quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Crítica: Domando o Destino


Quando a ficção encontra a realidade. 

por Fernando Labanca

"The Rider" é um projeto curioso. Tão curioso a ponto de me fazer ler várias coisas a seu respeito assim que acabou. Simplesmente me deixou intrigado como tudo aquilo aconteceu e como esse filme, que passou despercebido aqui no Brasil, se tornou possível. Aconteceu que a diretora Chloé Zhao, que já conhecia o jovem Brady Jandreau, decidiu fazer um filme sobre o que acabara de acontecer com ele na vida real. Ele, que é realmente um domador de cavalos, sofreu um acidente e estava impossibilitado de exercer seu trabalho. Pronto. Ela escreveu um roteiro romantizando um pouco a situação, o colocou para interpretar, basicamente, ele mesmo e sua família verdadeira para atuar ao seu lado. Tudo isso acaba que sendo uma experiência bastante inusitada e nos deixa reflexivos sobre até que ponto é realidade e até quando é a ficção que comanda a cena.

O filme, que narra acontecimentos reais, nos leva para o interior dos Estados Unidos onde vive o jovem Brady Blackburn, um cowboy que acabou de sofrer um gravíssimo corte na cabeça. Quando se vê obrigado a se afastar de seu trabalho, um vazio toma conta de sua existência, que não encontra mais sentido em sua rotina distante da arena. Enquanto isso, ele precisa cuidar de sua irmã mais nova, além de visitar com frequência seu melhor amigo, que ficou tetraplégico após um acidente de rodeio. 


Existe algo especial em "The Rider" que provavelmente meu texto não conseguirá transmitir. Chloé Zhao encontra beleza no cotidiano, nas pequenas ações. Encontra humanidade em cada gesto. É um registro primoroso de uma vida humilde, que nos inspira, que nos preenche, mesmo no seu silêncio. Existe uma linha tênue entre real e ficção, entre o documental e a fantasia. E essa qualidade garante a obra essa atmosfera naturalista, crua e nos afeta justamente porque sabemos que parte daquilo é real, parte daquela dor, daquela solidão, daquela busca por um sonho existe, é palpável e está dentro de cada personagem mostrado. Dentro dos olhos de Brady existe tudo isso e sua presença é carregada de muita verdade. A belíssima fotografia enquadra aquela rotina nos vastos campos como quadros a serem apreciados e sua fantástica e delicada trilha sonora enaltece este estado de contemplação que a diretora propõe. Suas sequências são hipnotizantes e encantam por serem tão ternas, repletas de sensibilidade. 

O filme coloca seu protagonista neste momento de estagnação, de não poder fazer o que ama e ao ser incapaz de fazer o que nasceu para fazer, se encontra preenchido por um vazio, por essa busca por um propósito, por uma nova identidade. A cena final, onde seu amigo tetraplégico lhe dá um conselho de vida é um momento catártico e define bem as intenções da obra. Ainda que tenha este tom melancólico e nos identificamos por suas reflexões, "The Rider", ao fim, não procura uma salvação, mas ao menos oferece esperança e uma bela dose de otimismo. Seja pelos doces momentos em família e conversas soltas entre amigos, existe um lugar para todos aqueles personagens. Existe a dor também, mas a procura de um sentido os faz ter forças para ficar em pé, seguir em frente. E desta simplicidade e genuinidade, nasce aqui uma das obras mais incríveis do ano. 

NOTA: 9


País de origem: EUA
Título original: The Rider
Ano: 2017
Duração: 105 minutos
Distribuidor: -
Diretor: Chloé Zhao
Roteiro: Chloé Zhao
Elenco: Brady Jandreau, Lilly Jandreau, Tim Jandreau, Cat Clifford

Um comentário:

  1. Realmente é um filme que instiga. Fotografias belíssimas, simplicidade, mas um simples que te prende!

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