sexta-feira, 19 de julho de 2013

Crítica: A Vida é Dura - A História de Dewey Cox (Walk Hard - The Dewey Cox Story, 2007)

Existem muitos filmes biográficos, aqueles que focam na vida e na obra de algum artista, já é quase um gênero a parte. Pensando nisso, Judd Apatow, o nome da comédia nos últimos anos, ao lado de Jake Kasdan, resolveram satirizar este tipo de filme, contando desde a infância, passando por todos os clichês possíveis de um indivíduo até se tornar famoso, passando por seu fracasso até sua redenção. Foi assim que surgiu Dewey Cox e é sobre este homem, um célebre cantor de blues, que eles resolveram contar.

por Fernando Labanca

Antes de realizar um esperado show, o retorno de sua carreira, Dewey Cox (John C.Reilly) reserva um precioso tempo, tempo suficiente para ele pensar em toda sua vida e como ele chegou até ali. Se lembrou de sua infância, quando matou sem querer seu talentoso e amado irmão, foi quando conheceu o blues e descobriu como é colocar para fora as perdas da vida, foi neste momento também que prometeu a si mesmo, ser duas vezes melhor que ele. Foi embora de casa, casou com Edith (Kristen Wiig) com quem teve diversos filhos e mesmo ninguém acreditando em seu talento para a música, resolveu arriscar tudo gravando uma canção, que foi um sucesso e logo ganhou notoriedade. Conheceu a fama, conheceu também as drogas, época que acabou se envolvendo com Darlene (Jenna Fischer), uma das cantoras de seu backing vocal. E aos poucos, Dewey Cox vai perdendo o controle de toda a sua conquista, sempre se abalando por seu coração frágil, por medo de não ser tão bom quanto seu irmão.


"A Vida é Dura" conseguiu reunir os clichês mais clássicos de qualquer filme biográfico, e mesmo que não tínhamos reparado que eles existiam, passamos a perceber aqui e como algumas situações estão sempre presentes. Uma grande perda na infância, relacionamento difícil com os pais, o primeiro sucesso e aquela edição padrão com recortes de jornais indicando o crescimento da fama, os flashs de fotógrafos e fãs que fazem de tudo para estar perto, as primeiras apresentações, o primeiro contato com as drogas, o vício, o abandono de pessoas que ama para se dedicar a carreira, a traição, o sexo, o fracasso, a redenção. É estranho, mas parece haver uma sequência de atos para todas as pessoas que tem suas vidas levadas para o cinema, o que este filme faz, é justamente denunciar todos eles, fazer ridículo de tudo isso, exagerar, tornar o clichê em algo extremamente exagerado, bizarro. A graça desta obra vem justamente disso, em conseguir satirizar de forma tão completa, dar vida a um ser "imaginário" e lhe entregar uma jornada tão extraordinária, com começo, meio e fim, impossível de se acreditar, impossível ser levado a sério, mas facilmente envolvente. Dewey Cox, tão falso ou tão real quanto qualquer outro indivíduo que tenha sua vida retratada num filme biográfico.

Poderia ter sido só uma sátira, porém, os realizadores resolveram fazer mais. "A Vida é Dura" pode até não ser um filme tão fantástico, mas com certeza, pouquíssimas obras conseguiram ir tão longe mesmo se tratando de uma paródia, mesmo se tratando do gênero comédia, muitas vezes, tão limitado em seu formato. Aqui, tudo é muito grandioso, o que o torna um filme único, impossível de compará-lo a qualquer outro já feito. A maneira como guiam a vida de Dewey Cox, seja pela maravilhosa atuação de John C.Reilly, mas também pelo nítido esforço de toda a equipe, com um cuidado em representar cada época, através dos figurinos, maquiagem, as locações, e principalmente o cuidado com a criação das canções, que vão muito além de apenas uma satirizarão, elas representam cada momento da indústria fonográfica norte-americana, cada influência, cada referência, passando pelo blues, rock, folk, country, ele é quase como Bob Dylan e suas inúmeras fases, por mais que o roteiro se baseie, nitidamente, nos passos de Johnny Cash, revivido na obra "Johnny e June" em 2004. Ou seja, o que vemos é mais do que uma comédia, é um musical de grande qualidade, que nunca perde o humor, mas também nunca perde a intenção de se fazer o melhor. Uma raridade.

O elenco também surpreende, onde a cada nova cena, um rosto conhecido. Além de John C.Reilly que dá um belo show de interpretação, além de cantar muito bem. Vemos a adorável Jenna Fischer, da série "The Office" mandando bem na pele da sensual Darlene, além de outros nomes retirados do seriado como Ed Helms e Craig Robinson. Vemos ainda outros comediantes de peso, como Kristen Wiig, Paul Rudd, Jonah Hill, Jack Black, Justin Long, Jane Lynch, Jason Schwartzman, entre outros.Todos estão ótimos, mesmo que muitos tenham aparecido em pequenas participações, valendo ainda citar Jack White interpretando Elvis Presley, além de outras aparições surpresas, como Eddie Vedder. Só faltou Will Ferrell e Steve Carell pra completar. Percebe-se que "Walk Hard" foi a reunião de grandes nomes do humor, do cinema, da música, um grupo de amigos que se reuniu em prol de uma obra de qualidade, sem deixar, é claro, de ser um momento de grande descontração entre eles, uma longa e divertida piada no qual todos se envolveram e deram o seu melhor.

E mesmo sendo tão grandioso, "A Vida é Dura" é também uma obra despretensiosa, feita com um único intuito, divertir, mas sem ferir a inteligência de seu público, sem perder o bom senso, construindo um filme leve, que não fará ninguém dar longas gargalhadas, mas dificilmente receberá a indiferença, logo que provavelmente terão aqueles que o odiarão, é um humor diferente, bem ao estilo Judd Apatow. Não sairei recomendando para todos, é preciso apreciar este tipo de comédia para entrar nesta brincadeira. Tem lá sua falhas, acredito que por ser tão forçado e exagerado em determinadas situações acaba que afastando grande parte do público, ás vezes é difícil se envolver, justamente por ser tão distante da realidade, mas é complicado colocar isso como um erro, logo que era sua proposta desde o início. Vale e muito pelos atores e pelas ótimas canções, uma comédia rara e extremamente estilosa. 

NOTA: 8




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