Dentre os últimos filmes nacionais que vi, tive uma grata surpresa, ambos fogem completamente dos estereótipos que muitas pessoas colocam sob as produções do Brasil. Para aqueles que acham que cinema nacional se resume a palavrões, cenas de sexo e violência, não deixem de ver esses três grandes filmes: A Máquina (2006); Divã e Jean Charles (2009).
por Fernando Labanca
A Máquina, de João Falcão (2006)
Diferente de todos os filme nacionais que já vi, ponto! Nada se compara a esta deliciosa produção, baseada no livro de Adriana Falcão, que virou peça de teatro dirigida por João Falcão, seu esposo, que posteriormente dirigiu este filme.
A história ocorre em Nordestina, cidade desconhecida e minúscula que não está nem no mapa. Nela, vive moradores que sonham em "ganhar o mundo", sair e viver a vida longe dali. Porém entre eles, está Antônio (Gustavo Falcão), um jovem sonhador, que não vê problemas em realizar seus sonhos naquele fim de mundo, mas para seu desespero, Karina (Mariana Ximenes), sua grande paixão, sonha em ser atriz e ser famosa, ter o mundo ao seus pés.
Para não perder sua amada, Antônio tem uma inusitada idéia, impedir que Karina ganhe o mundo lá fora, e para isso, decide trazê-lo para ela. Para isso, ele vai até as principais mídias, ou seja, as pincipais redes de televisão, não só do Brasil, como a de todo o mundo, dizendo que criou uma máquina do tempo, e diz a data e o horário em que ele viajaria para o futuro. 50 anos depois, Antônio (Paulo Autran), espera o dia e o horário para impedir que seu "eu" passado repita o mesmo erro de 50 anos atrás. Como tudo isso ocorre? Só assistindo para ver, não vou estragar a grande surpresa do filme!
Para falar a verdade, "A Máquina" é a única ficção científica brasileira que já vi, se existem outras, não tive a oportunidade de conhecer. E por isso, o grande mérito do longa, por inovar em todos os sentidos pelo o que conhecemos de "cinema nacional". Até mesmo os cenários são diferentes, um estúdio fechado, no melhor estilo da série global "Hoje é Dia de Maria", com diálogos poéticos, inteligentes e muitas vezes engraçados e com atuações teatrais e geniais. Gustavo Falcão, incrível e Paulo Autran acho que não preciso comentar. Ainda temos Mariana Ximenes dando o ar de sua graça e veteranos fazendo participações como Vladimir Brichta, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Assista, o resultado vale muito a pena!
NOTA: 8,5
Jean Charles, de Henrique Goldman (2009)
Em 2005, a morte de Jean Charles causou grande impacto em muitas pessoas, e como não causar? Um brasileiro, assassinado por policiais ingleses num metrô, confundido por um terrorista.
O filme, dirigido por Henrique Goldman e com produção executiva de ninguém mais que Stephen Frears (Alta Fidelidade, A Rainha e Cheri), conta a trajetória deste brasileiro antes de sua morte.
Jean Charles (Selton Mello), vive em Londres, o que para muitos seria viver um sonho, para ele, é correria total, tenta sobreviver e dar a família dele, aqui no Brasil, uma condição financeira melhor. Vive com seus amigos, tembém longe de suas famílias. O longa começa com a chegada de sua prima Vivian (Vanessa Giácomo) na cidade, e mostra suas dificuldades em viver num mundo tão diferente. Ao mesmo tempo, mostra os conflitos de Jean, que sempre com aquele jeitinho brasileiro tenta sobreviver, trabalha no que for preciso e ainda ajuda brasileiros a entrarem ilegalmente ao país.
O filme basicamente é isso, a trajetória de jovens tentando viver um sonho, tentando buscar um espaço num lugar onde sabem que nunca serão deles. Enquanto isso, em Londres, atentados assustam a população, explosões inesperadas em locais públicos. Até que em um dia qualquer, Jean é morto, à oito tiros. Esta é a vida, inexplicável, impossível viver como se fosse o último dia, como alguém iria imaginar que morreria de tal forma?
Um filme muito bem feito, com uma fotografia belíssima que facilmente confundida com qualquer filme estrangeiro, as locações externas muito bem capturadas. Selton Mello muito bem em cena, uma de suas melhores interpretações, arrisco dizer, consegue não trazer seus trejeitos de sempre, construindo um personagem novo. Ainda temos os ótimos Luis Miranda e Vanessa Giácomo.
O grande mérito de "Jean Charles" é não transformar o brasileiro num santo, como alguém perfeito que só fazia o bem. Não, Jean Charles aqui é um ser humano qualquer, humilde, amigo, mas também tem seus defeitos, não é santo, se tiver que mentir, mente, vale tudo por sua sobrevivência. E sem forçar a barra, o longa consegue trazer grandes reflexões.
