Mais um indicado na categoria Melhor Filme no Oscar 2013, "Os Miseráveis" é uma adaptação do musical da Broadway baseada na clássica obra de Victor Hugo. Com direção de Tom Hooper (O Discurso do Rei), o filme acompanha, através de canções, o drama de diversos personagens durante a Revolução Francesa. Com visual impecável, vemos um bom momento na carreira de Hugh Jackman e Anne Hathaway.
por Fernando Labanca
Revolução Francesa, século XIX. Conhecemos a miséria de Jean Valjean (Jackman) que por roubar um pão vai preso, no entanto, ao ganhar sua liberdade, passa a ser perseguido pelo policial Javert (Russell Crowe). Anos depois, com outra identidade e uma nova vida, Jean se depara com a miséria de Fantine (Hathaway), uma mulher que entrega seu corpo e sua alma para ganhar dinheiro e assim sustentar sua pequena filha, Cosette, que por sua vez, vive com os trambiqueiros Thénardier (Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen). Com a promessa de salvar a garota, Jean inicia um novo rumo a sua vida, amando e cuidando de Cosette, que muito tempo depois, já crescida (Amanda Seyfried), se apaixona por um revolucionário (Eddie Redmayne), que tem seu coração dividido entre a paixão pela bela moça e a luta em nome de sua nação.
Apesar de ser uma grande produção, "Os Miseráveis" pode muito bem ser considerado um filme experimental, isso porque a ousadia de Tom Hooper coloca seus atores cantando ao vivo nas gravações, dando maior realismo para suas expressões, mostrando uma força e coragem de um elenco que poucas vezes se viu em um musical. Aliás, fazia muito tempo que não víamos um musical tão grandioso como este, talvez, desde "Chicago". É tudo muito grande, o esforço nítido dos atores, a composição dos cenários, o cuidado com os figurinos e com todo o visual que surge em perfeito estado. Tom Hooper, por sua vez, parece querer levar ao pé da letra a adaptação teatral para o cinema, onde a impressão que fica é que nem mesmo ele compreendeu a grandeza de seu projeto e as grandes proporções que sua obra poderia alcançar, sua câmera parece não entender que isso é cinema, não mais teatro, seu realismo passa a ser forçado e o que poderia ter sido maior, como as sequências da revolução ao ar livre, surge pequeno, é como se houvesse um universo enorme nas mãos dele, porém, nem sempre ele transmite da melhor forma.
O roteiro assinado por William Nicholson, já acostumado com obras de época, ele que escreveu "O Gladiador" e "Elizabeth - A Era de Ouro", retorna na difícil missão de levar um musical para as telas. Vemos a miséria sob diversas perspectivas, seja daquele homem infeliz e vazio que tenta se redimir através do amor da filha que o destino lhe deu, seja daquela mulher que se prostituiu para salvar aquela que amava, ainda vemos o casal de oportunistas que encontram na trapaça e no roubo a única maneira de sobreviver, ou aquela jovem garota pobre que encontra no amor o único sentido para sua vida. Em seu roteiro, não é nítido, mas há diversos capítulos, alguns personagens tem seu início, meio e fim em poucos minutos, como é o caso de Fantine. O ponto de partida é a libertação de Jean Valjean e toda a sua trajetória vai dando vida a outros indivíduos, e a meu ver, isso foi um grande acerto, pois todos os personagens tem seu espaço, são bem desenvolvidos, onde cada um tem sua importância na trama. O problema de haver essas "subtramas" é que durante todo o filme, e eu estou falando de duas horas e meia de filme, como uma amiga minha disse e gostei de seu termo, há uma quantidade exagerada de "ápices dramáticos", ao seu final, já não mais aguentava tanto drama, tanto sofrimento de tantos personagens. O problema fica maior ainda quando todos esses intermináveis conflitos são cantados, é preciso dizer que gosto de musicais e não é de hoje que admiro este gênero, mas "Os Miseráveis" foi muito além do tom ideal, as canções extremamente melancólicas fazem deste longa jornada uma experiência ainda mais cansativa e maçante, se os dramas já são pesados, ficam ainda mais quando estes são cantados pelas vozes sofridas de seu elenco.
