Existem muitos filmes biográficos, aqueles que focam na vida e na obra de
algum artista, já é quase um gênero a parte. Pensando nisso, Judd Apatow, o
nome da comédia nos últimos anos, ao lado de Jake Kasdan, resolveram satirizar este tipo
de filme, contando desde a infância, passando por todos os clichês possíveis de
um indivíduo até se tornar famoso, passando por seu fracasso até sua redenção.
Foi assim que surgiu Dewey Cox e é sobre este homem, um célebre cantor de
blues, que eles resolveram contar.
por Fernando Labanca
Antes de realizar um esperado show, o retorno de sua carreira, Dewey Cox
(John C.Reilly) reserva um precioso tempo, tempo suficiente para ele pensar em
toda sua vida e como ele chegou até ali. Se lembrou de sua infância, quando
matou sem querer seu talentoso e amado irmão, foi quando conheceu o blues e
descobriu como é colocar para fora as perdas da vida, foi neste momento também
que prometeu a si mesmo, ser duas vezes melhor que ele. Foi embora de casa,
casou com Edith (Kristen Wiig) com quem teve diversos filhos e mesmo ninguém
acreditando em seu talento para a música, resolveu arriscar tudo gravando uma
canção, que foi um sucesso e logo ganhou notoriedade. Conheceu a fama, conheceu
também as drogas, época que acabou se envolvendo com Darlene (Jenna Fischer),
uma das cantoras de seu backing vocal. E aos poucos, Dewey Cox vai perdendo o
controle de toda a sua conquista, sempre se abalando por seu coração frágil,
por medo de não ser tão bom quanto seu irmão.
"A Vida é Dura" conseguiu reunir os clichês mais clássicos de qualquer filme biográfico, e mesmo que não tínhamos reparado que eles existiam, passamos a perceber aqui e como algumas situações estão sempre presentes. Uma grande perda na infância, relacionamento difícil com os pais, o primeiro sucesso e aquela edição padrão com recortes de jornais indicando o crescimento da fama, os flashs de fotógrafos e fãs que fazem de tudo para estar perto, as primeiras apresentações, o primeiro contato com as drogas, o vício, o abandono de pessoas que ama para se dedicar a carreira, a traição, o sexo, o fracasso, a redenção. É estranho, mas parece haver uma sequência de atos para todas as pessoas que tem suas vidas levadas para o cinema, o que este filme faz, é justamente denunciar todos eles, fazer ridículo de tudo isso, exagerar, tornar o clichê em algo extremamente exagerado, bizarro. A graça desta obra vem justamente disso, em conseguir satirizar de forma tão completa, dar vida a um ser "imaginário" e lhe entregar uma jornada tão extraordinária, com começo, meio e fim, impossível de se acreditar, impossível ser levado a sério, mas facilmente envolvente. Dewey Cox, tão falso ou tão real quanto qualquer outro indivíduo que tenha sua vida retratada num filme biográfico.
Poderia ter sido só uma sátira, porém, os realizadores resolveram fazer
mais. "A Vida é Dura" pode até não ser um filme tão fantástico, mas
com certeza, pouquíssimas obras conseguiram ir tão longe mesmo se tratando de uma
paródia, mesmo se tratando do gênero comédia, muitas vezes, tão limitado em seu
formato. Aqui, tudo é muito grandioso, o que o torna um filme único, impossível
de compará-lo a qualquer outro já feito. A maneira como guiam a vida de Dewey
Cox, seja pela maravilhosa atuação de John C.Reilly, mas também pelo nítido
esforço de toda a equipe, com um cuidado em representar cada época, através dos
figurinos, maquiagem, as locações, e principalmente o cuidado com a criação das
canções, que vão muito além de apenas uma satirizarão, elas representam cada
momento da indústria fonográfica norte-americana, cada influência, cada
referência, passando pelo blues, rock, folk, country, ele é quase como Bob
Dylan e suas inúmeras fases, por mais que o roteiro se baseie, nitidamente, nos
passos de Johnny Cash, revivido na obra "Johnny e June" em 2004. Ou
seja, o que vemos é mais do que uma comédia, é um musical de grande qualidade,
que nunca perde o humor, mas também nunca perde a intenção de se fazer o
melhor. Uma raridade.
O elenco também surpreende, onde a cada nova cena, um rosto conhecido. Além
de John C.Reilly que dá um belo show de interpretação, além de cantar muito
bem. Vemos a adorável Jenna Fischer, da série "The Office" mandando
bem na pele da sensual Darlene, além de outros nomes retirados do seriado como
Ed Helms e Craig Robinson. Vemos ainda outros comediantes de peso, como Kristen
Wiig, Paul Rudd, Jonah Hill, Jack Black, Justin Long, Jane Lynch, Jason Schwartzman, entre outros.Todos
estão ótimos, mesmo que muitos tenham aparecido em pequenas participações,
valendo ainda citar Jack White interpretando Elvis Presley, além de outras
aparições surpresas, como Eddie Vedder. Só faltou Will Ferrell e Steve Carell pra completar. Percebe-se que "Walk Hard" foi a reunião de
grandes nomes do humor, do cinema, da música, um grupo de amigos que se reuniu em prol de uma obra de qualidade, sem deixar, é claro, de ser um momento de grande descontração entre eles, uma longa e divertida piada no qual todos se envolveram e deram o seu melhor.
E mesmo sendo tão grandioso, "A Vida é Dura" é também uma obra despretensiosa, feita com um único intuito, divertir, mas sem ferir a inteligência de seu público, sem perder o bom senso, construindo um filme leve, que não fará ninguém dar longas gargalhadas, mas dificilmente receberá a indiferença, logo que provavelmente terão aqueles que o odiarão, é um humor diferente, bem ao estilo Judd Apatow. Não sairei recomendando para todos, é preciso apreciar este tipo de comédia para entrar nesta brincadeira. Tem lá sua falhas, acredito que por ser tão forçado e exagerado em determinadas situações acaba que afastando grande parte do público, ás vezes é difícil se envolver, justamente por ser tão distante da realidade, mas é complicado colocar isso como um erro, logo que era sua proposta desde o início. Vale e muito pelos atores e pelas ótimas canções, uma comédia rara e extremamente estilosa.
E mesmo sendo tão grandioso, "A Vida é Dura" é também uma obra despretensiosa, feita com um único intuito, divertir, mas sem ferir a inteligência de seu público, sem perder o bom senso, construindo um filme leve, que não fará ninguém dar longas gargalhadas, mas dificilmente receberá a indiferença, logo que provavelmente terão aqueles que o odiarão, é um humor diferente, bem ao estilo Judd Apatow. Não sairei recomendando para todos, é preciso apreciar este tipo de comédia para entrar nesta brincadeira. Tem lá sua falhas, acredito que por ser tão forçado e exagerado em determinadas situações acaba que afastando grande parte do público, ás vezes é difícil se envolver, justamente por ser tão distante da realidade, mas é complicado colocar isso como um erro, logo que era sua proposta desde o início. Vale e muito pelos atores e pelas ótimas canções, uma comédia rara e extremamente estilosa.
NOTA: 8
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