quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Crítica: O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook, 2012)

Todo ano, Hollywood parece selecionar um filme, aparentemente independente e de preferência uma comédia dramática, o coloca nas mais importantes premiações o transformando em "cult". O selecionado deste ano é o novo projeto do diretor David O.Russell, "O Lado Bom da Vida". Com elenco afiado e uma história cativante, o filme pode não ser tão incrível quanto querem que ele seja, logo que é um dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, no entanto, não deixa de ser uma obra interessante e porque não, uma obra adorável.

por Fernando Labanca

Após ver sua mulher o traindo dentro de sua própria casa, Pat (Bradley Cooper) surta e vai parar numa clínica para tratar seus sérios problemas emocionais. Ao sair do local, tudo indicava que sua vida voltaria ao normal, assim como a paz em sua família, o que não acontece. Ainda atordoado pelos acontecimentos, acredita que pode se reconciliar com sua esposa, tendo atitudes estranhas como procurar seu vídeo de casamento em plena madrugada ou tentar compreender os livros que ela, professora de literatura, ensinava para seus alunos. Dentro de sua casa, porém, nada é tão normal assim, seu pai (Robert De Niro) é viciado em apostas e acredita que os jogos de futebol pode uní-los. Eis que, certa noite, um casal de amigos lhe apresenta Tiffany (Jennifer Lawrence), uma jovem viúva, ainda transtornada pela morte de seu marido e digamos, tão louca quanto ele. De certa forma, acabam se unindo devido seus problemas mentais e ele passa usá-la para reconquistar sua mulher, logo que por ordem judicial, não poderia se aproximar dela, nem mesmo lhe entregar uma tão sonhada carta, é então que entra Tiffany, que oferece ajuda. Em troca, Pat teria que aprender a dançar para juntos enfrentarem um concurso de dança. E sem que percebessem, esta louca e imprevisível relação dos dois acaba os salvando e os trazendo de volta para a vida real.


David O.Russell, que em 2010 lançou "O Vencedor", também indicado ao Oscar, mostrou sua grande habilidade como diretor e também sua habilidade em compreender as famílias excêntricas e da mesma forma que seu filme anterior, a família tem grande peso nas escolhas de seu protagonista, por mais bizarra que ela seja. David, também, não escrevia um roteiro desde seu filme de 2004, "Huckabees", no qual, alguns de seus personagens sentiam a ausência de algo em suas vidas, um certo vazio. Talvez essas habilidades que aprendeu ao longo de sua carreira, sua tentativa em compreender os seres humanos, o fez saber lidar com propriedade a velha história do "de perto, ninguém é normal". É tanta loucura que se vê em seu roteiro e todos aqueles excêntricos personagens que nunca sabemos se devemos ter pena ou nos divertir com suas jornadas. É interessante como os indivíduos nos são apresentados, sem julgamentos ou moralismos. Mais interessante ainda é quando ao conhecermos a família do tal louco da história, percebemos que são tão problemáticos quanto ele.

O casal de desajustados, que não se encaixam na sociedade e com seus sérios problemas emocionais. O cinema quase nunca viu um casal como este e por isso eles se tornam tão adoráveis, por mais loucos que sejam, Pat e Tiffany nos conquistam e torcemos por eles. O roteiro a todo instante alerta, um precisa do outro para viver. Chega a ser emocionante como eles acabam se salvando, como um acaba dependendo do outro para se fortalecer, renascer em meio aos seus problemas. Por este lado, o novo longa de O.Russell inova, simplesmente por ousar criar uma nova estrutura para um gênero tão desgastado, a comédia romântica. Não chega a ser um marco, muito menos tenta fugir dos clichês, mas encanta por seus protagonistas, seja pela maneira como se conhecem - ousaria dizer, foi um dos "primeiros encontros" mais geniais que já vi, onde a sinceridade e honestidade para com o outro assusta e diverte ao mesmo tempo -, seja também por toda a trajetória deles.