A sorte deste musical é que seu elenco é bastante corajoso. Não consigo entender esta surpresa das pessoas sobre a atuação de Hugh Jackman, é com certeza, o melhor momento de sua carreira, finalmente se consagra como ator, no entanto, este não é seu primeiro bom trabalho, quem viu obras como "O Grande Truque" de Christopher Nolan e "Fonte da Vida" de Darren Aronofsky, sabe muito bem disso. Jackman é o grande destaque deste musical, apesar de não cantar tão bem e desafinar constantemente com seus diálogos cantados, seu esforço como ator impressiona, se joga inteiramente neste difícil personagem. Anne Hathaway, é claro, é outro bom destaque onde já era assunto antes mesmo do filme lançar, sua magreza, seus cabelos raspados, a dor de sua voz e o sofrimento de seus olhos e suas expressões emocionam de forma intensa e seu memorável número musical "I Dreamed a Dream" é aquele que fica na nossa cabeça assim que o longa termina. Já Russell Crowe surpreende de tão ruim, além de cantar mal, o ator faz questão de não se expressar durante todo o filme, para piorar, seu personagem é o que há de pior neste musical, numa perseguição sem graça e insistente com o protagonista Jean Valjean. Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen estão bem em cena, são o alívio cômico no meio de toda a desgraça do roteiro e assim acabam salvando diversas sequências, é o ânimo no meio do sofrimento, o que é muito bom. Do restante do elenco, temos a novata no cinema Samantha Barks, jovem, porém é uma das grandes vozes do musical e a bela Amanda Seyfried e Eddie Redmayne que também estão ótimos. Sim, claro, a verdade é que não há nenhum grande cantor nesta produção, há muita desafinação e isso prejudica diversas cenas, no entanto, como disse anteriormente, é nítido o esforço de todos em cantar, vale por ver grandes atores se entregando desta forma, não recomendo sua trilha sonora, mas na tela, apesar dos erros, tudo é mais belo quando há ótimas atuações por trás das canções.
"Os Miseráveis" provavelmente será lembrado entre os bons exemplos de musicais no cinema. Não é meu preferido e sinceramente esperava muito mais dele, porém sua beleza é inquestionável, toda a equipe deste filme, seu diretor e seus atores fazem de tudo para o melhor e isso é admirável, ver o esforço de muito trabalho, ver o quanto é um projeto arriscado, por ser tudo muito grande, muito ousado, ver o respeito do roteiro para com a obra original, tudo isso conta e fazem deste longa um musical de grande qualidade e que merece ser apreciado. Confesso que me cansou, duas horas e meia de pessoas cantando sem intervalos numa história pesada e com uma carga dramática muito acima do aceitável, este é o "Os Miseráveis" que tem emocionado muita gente, mas com certeza não é para todo o tipo de público. Gostei, é belo e muito bem realizado, e mesmo com suas falhas, Tom Hooper prova, mais uma vez, ser um diretor competente, que arrisca, que procura soluções nada fáceis, e mesmo com seus exageros, emociona.
NOTA: 8
Quero TANTO TANTO TANTO assistir, que nem li suas criticas. Por culpa de uma amiga (Dri) eu não consegui ver, mas logo que tiver uma boa opinião, transcrevo ela aqui.
ResponderExcluirEeeee...assista sim, Camila! Depois volta aqui e comenta oq achou!!!
ExcluirFilme muito bom !! <33333
ResponderExcluirLi o livro e assisti ao filme de 1998 com Lian Nieeson, Geoffrey Rush e Claire Danes. Amei tanto o filme que já assisti várias vezes e tenho até o DVD! O trabalho desses artistas é magnífico! Fernando, me recuso assistir a este filme de 2012! E ainda musical.....não... não...Assista Fernando e gostaria que vc comentasse aqui! Obrigada
ResponderExcluirCelia, nunca vi essa outra versão, mas já li a respeito e realmente pareceu interessante! Também nunca li o livro (está na lista), mas até que gostei desse filme de 2012, cansa por ser 100% cantado (apesar de eu gostar de musicais), mas vale a pena arriscar...os atores estão muito bem, principalmente o Hugh Jackman e a Anne Hathaway.
ExcluirFernando vc me convenceu, vou arriscar, rsrs.. O livro de Vítor Hugo envolve muitos personagens, a sociedade da época, costumes e a miséria pós guerra, nos mínimos detalhes! Li qdo ainda era estudante, mas me marcou muito pela época! Faz muito tempo....rsrs...Abraços
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