aqui. Do outro lado, ainda temos Steve Carell fazendo o impossível em cena e brilha, diverte e faz do filme um grande evento. O elenco de coadjuvantes surpreende ao trazer nomes esquecidos como Bill Pulman, Alan Cumming e Elizabeth Shue. Além deles, Andrea Riseborough e Sarah Silverman se destacam.

O filme todo é bem redondo e pode até chegar às premiações mais importantes do ano que vem. Trilha sonora, figurinos e fotografia são belos e tornam a obra ainda mais atrativa. A direção de Jonathan Dayton e Valerie Faris não decepciona e entregam, mais uma vez, um produto de alta qualidade, que além de discutir temas necessários, é bom de ver, entretendo e encantando na mesma medida. Tão delicioso que até esquecemos que é um Oscar bait. O roteiro recebe a assinatura do premiado Simon Beaufoy, conhecido por trabalhar com o diretor Danny Boyle, que curiosamente, está presente como produtor. Aliás, está no roteiro os maiores méritos do longa, onde, ao final, me dei conta do quão maduro é este seu desenvolvimento. Seus últimos momentos são brilhantes, mais do que isso, hipnotizantes. Há uma certa melancolia presente até mesmo nas vitórias e me emocionei muito vendo aquilo. "A Guerra dos Sexos" termina e deixa a desconfortável sensação de que uma guerra foi vencida, mas nos faz lembrar de que a sociedade tem muitas barreiras e outras tantas lutas que ainda não chegaram ao fim.

NOTA: 8,5




País de origem: EUA
Duração: 121 minutos
Distribuidor: Fox Film do Brasil
Diretor: Jonathan Dayton e Valerie Faris
Roteiro: Simon Beaufoy
Elenco: Emma Stone, Steve Carell, Andrea Riseborough, Sarah Silverman, Austin Stowell, Natalie Morales, Bill Pullman, Elizabeth Shue, Alan Cumming


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