Demorei, mas finalmente assisti a tão aguardada sequência de "O Hobbit". Ainda dirigido por Peter Jackson, o filme surpreende por seus efeitos visuais e sequências extremamente bem executadas, entretanto deixa a desejar como adaptação, abusando de escolhas desnecessárias, desconstruindo de forma épica o universo criado por Tolkien.
por Fernando Labanca
Assim como a maioria das trilogias, a segunda parte carrega em si uma responsabilidade enorme, é o meio do caminho, mais do que manter as qualidades do primeiro, necessita instigar seu público a querer continuar na jornada. Alguns filmes conseguem este feito, outros passam a ser meros "filmes ponte" aquele que apenas conecta o primeiro ao terceiro. "A Desolação de Smaug" até se esforça mas não consegue ir além do que introduzir o último capítulo. Não só é pior que seu anterior como também não é capaz de criar uma narrativa bem elaborada.
Neste segundo, Bilbo e os anões continuam suas jornadas até a Montanha Solitária, agora sem os sábios conselhos e ajuda de Gandalf, eles terão de enfrentar inúmeros obstáculos, inclusive os insistentes ataques dos orc's, liderados por Azog. Entretanto, o perigo dessa vez é bem maior, precisam recuperar o tesouro que está sob o cuidado do dragão Smaug, mais do que isso, precisam recuperar a pedra de Arken, que fará de Thorin o rei de Erebor.
Difícil acreditar que este filme foi escrito a seis mãos, além de Jackson, Guillermo del Toro e Philippa Boyens também assinam o roteiro. O longa até começa bem, já fomos introduzidos a aventura no primeiro e sem muitas delongas a trama logo se desenvolve, apresentando um bom ritmo que se mantém até o final e ganha pontos por algumas eletrizantes e bem conduzidas sequências como o ataque das aranhas gigantes na Floresta das Trevas. No entanto, todo aquele encanto por Terra Média e aquele universo - tão bem explorado por Jackson e sua equipe em "O Senhor dos Anéis", diga-se de passagem.- vai sendo desconstruído de forma trágica, e no desespero nítido de querer preencher suas três horas de duração nos são apresentados elementos extremamente desnecessários, chegando ao ápice de criar um triângulo amoroso entre elfos e um anão - momentos que são salvos pela boa presença de Evangeline Lilly - e em sua parte final, ainda que muito interessante a aparição do dragão Smaug, o imaturo roteiro transforma aquele encontro que deveria ser épico em algo patético que se limita ao "essa turminha do barulho vai se meter em grandes enrascadas e aprontar todas com este dragão do mal", só ficou faltando os anões começarem a cantar mesmo.
Sinceramente não me incomoda uma adaptação ser livre para seguir seu próprio caminho, e definitivamente, este segundo filme pouco me fez lembrar do livro, não somente por introduzir informações e personagens novos, mas principalmente por preferir colocar em destaque situações que nada alteram a trama e infelizmente este é seu maior defeito, seja a bizarra aparição de Legolas ou do "vilão" Azog. Momentos que no livro dariam ótimas sequências são descartadas como o curioso banquete com Beorn - este, que poderia ter sido um bom personagem - em prol de escolhas bastante duvidosas, como o romance ou o simples fato de que nem todos os anões vão para a Montanha, e tais escolhas não são ruins porque não estão no livro, são ruins porque o roteiro não teve o cuidado de justificá-las. O mais assustador é pensar que se eles tinham três horas para preencher, porque não explorar da melhor forma este universo? Há espaço e tempo de sobra para desenvolver personagens e isso em nenhum momento acontece, muito pelo contrário, não há espaço para personagens e história, apenas para a ação, lutas, fugas e tudo o que o um bom e vazio blockbuster necessita. Para piorar a situação, os personagens entram em cena para dar voz a diálogos sofríveis, que de tão ruins acabam causando um humor involuntário.
Enquanto que o roteiro é repleto de falhas, ao menos o visual fez a experiência no cinema valer um pouco mais a pena, efeitos visuais e sonoros surpreendem, principalmente ao surgir em cena Smaug, que ganha ainda mais destaque ao ser dublado pelo ótimo Benedict Cumberbatch. "A Desolação de Smaug" é, por fim, Peter Jackson fazendo o impossível para rechear, enchendo de enrolação e firulas uma trama sem ideias, vazia do começo ao fim, e sua ganância como produtor é tanta que resolveu fazer uma trilogia e se no primeiro ainda havia dúvidas sobre se haveria assunto para tanto, aqui se prova que não há mais nada a se fazer a não ser enrolar seu público, enganar da forma mais descarada possível, coloquem Bilbo, Smaug, Gandalf e Terra Média e muitos efeitos especiais e teremos uma platéia cheia e feliz. Eles conseguiram. Entretanto não consigo não enxergar essa "trilogia" como uma grande farsa, Peter Jackson lucrando em cima de uma obra desonesta, que vende algo que não é.
País de origem: EUA/ Nova Zelândia
Duração: 161 minutos
Distribuidor: Warner Bros.
Elenco: Martin Freeman, Richard Armitage, Evangeline Lilly, Orlando Bloom, Benedict Cumberbatch, Ian McKellen, Lee Pace
Diretor: Peter Jackson
Roteiro: Peter Jackson, Phillipa Boyens, Guillermo del Toro
[Crítica: O Hobbit - Uma Jornada Inesperada]
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