segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crítica: Um Divã Para Dois (Hope Springs, 2012)

Do diretor David Frankel, o mesmo de "O Diabo Veste Prada" e "Marley e Eu", trás Meryl Streep e Tommy Lee Jones, em atuações marcantes, uma das melhores que o cinema viu este ano, na pele de um casal tentando reascender a chama depois de três décadas juntos.

por Fernando Labanca

Kay (Streep) está casada há 31 anos com Arnold (Jones), mas diferente dele, ela cansou da rotina. Enquanto o marido vive a monotonia da sua vida como se nada pudesse melhorar, assistindo programa reprisado na TV e trabalhando todas as manhãs, Kay chegou ao seu limite, já não suportando o fato de não conversar mais com ele, de dormirem em quartos separados. Para resolver seu problema, ela se inscreve num famoso programa de aconselhamento de casais com o Dr.Feld (Steve Carell), numa pequena cidade bucólica. Mesmo irritado com a situação, Arnold aceita fazer a viagem, com medo de perder sua mulher, entretanto, alcança o ápice do constrangimento quando precisa, como exercício da terapia, se reaproximar de Kay, falar sobre sexo e sobre tudo o que evitou todos esses anos. 

Comédias românticas surgem e desaparecem nos cinemas, algumas merecem o simples desprezo e esquecimento, outras, merecem a atenção, que infelizmente por serem deste gênero chegam nas salas com um certo preconceito e logo são subestimadas pelo público. "Um Divã Para Dois" é dessas que merece atenção. Para começar tem dois grandes atores a frente da trama, Meryl Streep que conseguiu mais um Oscar de Melhor Atriz este ano e Tommy Lee Jones. Ver esses grandes atores dividindo a mesma cena não é para qualquer filme e a maneira como os dois se jogam em seus personagens é algo raro, ainda para Streep, que aparentemente já havia feito de tudo no cinema, ela surge novamente e ainda consegue surpreender. Ainda temos David Frankel como diretor e prova aqui sua grande habilidade, conseguiu transformar "O Diabo Veste Prada" e "Marley e Eu" em grandes obras mesmo que tendo tudo para ser mais uma para a sessão da tarde e aqui ele consegue provar ainda mais maturidade. E um roteiro bastante inteligente, que surpreende pelas situações mostradas, indo muito além que qualquer outra comédia romântica tenha ido, vai fundo na alma de seus personagens, onde poucos dramas ousaram chegar.


"Um Divã Para Dois" consegue entreter, isso porque ver o casal conservador ter que falar sobre assuntos tabus e ter que fazer alguns exercícios para não mais temerem o sexo é realmente divertido, melhor ainda é ver os dois atores passando os maiores vexames com a maior naturalidade, aliás, é este um de seus grandes méritos, encarar toda essa situação como algo naturalmente engraçado, não força em nenhum momento para arrancar risos do público e ganha pontos também por não seguir tanto para a comédia, sem temer uma edição mais lenta que filmes do gênero, onde os diálogos são extensos, deixando espaço para o roteiro mostrar quem realmente são esses personagens, deixando espaço para o público compreender a mente deles e o quão complexo a vida de casado pode ser e passa a assustar justamente quando alcança um nível de humanismo alto, nos fazendo parar para pensar sobre o quanto tudo aquilo é real e quão triste isso é. É então que o longa começa a emocionar por mostrar este lado que os filmes nunca mostram, aquele lado que nunca vimos na vida íntima daquelas pessoas que conhecemos, é engraçado como o amor morre, como a intimidade morre, é belo quando Kay passa a se questionar do porquê ser tão difícil tocar alguém que se ama, porque o sexo que deveria ser uma prova de amor passa a ser algo constrangedor, ou um simples beijo que parece ser um ato absurdo para duas pessoas mais velhas. O bom roteiro assinado por Vanessa Taylor consegue caminhar por diversos caminhos, mostrando todas as possibilidades, todos os conflitos possíveis dessa situação, consegue ser rico por tentar entender a mente humana, de forma cômica mas sem deixar de ser complexo e caminhando sempre de forma bastante madura. 

Dentre tantas qualidades do roteiro ainda temos o privilégio de ver Meryl Streep, mesmo com três Oscar em sua prateleira se entregando em uma personagem, ela trás verdade a Kay, seus dramas passam a fazer sentido com seus tristes olhares e seu constrangimento ganham forma com a divertida maneira com que ela as encara, uma grande atriz de comédia, uma das melhores em drama. Melhor ainda é quando ela divide as falas com Tommy Lee Jones, que há muito não o via tão a vontade em um filme, uma grande atuação, consegue transmitir tanto sentimento, tanta verdade, sua aceitação da rotina, seu rancor diário, é belo ver também toda sua transformação durante a trama. Steve Carell surge mais tímido, mas é aceitável, não era seu momento, mas não desaponta, faz sua parte. Ainda vemos participações rápidas de nomes como a sumida Elizabeth Shue e Jean Smart.

Surpreendentemente bom, "Hope Springs" pode pegar muita gente de surpresa, quando se espera mais uma comédia romântica, David Frankel nos oferece uma trama completa, repleto de bons momentos e diálogos bem pensados, numa trama bastante real, sem a superficialidade hollywoodiana, que consegue tocar em assuntos pouco discutidos e assim se torna um dos poucos filmes do gênero a ser realmente eficiente. E justamente por seu realismo consegue nos fazer rir sem grandes esforços e da mesma forma, nos emociona em momentos que não esperávamos nos comover. Também não vem com moralismos baratos sobre "não deixe sua vida de casado cair na rotina", consegue ser bem mais profundo que isso. E ainda...Meryl Streep e Tommy Lee Jones, que já valem o ingresso. Recomendo.

NOTA: 9



2 comentários:

  1. Este filme é simplesmente um barato. É uma comédia romântica bem realista, infelizmente acontece muito isso na vida real,acho que como Key(papel de Meryl Streep) tenta mudar a situação é uma ótima maneira. muitos destes tipos de relacionamentos logos acabam em divórcio, uma maneira eficaz aos olhos do casal. Mas de uma pessoa de fora (NO CASO ESPECIALISTA) ajudar a reacender o amor que nunca morreu, apenas adormeceu em meio a rotina...

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  2. Sim, sim! Como vc disse, é uma comédia romântica bem realista. Acho q foi por isso que acabei gostando tanto deste filme!

    Valeu pelo comentário, Ana!

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