Nasceu no Festival de Cannes do ano passado, no qual concorreu na categoria Melhor Ator para Sean Penn. É o primeiro trabalho em solo norte-americano do italiano Paolo Sorrentino e conta, através de um road movie bastante peculiar, a trajetória de um ex-astro do rock decadente em busca de vingança.
por Fernando Labanca
Conhecemos Cheyenne (Sean Penn) e seu estranho mundo, é um astro da música que não pisa no palco há mais de duas décadas, chegou aos cinquenta anos e vive de sua antiga renda ao lado de sua companheira (Frances McDormand) numa mansão. No entanto, age como nos tempos em que era um rockstar, como se fosse um adolescente, transvestido daquilo que ele não é, fala de modo estranho, age de forma excêntrica, sem muitas responsabilidades e com muito pouco com que se preocupar. Eis que decide viajar para Nova York, assim que recebe a notícia que seu pai estava mal de saúde, um homem com quem não conversava há trinta anos. Porém, chega tarde demais, ele havia falecido e como último ato para seu pai, decide se vingar, partindo pelas longas estradas dos Estados Unidos, em busca daquele que o torturou no campo de concentração de Auschwitz nos tempos de guerra.
"Tem algo errado aqui, não sei o que é, mas tem." Esta frase é dita por Cheyenne durante todo o filme, diante de cada situação bizarra que enfrenta em sua vida. Curioso o fato desta mesma frase traduzir o sentimento que senti durante toda a trama, há algo de muito errado em tudo aquilo, mas é sempre difícil de definir exatamente o que é. Assim que o filme termina se instala um sentimento de vazio, um road movie que não nos leva para longe, que viaja mas não sai do lugar. A impressão que fica é que Paolo Sorrentino pensou em seu roteiro em partes, mas se esqueceu de visualizá-lo como um todo. Tudo é extremamente bem feito, cenas cheias de detalhes, muitos deles desnecessários, mas tudo acontece com um cuidado que chega a ser comovente, a direção de Sorrentino é definitivamente primorosa, as situações mostradas nos prende pela excentricidade, pela curiosidade de compreender aquele universo, há também diálogos inteligentes que por vezes surpreendem. No entanto, enquanto esses elementos funcionam perfeitamente bem isoladamente, se tornam incoerentes quando vistos como um todo, uma sequência de situações aleatórias, que separadas, são belas, mas juntas, não funcionam, é como se não fizessem parte de uma mesma ideia. É extremamente nonsense sua busca por vingança, a relação daquele astro com o Holocausto, pensamentos tão distantes que não há um porquê de estarem no mesmo roteiro. Chegamos ao seu fim e mal nos lembramos de seu começo, logo que não há nenhuma ligação entre eles.
"Aqui é o Meu Lugar", apesar de sua nítida incoerência narrativa, possui seus momentos brilhantes, isso devido a belíssima direção de Sorrentino, que constrói cenas muito bem planejadas, visualmente falando, é então que a fotografia se torna um grande destaque. A trilha sonora é outro ponto positivo, enaltecendo cada cena, cada sentimento. Alguns diálogos, também, são quase uma bela poesia, "Há muitas formas de morrer, a pior delas é continuar a viver", "antes do inferno, havia meu lar", entre outras vindas de um roteiro bem escrito e bastante inspirador. Muito desses diálogos servem para costurar a personalidade do protagonista ao decorrer do filme, é ele a grande atração de tudo, o longa cativa pela peculiaridade de sua vida e de sua jornada, mesmo que no fim, ela não chegue a lugar algum. Para isso, Sean Penn em mais uma boa atuação de sua carreira, porém alguns trejeitos soam forçados como a soprada constante em seu cabelo caído na testa e de fato não se compara aos grandes momentos do ator no cinema, mas ainda assim, se destaca, consegue traduzir bem este estranho homem, sem parecer cômico demais, exagerado demais, trás naturalidade, algo que parecia impossível. Ainda revemos a sempre ótima Frances McDormand e conta com algumas boas participações de um elenco desconhecido, tendo com uma das melhores sequências, a participação da irlandesa Kerry Condon que emociona por sua delicadeza. E como curiosidade, a ilustre presença de David Byrne, o vocalista da banda Talking Heads, no qual o próprio título do filme teve como inspiração uma de suas canções.
Vale pele originalidade e pela qualidade, por mais que tenha seus defeitos, não deixa de fazer parte de um cinema raro. Mesmo fora de seu país, Paolo Sorrentino realiza um trabalho, no mínimo, interessante, pecou em seu roteiro, que mesmo possuindo bons diálogos e boas intenções, não consegue criar um foco em sua narrativa, construindo um amontoado de situações aleatórias, desperdiçando uma premissa que de início pareceu boa, deixando seu grande personagem vagando em direção ao nada, onde sua complexidade e peculiaridade são ignoradas em prol de um destaque sem fundamento, o campo de concentração de Auschwitz, a história de seu pai, as torturas que sofreu, enfim, não era o momento para tais discussões, logo que tudo acaba sem grandes conclusões. No entanto, ainda consegue divertir em diversas passagens e emocionar com a trajetória de Cheyenne, este homem que esqueceu de crescer, que mais do que ir atrás de vingança, foi atrás de uma dor real, que fizesse ele sentir algo profundamente, mesmo que esta dor não fosse sua, queria sentir vida, a vida que o vazio de sua rotina o fez esquecer.
NOTA: 7
Acho que você deveria assistir novamente o filme. Cada detalhe tem uma razão ao ser mostrado na trama.
ResponderExcluirAbraço.
queria entender ,porque desde o inicio ele está puxando um carrinho e depois a mala
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