Como todo ano que passa, este não poderia faltar um filme de Woody Allen. O título da vez é "Magia ao Luar", protagonizado por Colin Firth e Emma Stone. Assim como algumas de suas obras anteriores, como "Escorpião de Jade" (2001) e "Scoop" (2006), Allen volta a flertar com a fantasia em mais uma deliciosa comédia romântica. É mais um daqueles momentos descompromissados do diretor, leve, gostoso de ver, mas que aos poucos, prova ser bastante reflexivo e tão bom quanto seus trabalhos anteriores.
por Fernando Labanca
Nos palcos, Stanley (Colin Firth) é um renomado ilusionista conhecido como Wei Ling Soo, fora dele, na vida real, é um cético rabugento incapaz de acreditar em qualquer coisa que não se tenha provas de sua existência, por isso sempre é convidado a desmascarar charlatões que ganham dinheiro em cima de inocentes que creem no além. É então que, atendendo o pedido de um amigo (Simon McBurney), viaja até o sul da França para desmascarar a bela e jovem norte-americana Sophie (Emma Stone), que tem chamado a atenção de uma família rica devido aos seus dons como médium, capaz de falar com os mortos e desvendar o passado de qualquer pessoa. Entretanto, quanto mais tempo Stanley passa ao lado de Sophie, mais difícil se torna acreditar em sua farsa, mais impossível ainda, passa a ser renegar seus encantos.
Quando "Magia ao Luar" começou e sua trama passou a ser revelada, fiquei me questionando se haveria alguma chance daquilo ser realmente bom, me indaguei do porquê Woody Allen ter levado esta ideia adiante, aliás, não é sempre que o diretor acerta, por vezes, segue por um caminho bastante duvidoso, como o recente "Para Roma, Com Amor". Entretanto, não demorou muito até a obra provar a que veio, se mostra ao poucos, mais um para a lista dos bons que o diretor realizou, ainda que Allen esteja bem mais contido, descompromissado até, sem um roteiro forte ou muito complexo, é sutil, leve, e por que não? Delicioso de assistir. A trama é bem simples, mas em momento algum deixa de ser interessante, os bons diálogos estão lá, o humor afiado e teatral também.
O que prende a atenção, porém, não são, necessariamente, suas boas e inusitadas reviravoltas (que aliás, reserva uma ótima para seu final), mas sim a composição de seus personagens. É divertidíssimo, ao mesmo tempo, curioso e inteligente, este embate entre Stanley e Sophie. Ele, mais velho, cético, não acredita no sobrenatural, vida após a morte ou em nada que não esteja ao alcance de seus olhos ou de sua compreensão. Sophie, por sua vez, é jovem, acredita na magia por trás de cada coincidência. É então que as certezas de Stanley e suas crenças racionalistas vão sendo testadas e passa a sentir uma estranha felicidade ao compreender que o mundo não é tão limitado quanto sempre acreditou ser, que a vida pode ir mais além, que a morte pode não ser o fim. Interessante também é o fato de Stanley jamais conseguir decifrar as verdades da jovem, como se a mulher fosse um encanto jamais decifrável, precisaria se desprender de sua razão para, enfim, conseguir compreender o amor. Claro que, como sempre, o diretor e roteirista tem o auxílio de bons atores e ter Colin Firth e Emma Stone como protagonistas foi um grande acerto. Ambos estão ótimos em seus papéis e a boa química que há entre eles torna a obra ainda mais adorável. O pano de fundo é outro ponto que nos desperta o encanto por este seu novo trabalho, as paisagens da Riviera Francesa encaixada no charme da década de 20 são belíssimas, destacando assim, a boa produção, que acerta na composição dos cenários e figurinos.
Ainda que sempre bem-humorado, "Magia ao Luar" é uma obra bastante reflexiva, traz este embate entre o novo e o velho, o ceticismo e a crença, a realidade e a fantasia. Se no início da obra tive minhas dúvidas sobre os motivos que Woody Allen teve ao querer desenvolvê-la, ao seu fim, percebi o quão propício foram suas escolhas. Seriam os artistas, assim como ele, os verdadeiros trapaceiros que ele denúncia em seu filme? Aqueles que mentem, que enganam, que nos fazem acreditar, ainda que em poucos minutos, na fantasia. E como Sophie diz em certo momento, às vezes ter mentiras é melhor do que verdades, pois ao decorrer da vida, acreditar na magia é só uma maneira de tornar a realidade suportável. Divertido, inteligente e surpreendentemente bom, "Magic in the Moonlight" é um dos trabalhos mais adoráveis que o diretor realizou nos últimos anos.
NOTA: 8,5
País de origem: EUA, França
Duração: 97 minutos
Distribuidor: Imagem Filmes
Elenco: Colin Firth, Emma Stone, Simon McBurney, Eileen Atkins, Hamish Linklater, Jackie Weaver, Marcia Gay Harden
Diretor: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
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