No entanto, "O Lado Bom da Vida" que de início parece algo inovador, vai logo mostrando que não foge das convenções do gênero. Seu final é bastante previsível e toda a história do concurso de dança está longe de ser tão original assim, apesar de ser agradável. A velha história de pai e filho que não se entendem, mãe que tenta ser o pilar de tudo, o ator negro e melhor amigo do protagonista que surge apenas para fazer piada Aliás, esta função ficou para o ator Chris Tucker, que é até engraçado, mas sua presença não faz o menor sentido, nunca. Robert De Niro está ótimo, mas confesso que me incomodou bastante todos os seus longos e chatos discursos sobre esporte, como se o público fosse obrigado a entender e a gostar de tudo aquilo. Tudo bem que o fato dele ser viciado em apostas tem lá seu sentido na trama, principalmente em seu final, mas irrita, ainda mais quando começa a ter muito destaque na história, por vezes tirando espaço do casal, que de longe é a coisa mais interessante no filme. E todas as cenas que acontecem na casa de Pat são de uma confusão extrema, chegando a ser difícil compreender o que está acontecendo. Pessoas gritando e andando a todo instante, um caos que nem sempre funciona.

Por mais que sua história seja cativante, a obra não deixa de ser um filme de atuações. Não é a toa que os quatro principais estão sendo indicados ao Oscar. Bradley Cooper, aquele que sempre víamos em comédias, finalmente prova que é capaz de ir além, convence no drama e compreende as inúmeras oscilações de seu difícil personagem. Robert De Niro que há muito tempo não aparecia tão bem em cena, surge incrivelmente bem. Já a australiana Jacki Weaver acaba não se destacando tanto. Sinceramente não consigo entender a badalação em cima da atriz, foi indicada ao Oscar há dois anos por "Reino Animal" e agora de novo. Ela é boa mas não é para tanto e aqui, infelizmente, ela só tem espaço para suas caras e bocas e sua indicação como Atriz Coadjuvante não faz sentido. Por fim, a belíssima Jennifer Lawrence, sem sombra de dúvida, uma das maiores revelações do cinema dos últimos anos. Os atores deste filme são bons, mas é ela quem definitivamente rouba a cena, faz de "O Lado Bom da Vida" muito melhor do que deveria ser. O filme se torna mais interessante quando ela entra em cena, fazendo de todas as outras em que ela não está presente menos empolgantes. Lawrence salva o filme e por ela já vale a pena ver. 

"O Lado Bom da Vida" é pouco para sua indicação ao Oscar de Melhor Filme e isso, infelizmente, pesou. Querendo ou não, este título acaba criando certa expectativa muito maior do que se não tivesse sido indicado. Poderia ter sido uma grande surpresa, poderia ter ganhado fama no boca-a-boca, mas não, a fama do Oscar o prejudicou. É, na verdade, uma grande produção disfarçada de filme independente. No entanto, entre tantos defeitos, que sempre faço questão de citar, o filme me agradou, aliás, é bem difícil não agradar. É feito para o público sair com um sorriso no rosto e consegue este feito com muito êxito, porém, diferente de tantas comédias românticas, este procura caminhos não tão fáceis para a resolução de seus conflitos. Seus personagens não são estereotipados, são reais, são honestos. Não há como não se encantar por Pat e Tiffany, que assim como seu final, no tão esperado concurso de dança, eles se provam imperfeitos, desajustados, mas que não desistem, que mesmo com seus problemas e dificuldades, sempre procuram ver o melhor de cada situação. Assim como tudo na vida, onde a dor é inevitável mas o sofrimento é sempre uma opção. Procuram enxergar aquele pequeno raio de esperança, pois apenas aqueles que lutam conseguem encontrar. Um filme sincero, divertido, inteligente, louco e caótico ao extremo (no bom sentido) e claro, muito emocionante. Para se ter na prateleira e ver outras vezes. Recomendo.

NOTA: 8

2 comentários:

  1. Só começo falando da maravilhosa Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Que química, que filme sensacional que esses dois fizeram!
    Ótimo filme, muito fácil de indicar na locadora, é divertido, leve e com diálogos interessantes, o que torna o filme excelente.
    Mas não achei nenhum aspecto negativo na história. O fim foi ótimo, as cenas e conversas do casal eram fabulosas.. Tudo foi ótimo.
    Um 8,5 com louvor, estrelinhas e brilho

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  2. Pois eh, a química entre Bradley Cooper e Jennifer Lawrence é ótima...valeu por citar, acabei nem falando isso na resenha! Os diálogos são incríveis tbm e acho q vc tem toda a razão em indicá-lo na locadora, o filme merece sucesso!

    Por mim, nem falava os defeitos, até pq adorei o filme e sei q ele tem mto mais coisas positivas do q negativas. Mas não achei justo não citar oq vi e não gostei, a nota q dei foi mais por coerência as minhas palavras do q por gosto, pq no fundo ele merece um "8,5 com louvor, estrelinhas e brilho"...huahauhaua

    Mais uma vez, mto obrigado pelo comentário Camila! :D

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