quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Crítica: De Canção em Canção (Song to Song, 2017)

Terrence Malick retorna para discutir sobre o vazio existencial de seus personagens. Peca, novamente, ao cair na própria armadilha, logo que "De Canção em Canção" é tão oco quando aqueles indivíduos que acompanhamos na tela e tão esquecível quanto os últimos trabalhos do diretor. 

por Fernando Labanca

Alguém precisa realizar uma intervenção com Malick. Urgentemente. Responsável por obras-primas do cinema como "Além da Linha Vermelha" (1998), o diretor que por anos se manteve afastado realizou um retorno surpreendente em 2011 quando lançou o belíssimo "A Árvore da Vida". O que ninguém esperava, porém, é que ele se esgotaria ali. Tudo o que veio após não passou de uma repetição de ideias, temas e personagens. Desta forma, "Song to Song" nada mais é que uma extensão de "Amor Pleno" (2012) e principalmente de "Cavaleiro de Copas" (2015), com indivíduos filosofando sobre a vida - em uma interminável narração em off -, pronunciando pérolas como "Estou perdida / Achava que não tinha mais alma", enquanto caminham desolados a lugar algum, sentindo o peso do mundo sob seus ombros. Ou seja, Malick sendo Malick...e ninguém aguenta mais isso, ninguém mais pede por isso. E afirmo com bastante frustração, pois se trata de um dos meus diretores favoritos.


A narração em off que acompanha o filme todo é a muleta do diretor. Parece a ferramenta que ele encontrou para conectar suas sequências que não possuem lógica alguma. A narração cansa por ser vazia e por fim, jamais alcança sua intenção, logo que temos aqui mais uma obra sem sentido em sua desgastada filmografia. Não há roteiro. Fato. O que Malick tem feito é simplesmente entrar em contato com atores brilhantes, deixar que eles fiquem ali, agindo de forma aleatória, dizendo qualquer coisa e depois ele decide o que fazer com o material coletado. É assim que, no fim das contas, o longa que se chamaria "Weightless" e teria Christian Bale e Haley Bennett como protagonistas - e sim, eles chegaram a gravar suas cenas - são descartados do corte final e, de repente, temos outra trama e a vida segue assim. Isso soa um tanto quanto irresponsável por parte do criador e deixa a sensação que nem mesmo ele sabia o que queria, mas resolveu editar e lançar o filme mesmo assim. Por outro lado, é nítido que existe cinema ali, a montagem com cortes rápidos é hipnotizante, as locações são belíssimas, assim como a irretocável fotografia, onde marca mais uma parceria com Emmanuel Lubezki. Logo, é triste ver um produto tão elegante e charmoso como "De Canção em Canção" ser descartável e tão sem sentido. Tão vazio. Apenas mais um projeto experimental prepotente e pretensioso de Terrence Malick. 

O longa foi filmado durante um festival de música no Texas, o que nos permite ver algumas figuras importantes durante as sequências, como os membros do Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, Florence Welch e surpreendentes aparições de Patti Smith e Lykke Li. Isso traz uma agradável vibe musical à obra, onde suas tantas tramas são ilustradas por excelentes canções ao fundo. O que salva, também, é o elenco. Ryan Gosling tem seu carisma, mas não vai além do de sempre. Natalie Portman e Holy Hunter tem seus bons momentos, mas é Michael Fassbender e Rooney Mara que roubam a cena. Mara, aliás, brilha, traz vida ao filme, ilumina todos os instantes que está presente. Sua parceria com Gosling e Fassbender funciona, mas fica a sensação que teria sido ótimo um roteiro ali para fazer suas presenças terem algum sentido. Um grande desperdício de talento. Aliás, um grande desperdício de tudo, inclusive de nosso precioso tempo. Desta nova safra de Terrence Malick de filmes sem razão para existir, este talvez seja o menos pior. Tem seus raros e bons instantes, mas nada que não me faça torcer para que este gênio retorne à boa forma. 

NOTA: 6


País de origem: EUA
Duração: 128 minutos
Distribuidor: Supo Mungam Films
Diretor: Terrence Malick
Roteiro: ?
Elenco: Rooney Mara, Ryan Gosling, Michael Fassbender, Natalie Portman, Holly Hunter, Cate Blanchett, Linda Emond, Val Kilmer



Um comentário:

  1. É bom, mas um pouco confuso! Terrence Malick é um daqueles diretores que ou se ama ou se odeia. Sua estética apurada, de linguagem rebuscada e muito existencialismo conquista o público com a mesma intensidade que o afasta, e um exemplo dessa relação de amor e ódio é seu novo trabalho DE CANÇÃO EM CANÇÃO, que novamente traz um elenco estelar com Michael Fassbender, Ronney Mara, Ryan Gosling (Do óptimo Novo Filme Blade Runner 2049 ), Natalie Portman e ainda conta com várias outras participações mais do que especiais, que falaremos mais a frente. DE CANÇÃO EM CANÇÃO é a prova de que o talento contemplativo e filosófico de Malick pode abordar vários temas e tomar várias formas, afinal, não importa o que façamos ou como vivamos – a reflexão sempre será necessária. Nossa existência depende disso, pois assim como disse o filósofo francês René Descartes no livro O Discurso do Método de 1637: “Desde que eu duvide, eu penso; porque eu penso, eu existo”.

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