Lançado em 1997,
“Boogie Nights” conta com a direção de Paul Thomas Anderson e
mostra, através de sua narrativa bastante dinâmica, o auge e
decadência da indústria pornográfica no final dos anos 70. Sem
moralismos, o longa tem o poder de ser mais do que pretende e
registra um dos retratos mais fiéis e mais impactantes daquela
época. Sutilmente engraçado e extremamente original, a obra é um
marco na carreira deste brilhante diretor, e porque não, um marco na
história do cinema. Um clássico!
Por Fernando Labanca
Década de setenta, nas
noites agitadas ao som de disco, Eddie Adams (Mark Wahlberg) trabalha
em uma boate, lavando pratos. Tem uma relação turbulenta com sua
família, onde é considerado um fracassado, mesmo ele sonhando em
ser um ator de sucesso. É neste local onde desperta a atenção de
Jack Horner (Burt Reynolds), um famoso e bem sucedido produtor de
filmes pornográficos que vê em Eddie a chance de realizar seu
grande desejo, fazer uma obra no cinema que seja respeitada. O
garoto, então, se transforma em Dirk Diggler, o mais novo astro
pornô, ganha fama, notoriedade e um espaço entre as figuras
descoladas que circulam neste meio, uma espécie de família, entre
atores, diretores e produtores, amigos que cuidam um dos outros.
Entre essas pessoas, está a atriz veterana Amber Waves (Julianne
Moore) e a encantadora Rollergirl (Heather Graham), além de Reed
Rothchild (John C.Reilly), que se torna seu grande parceiro. Mas como
sempre, a fama tem seu preço, e Dirk se afunda nas drogas, perde o
rumo, sempre acreditando ser o melhor, sem perceber que seu lugar não
é tão especial assim e que facilmente poderá ser substituído por
outro.
Muito mais do que
relatar os bastidores da indústria pornográfica, “Boogie Nights”
é um retrato de uma época, a transição dos anos setenta para os
oitenta, a vida noturna, a música, a moda, as drogas, o sexo, os
sonhos de uma juventude sem rumo, as desilusões de um grupo de
pessoas que optaram por abandonar aquela vida correta repleta de
regras e viver intensamente exercendo uma função tão julgada, tão
ignorada, mas que era tudo para eles. Paul Thomas Anderson, que
também assina o roteiro, entrega alma a esses indivíduos, nos dá a
chance de olhar para seus personagens sem moralismos, sem
julgamentos, partindo sempre do pressuposto de que cada um ali é um
ser humano, acima de tudo, complexo, por vezes ambíguo, que sofre,
que sonha, que tem conflitos a ser enfrentados, como a atriz que luta
pela guarda do filho. E o grande mérito da obra foi esse, relatar,
mas sem julgar. Sabe também ser polêmico, sensual, provocativo, sem
ser obsceno, vulgar, sempre optando pelo bom gosto, sabe ser
descompromissado ao mesmo tempo em que é pesado, complexo. E assim,
nos deparamos com este brilhante roteiro de PTA, tão primoroso, rico
em detalhes, constrói personagens únicos, memoráveis, reconstrói
uma época, nos dando a chance de voltar no tempo e se deliciar com
este filme insanamente divertido e inteligente.
Sou um grande fã de
Paul Thomas Anderson, elogiar seu trabalho como diretor é quase como
chover no molhado. Ele é um gênio. Vejo isso em cada cena, em cada
tomada, em cada corte. Se não bastasse toda a originalidade de sua
obra, o diretor opta por resolver suas sequências da forma menos
ordinária possível, se utiliza de zooms, de rápidas rotações com
sua câmera, de mirabolantes planos sequência de deixar qualquer um
chocado. É tudo muito incrível, deleite aos olhos, e a excelente
edição reforça ainda mais seu talento, dinâmico ao extremo, onde
nunca perde o ritmo, me lembrando por muitas vezes seu filme
posterior, “Magnólia”, ágil e eletrizante, características
incomuns para o gênero. Para melhorar, uma trilha sonora fantástica,
talvez uma das mais incríveis que ouvi nos últimos anos, canções
pra ninguém por defeito, como as clássicas de Night Ranger, Rick
Springfield, The Beach Boys e Marvin Gaye, entre outras.
Seu elenco é mais um
ponto positivo. Julianne Moore é um monstro no cinema, é genial ao
mesmo tempo chocante sua habilidade em se transformar, sua
interpretação é belíssima, um marco em sua carreira. Burt
Reynolds também se destaca, oscilando bem entre a autoconfiança e
as desilusões de seu personagem. John C.Reilley, mais uma vez,
hilário e muito bem em cena, assim como Don Cheadle. Mark Wahkberg
realiza, de longe, seu melhor trabalho como ator, por mais que ele
suma ao lado de seus coadjuvantes de peso, ainda assim, é muito bom
o que faz, o mesmo posso dizer da bela Heather Graham, que ao longo
de sua carreira, este foi seu auge. Ainda há participações
menores, mas que surpreendem e muito em cena, como Philip Seymour
Hoffman, Alfred Molina, William H.Macy e Thomas Jane.
“Boogie
Nights” é um clássico, é mais uma excelente obra na filmografia
deste gênio, Paul Thomas Anderson. Se hoje, ele facilmente se
destaca como um dos melhores diretores do cinema, é estranho pensar
que há exatamente dezesseis anos atrás, poderíamos ter afirmado a
mesma coisa. Porque sim, “Boogie Nights” é uma obra-prima,
simplesmente não há como não dizer isso diante da beleza de cada
cena. Um filme admirável, memorável. Roteiro, direção, atuação,
trilha sonora, enfim, tudo em perfeito estado. Recomendo. E muito.
NOTA: 10
País de origem: EUA
Duração: 155 minutos
Elenco: Mark Wahlberg, Julianne Moore, Burt Reynolds, Heather Graham, John C.Reilly, Don Cheadle, William H.Macy, Thomas Jane, Philip Seymour Hoffman, Luis Guzmán, Alfred Molina
Diretor: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson
Excelente crítica. Parabéns. =D
ResponderExcluirOpa! Valeu Aaron!
ExcluirVou assitir
ResponderExcluirVi o seu blogue por acaso na Internet quando deparei com a crítica sobre Boogie Nights, gostei muito.Paul Thomas Anderson é o cara!
ResponderExcluirValeu, William! Sou muito fã do Paul Thomas Anderson!
ExcluirVi o seu blogue por acaso na Internet quando deparei com a crítica sobre Boogie Nights, gostei muito.Paul Thomas Anderson é o cara!
ResponderExcluirVi o seu blogue por acaso na Internet quando deparei com a crítica sobre Boogie Nights, gostei muito.Paul Thomas Anderson é o cara!
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