quinta-feira, 14 de julho de 2016

Crítica: O Experimento de Aprisionamento de Stanford (The Stanford Prison Experiment, 2015)

Baseado no experimento real realizado na Universidade de Stanford em 1971, o filme tem o poder de assustar e causar um grande incômodo ao revelar o quão cruel o ser humano é capaz de ser quando se tem poder em mãos. Forte, atual e revoltante, uma obra que traz grandes questionamentos e reflexões.

por Fernando Labanca

Por ser conhecido como o experimento mais polêmico da história da psicologia e por seu resultado ter sido tão chocante, a sétima arte encontrou nele o ambiente perfeito para algumas válidas discussões, logo que não é a primeira vez que o tema vira filme. Em 2001, tivemos o alemão "A Experiência" e uma outra versão norte-americana, "Detenção" de 2010, com Adrien Brody e Forest Whitaker. Este que comento, lançado oficialmente ano passado no Festival de Sundance, traz uma produção menor, simples, mas ainda assim poderosa, que vai ganhando, aos poucos, grandes proporções. Cheguei a conferir o longa alemão e apesar de muitos o preferirem, fico com esta versão atual, que me pareceu muito mais realista, que conseguiu explorar melhor suas ideias e não caiu na mesma armadilha que o anterior, que se deixou virar uma obra de ação qualquer, com direito a violência e perseguições.





     style="display:block"
     data-ad-client="ca-pub-9526487585322077"
     data-ad-slot="8051585349"
     data-ad-format="auto">




Na trama, o professor e doutor em psicologia, Philip Zimbardo (Billy Crudup), recruta jovens interessados em participar de um curioso experimento, onde deveriam ficar confinados na Universidade de Stanford por duas semanas e seriam pagos por isso. Separando em dois grupos, o dos seguranças e o dos prisioneiros, a ideia era fazer uma simulação de uma prisão, conseguindo assim, realizar um estudo mais profundo sobre como estar confinado afeta o comportamento humano.

Toda a construção da trama é extremamente interessante. Curioso em como é feita a seleção desses jovens, a apresentação de cada um e como o papel em que deveriam simular é definido por cara ou coroa. Em como se lançam neste projeto pelo dinheiro e quando perguntados sobre qual grupo prefeririam participar logo respondem que seria o dos prisioneiros, pelo simples motivo de que ninguém gosta dos guardas. É interessante analisar a presença de cada um ali, em como cada um aceita seu "personagem" dentro da simulação proposta, inclusive daqueles fora do jogo, como o professor e seus ajudantes que logo se tornam peças cruciais do estudo. No entanto, o que faz deste experimento tão impactante na tela, é poder ver, de forma crua e bastante realista, esta relação do homem com o poder, o quanto ele se corrompe, o quanto ele se transforma. "Se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder", já dizia Abraham Lincoln. O filme, por fim, é a síntese perfeita deste pensamento, ao colocar seres tão comuns dentro de um local fechado, sem saída, ao entregar submissão a uns e poder a outros. Não deixando de ser um assustador estudo sobre obediência, em como aceitamos nosso papel sem questionamentos diante de qualquer contexto. Aos julgados inferiores, aceitam a humilhação. Aos que se colocam como donos do local, se utilizam de jogos sádicos para deixar esta separação ainda mais clara, aceitam com facilidade e um certo contentamento em ser o controle.

O que chama a atenção na produção, também, apesar de ser independente e possuir um formato simples, é seu grande elenco. Encabeçado pelo veterano e sempre competente Billy Crudup, conseguiram reunir um time invejável de jovens atores, nomes promissores do cinema atual como Tye Sheridan, Thomas Mann, além dos já conhecidos e ótimos Ezra Miller e Michael Angarano. Se existe um pecado em "O Experimento" é este receio em polemizar, em criar uma obra mais forte e mais impactante, assim como a trama exigia. Com muitos desfoques, o diretor Kyle Patrick Alvarez por vezes opta em suavizar suas duras sequências, perdendo assim a chance de ser algo realmente marcante. No entanto, a curiosidade causada pela trama, suas boas ideias e as excelentes atuações seguram o filme. Tanto para os admiradores de psicologia quanto para aqueles que procuram algo denso e que garante ótimas reflexões, o longa é imperdível. Inquietante, perturbador e sufocante, sem dúvidas, vale uma conferida.  

NOTA: 8,5



País de origem: EUA
Duração: 122 minutos
Distribuidor: Universal Pictures
Diretor: Kyle Patrick Alvarez
Roteiro: Tim Talbott
Elenco: Billy Crudup, Michael Angarano, Ezra Miller, Tye Sheridan, Olivia Thirlby, Johnny Simmons, Brett Davern, James Frecheville, Ki Hong Lee, Thomas Mann, Keir Gilchrist



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe um comentário #NuncaTePediNada

Outras notícias