quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Crítica: Benzinho


A breve história de todos nós.

por Fernando Labanca

"Benzinho" nasceu forte. Sua carreira internacional o levou para o concorrido Festival de Sundance e chega ao Brasil com essa alta expectativa, já vencendo, inclusive, importantes prêmios no recente Festival de Gramado. O diretor Gustavo Pizzi é novato, mas a obra se sustenta pela qualidade do elenco que traz nomes de peso como Karine Teles, Adriana Esteves e Otávio Müller. Estamos falando de um filme simpático, agradável de se ver e tem potencial para conquistar grande parte do público. O maior acerto aqui é o retrato que faz sobre a família brasileira, que alcança nossa memória afetiva e nos faz enxergar ali na tela muitas de nossas histórias.

O drama vivido pela protagonista convence porque ele vem carregado de muito do que já vivemos, do que já vimos de perto. Há uma identificação fácil nessas pequenas relações familiares que o roteiro constrói de maneira tão sensível e tão honesta, sempre muito distante de qualquer caricatura. Irene (Karine Teles) é a mãe que batalha diariamente para manter sua família unida, trabalhando fora e sempre forte para aguentar qualquer problema que precise enfrentar. Seu emocional é abalado quando recebe a notícia de que seu filho mais velho foi convidado a jogar handebol na Alemanha. Acompanhamos, então, os últimos dias do jovem dentro de casa e como Irene vai sentindo a dor da partida daquele que acreditou que estaria eternamente ao seu lado, abraçado por sua proteção. Emociona a jornada dessa mãe, que jamais nega o sonho do filho mesmo quando isso implique na indesejada separação. 


Apesar dessa fácil identificação que a obra causa, senti, infelizmente, que o texto não tem muito a dizer. É bonito tudo o que fala mas é pouco para preencher seus longos minutos. Essa falta de argumento fica evidente quando o roteiro começa a encher sua história com subtramas desnecessárias. Ainda que Adriana Esteves seja uma ótima atriz - aliás, grande demais para uma participação tão esquecível -, sua personagem poderia facilmente ser deletada e não faria falta, assim como tudo o que envolve seu marido violento. São momentos desconexos, que não somam e dão a sensação de que o próprio roteiro não acreditava no potencial de seu plot principal como único atrativo do público. De fato, chega um instante em que a obra se arrasta e parece não ter mais o que falar. O que é uma pena porque havia um potencial enorme em sua premissa onde trata de assuntos que poderiam render tão mais.


Há honestidade no texto que lida com muita naturalidade todas as situações que expõe, no entanto, esta mesma qualidade não se vê em sua estética. Os espaços em que os personagens circulam são extremamente cenográficos e falsos. Todas as cenas fechadas alcançam o novelesco, tamanha simplicidade da produção. Essa sensação de fake se acentua pela estranho trabalho de iluminação, sempre muito distante do natural. A dificuldade do diretor Gustavo Pizzi em comandar tais sequências se prova principalmente quando as filmagens em locações abertas são sempre mais inspiradas. Aliás, alguns momentos beiram o constrangimento devido sua falta de cuidado, como quando a protagonista canta loucamente na cozinha ou quando há uma caótica briga no quintal. Por outro lado, há, sim, seus belos momentos, que encantam pela delicadeza, como a simbólica imagem da mãe boiando em um imenso lago com seu filho. Pizzi, nitidamente, traz muita referência do cinema independente norte-americano. Falta autenticidade, mas ao menos ele bebe das fontes certas para ilustrar suas boas intenções.

"Benzinho" é uma obra que fala sobre amor e encanta com situações corriqueiras e nesta facilidade do filme em encontrar beleza em coisas banais. A grande força, porém, vem de Karine Teles e na composição fantástica que constrói na tela. Os coadjuvantes Octávio Müller e Adriana Esteves também estão ótimos, assim como o inexperiente núcleo infantil. A cena final é tocante e nos faz compreender a loucura e intensidade daquela mãe, nos faz entender o que é ser parte de uma família. Nos faz sentir a dor que é ver alguém que se ama, partir. Apesar se seus tantos pecados é um filme feito de muito afeto, de puro coração. Decepciona e está muito abaixo do que prometia, mas é belo e isso é inegável. 

NOTA: 6,5




País de origem: Brasil
Ano: 2017
Duração: 95 minutos
Distribuidor: Vitrine Filmes
Diretor: Gustavo Pizzi
Roteiro: Gustavo Pizzi, Karine Teles
Elenco: Karine Teles, Octávio Müller, Konstantinos Sarris, Adriana Esteves, César Troncoso



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