domingo, 6 de março de 2011

Cinema: Bruna Surfistinha

Baseado na obra "O Doce Veneno do Escorpião", o filme acompanha a trajetória de Bruna Susrfistinha pelo mundo da prostituição, e assim como o livro, é algo que vai além do que muitos imaginavam.

por Fernando Labanca

Lançado em 2005, o livro escrito pelo jornalista Jorge Tarquini, baseado nos depoimentos de Bruna em seu blog, a ferramenta da internet que a tornou "famosa", mostrava duas histórias paralelas, a de Bruna Surfistinha, e sua vida como prostituta e a de Raquel Pacheco, uma jovem de classe média e as atitudes que a levaram para o mundo da prostituição. Diferente do livro, o filme de Marcus Baldini preferiu seguir uma história linear e não focar muito na vida de Raquel e sim a de Bruna.

Raquel, interpretada por Deborah Secco, é filha adotada e vive em uma família conservadora, e simplesmente pela curiosidade decide ir atrás de uma casa de prostituição e cansada de sua vida e de algumas humilhações que sofre na escola decide abandonar tudo, deixar tudo para trás. Garota desajeitada e longe de ser a popular, ela passa a trabalhar como prostituta, e logo faz sucesso entre os clientes, causando a ira das veteranas. Decidida a não chorar e a seguir de cabeça erguida neste ramo, ter independência e ser dona de si, escrever seu próprio destino sem intervenção de ninguém mais, ela cresce, e vira Bruna.

Entre os clientes mais fiéis estava Hudson (Cássio Gabus Mendes), que sempre tentava conhecer um pouco mais sobre Bruna, seus segredos e principalmente seus motivos para estar ali. Ela se torna a popular, fica rica e amiga de todas, não demora muito para arrumar seu próprio negócio e depois de alguns conflitos passa a trabalhar sózinha, passa a ser uma prostituta de luxo, Bruna Surfistinha, e usa o blog para se promover. Eis que perde o controle de sua vida, conhece as pessoas erradas e junto com elas, as drogas. E quando chega ao fim do poço, passa a refletir sobre suas escolhas.

O filme em nenhum momento se prende nos porquês de suas atitudes, o porquê de escolher esta vida, mas são nas entrelinhas que vamos buscando fatos e formulando nossa própria opinião, como o fato dela sentir falta de sua família, mas daquela que nunca teve, daquela que nunca chegou a conhecer, queria um espaço que era seu de verdade, e mais do que ser uma celebridade, queria no fundo mesmo, era ser amada. E também nestes casos, não se prende ao dramalhão, é tudo sutil, tudo ocorre de forma correta e acima de tudo, de forma muito sincera e assim consegue comover.

"Bruna Surfistinha" é um filme interessante, e assim como o livro vai além de qualquer expectativa. Existem mudanças no roteiro, e muitas, personagens acrescentados, cenas inexistentes e vários acontecimentos ocultados, mas não deixa de ser uma adaptação correta, ao meu ver, consegue captar a essência do livro, e suas alterações foram muito bem feitas, construindo um roteiro poderoso e nas mães do diretor certo, Marcus Baldini. Um filme cativante, divertido, com boas piadas e sequências hilárias, sem deixar de focar no drama, com bons diálogos e um final comovente, personagens secundários bem escritos e muito bem inseridos na trama. Um roteiro bem desenvolvido, que consegue nos mostrar e convencer as transformações de Bruna, desde seu auge até sua decadência, sem defender sua causa, mas tembém longe de ter preconceitos. Além das locações bem escolhidas e uma trilha sonora, em boa parte, internacional, mas que diferente de muitos filmes nacionais que optam por isso, consegue inserí-las na história de forma eficiente, como a canção da banca aclamada Radiohead, "Fake Plastic Trees".

Assim como o filme, Deborah Secco me surpreendeu. Na pele de Bruna, a atriz se entrega de corpo e alma, apagando seus trejeitos de novelas globais, e assumindo uma personagem difícil, seu olhar, seu sorriso, até mesmo sua sensualidade são diferentes para a composição de Bruna, uma ótima atuação, que com certeza, sem sua ótima performance, o filme não teria o mesmo efeito. Coadjuvantes de peso também contribuem como Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes e Fabiula Nascimento.

Quando soube da adaptação do livro para o cinema, fiquei com um pé atrás, poderia muito bem se transformar num filme erótico, mas felizmente estava errado quando ao meu medo, fizeram um excelente filme, as cenas de sexo estão lá, nudez, e portanto não levem a família para assistí-lo, por outro lado, em nenhum momento são apelativas e exageradas, estão na dose certe, necessárias para a compreenção da trama, não deixando de ser ousado, é claro. Um ótimo roteiro, que consegue com competência passar sua mensagem.Vale cada centavo, um ótimo filme nacional, que me surpreendeu com sua qualidade, e garanto que surpreenderá muitos. Recomendo, um programa imperdível.

NOTA: 9


Um comentário:

  1. Li o livro há um tempinho atrás e achei um lixo...nem tô afim de ver o filme, mas gostei do seu texto..parabéns!
    Ah, e me perdoe se eu ainda não escrevi nada sobre aqueles outros filmes que eu tinha pedido pra vc deixar eu escrever..é que simplesmente não consigo escrever nada agora! Tento, mas não sai nada! Talvez no fim de semana que vem eu escreva, ok?
    Bjo

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