NOTA: 7
Divã, de José Alvarenga Jr (2009)
Do mesmo diretor de "Os Normais" e baseado na obra de Martha Medeiros, Divã, definitivamente é um dos melhores filmes nacionais que vi nos últimos anos. O diretor consegue usar as fórmulas para um grande sucesso de público e ao mesmo tempo usar da profundidade e complexidade para desenhar a trajetória dessa grande personagem, Mercedes, interpretada brilhantemente por Lilia Cabral.
O filme começa quando Mercedes decide ir ao psicanalista, sentar do divã e falar sobre sua vida. Uma mulher que tem tudo que qualquer uma luta em ter, um marido presente, filhos, uma casa, dinheiro suficiente para viver e sustentar sua família, uma amiga adorável com quem troca segredos. Enfim, uma vida perfeita.
Entretanto, ao falar sobre sua vida, ela começa analisar, sem a ajuda do profissional, o quão vazio pode ser tudo isso, seria ter uma vida que todos sonham em ter a verdadeira felicidade? É quando revê seus conceitos, percebe que seu marido não é o amor de sua vida, pede o divórcio e começa a ter uma vida diferente, uma vida a qual nunca imaginou ter, um escape, uma fuga da rotina, da mesmice, namorados, baladas, novas descobertas, percebendo que nunca é tarde para viver a vida, não da maneira em que deve ser vivida, mas da meneira que a deixa mais completa.
Tudo isso de maneira bastente cômica e original, é hilário ver Mercedes dando uma de adolescente, quebrando a cara, levantando e tentando tudo de novo, mas ao mesmo tempo é belíssimo essa trajetória de alguém que cansou do "mesmo de sempre". E ainda, o longa deixa reservado espaços para granes surpresas, conflitos não faltam, nada é tão fácil e belo quanto parece.
As atuações são ótimas. Lilia Cabral já dá um show na televisão, no cinema então. Simplesmente arregaça com sua Mercedes. Ainda temos José Mayer, que pela primeira vez o vi como um ator de verdade, não mais como um galã de novela, com o mesmo jeito e as mesmas expressões, aqui ele trás algo novo. Alexandra Richter, de humorista do "Zorra total" a uma grande atuação no cinema.
Enfim, vale muito a pena ver este filme, inteligente, complexo como poucos no cinema nacional, que faz refletir, se emocionar e se divertir. Simplesmente incrível, fantástico.
NOTA: 9,5
A história ocorre em Nordestina, cidade desconhecida e minúscula que não está nem no mapa. Nela, vive moradores que sonham em "ganhar o mundo", sair e viver a vida longe dali. Porém entre eles, está Antônio (Gustavo Falcão), um jovem sonhador, que não vê problemas em realizar seus sonhos naquele fim de mundo, mas para seu desespero, Karina (Mariana Ximenes), sua grande paixão, sonha em ser atriz e ser famosa, ter o mundo ao seus pés.
Para não perder sua amada, Antônio tem uma inusitada idéia, impedir que Karina ganhe o mundo lá fora, e para isso, decide trazê-lo para ela. Para isso, ele vai até as principais mídias, ou seja, as pincipais redes de televisão, não só do Brasil, como a de todo o mundo, dizendo que criou uma máquina do tempo, e diz a data e o horário em que ele viajaria para o futuro. 50 anos depois, Antônio (Paulo Autran), espera o dia e o horário para impedir que seu "eu" passado repita o mesmo erro de 50 anos atrás. Como tudo isso ocorre? Só assistindo para ver, não vou estragar a grande surpresa do filme!
Para falar a verdade, "A Máquina" é a única ficção científica brasileira que já vi, se existem outras, não tive a oportunidade de conhecer. E por isso, o grande mérito do longa, por inovar em todos os sentidos pelo o que conhecemos de "cinema nacional". Até mesmo os cenários são diferentes, um estúdio fechado, no melhor estilo da série global "Hoje é Dia de Maria", com diálogos poéticos, inteligentes e muitas vezes engraçados e com atuações teatrais e geniais. Gustavo Falcão, incrível e Paulo Autran acho que não preciso comentar. Ainda temos Mariana Ximenes dando o ar de sua graça e veteranos fazendo participações como Vladimir Brichta, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Assista, o resultado vale muito a pena!
NOTA: 8,5
Jean Charles, de Henrique Goldman (2009)
Em 2005, a morte de Jean Charles causou grande impacto em muitas pessoas, e como não causar? Um brasileiro, assassinado por policiais ingleses num metrô, confundido por um terrorista.
O filme, dirigido por Henrique Goldman e com produção executiva de ninguém mais que Stephen Frears (Alta Fidelidade, A Rainha e Cheri), conta a trajetória deste brasileiro antes de sua morte.
Jean Charles (Selton Mello), vive em Londres, o que para muitos seria viver um sonho, para ele, é correria total, tenta sobreviver e dar a família dele, aqui no Brasil, uma condição financeira melhor. Vive com seus amigos, tembém longe de suas famílias. O longa começa com a chegada de sua prima Vivian (Vanessa Giácomo) na cidade, e mostra suas dificuldades em viver num mundo tão diferente. Ao mesmo tempo, mostra os conflitos de Jean, que sempre com aquele jeitinho brasileiro tenta sobreviver, trabalha no que for preciso e ainda ajuda brasileiros a entrarem ilegalmente ao país.
O filme basicamente é isso, a trajetória de jovens tentando viver um sonho, tentando buscar um espaço num lugar onde sabem que nunca serão deles. Enquanto isso, em Londres, atentados assustam a população, explosões inesperadas em locais públicos. Até que em um dia qualquer, Jean é morto, à oito tiros. Esta é a vida, inexplicável, impossível viver como se fosse o último dia, como alguém iria imaginar que morreria de tal forma?
Um filme muito bem feito, com uma fotografia belíssima que facilmente confundida com qualquer filme estrangeiro, as locações externas muito bem capturadas. Selton Mello muito bem em cena, uma de suas melhores interpretações, arrisco dizer, consegue não trazer seus trejeitos de sempre, construindo um personagem novo. Ainda temos os ótimos Luis Miranda e Vanessa Giácomo.
O grande mérito de "Jean Charles" é não transformar o brasileiro num santo, como alguém perfeito que só fazia o bem. Não, Jean Charles aqui é um ser humano qualquer, humilde, amigo, mas também tem seus defeitos, não é santo, se tiver que mentir, mente, vale tudo por sua sobrevivência. E sem forçar a barra, o longa consegue trazer grandes reflexões.
NOTA: 7
Divã, de José Alvarenga Jr (2009)
Do mesmo diretor de "Os Normais" e baseado na obra de Martha Medeiros, Divã, definitivamente é um dos melhores filmes nacionais que vi nos últimos anos. O diretor consegue usar as fórmulas para um grande sucesso de público e ao mesmo tempo usar da profundidade e complexidade para desenhar a trajetória dessa grande personagem, Mercedes, interpretada brilhantemente por Lilia Cabral.
O filme começa quando Mercedes decide ir ao psicanalista, sentar do divã e falar sobre sua vida. Uma mulher que tem tudo que qualquer uma luta em ter, um marido presente, filhos, uma casa, dinheiro suficiente para viver e sustentar sua família, uma amiga adorável com quem troca segredos. Enfim, uma vida perfeita.
Entretanto, ao falar sobre sua vida, ela começa analisar, sem a ajuda do profissional, o quão vazio pode ser tudo isso, seria ter uma vida que todos sonham em ter a verdadeira felicidade? É quando revê seus conceitos, percebe que seu marido não é o amor de sua vida, pede o divórcio e começa a ter uma vida diferente, uma vida a qual nunca imaginou ter, um escape, uma fuga da rotina, da mesmice, namorados, baladas, novas descobertas, percebendo que nunca é tarde para viver a vida, não da maneira em que deve ser vivida, mas da meneira que a deixa mais completa.
Tudo isso de maneira bastente cômica e original, é hilário ver Mercedes dando uma de adolescente, quebrando a cara, levantando e tentando tudo de novo, mas ao mesmo tempo é belíssimo essa trajetória de alguém que cansou do "mesmo de sempre". E ainda, o longa deixa reservado espaços para granes surpresas, conflitos não faltam, nada é tão fácil e belo quanto parece.
As atuações são ótimas. Lilia Cabral já dá um show na televisão, no cinema então. Simplesmente arregaça com sua Mercedes. Ainda temos José Mayer, que pela primeira vez o vi como um ator de verdade, não mais como um galã de novela, com o mesmo jeito e as mesmas expressões, aqui ele trás algo novo. Alexandra Richter, de humorista do "Zorra total" a uma grande atuação no cinema.
Enfim, vale muito a pena ver este filme, inteligente, complexo como poucos no cinema nacional, que faz refletir, se emocionar e se divertir. Simplesmente incrível, fantástico.
Seu 3 em 1 ficou bem bacana, parabéns!!
ResponderExcluirA Máquina eu ainda não assisti, nem Jean Charles..mas Divã eu assisti e achei uma bela porcaria, me desculpe...Lilia Cabral afetadíssima nesse filme, e a personagem que eu me identifiquei, que é a melhor amiga da Mercedes, morre...aff, achei muito barulho por nada...
Bju e faça mais desses...3, 4 ou 5 em 1, quem sabe??