sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Crítica: Lincoln (Lincoln, 2012)

O filme com maior número de indicações ao Oscar este ano, totalizando 12, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, "Lincoln" é um drama político dirigido por Steven Spielberg, que tem como foco os últimos atos de Abraham Lincoln como presidente, onde suas conquistas mudaram o rumo das gerações futuras. Lento e extremamente didático, este é, com certeza, um dos filmes menos audaciosos de Spielberg, que chega aos cinemas apenas para provar seu patriotismo.

por Fernando Labanca

Para quem espera se deparar com a biografia do ex-presidente Abraham Lincoln, este não é o lugar certo. O roteiro assinado por Tony Kushner, com quem Spielberg trabalhou em Munique (2005), relata em suas duas horas e meia os últimos meses de Lincoln, tanto no comando dos Estados Unidos, como os de sua vida. Mais precisamente em 1865, quando o país se dividia na violenta Guerra Civil, o presidente além de se preocupar com estes acontecimentos tinha um plano muito maior em mente, levar adiante uma emenda que proclamava a libertação dos escravos, nem que para isso, ele precisasse adiar o fim das batalhas. Tentando convencer os homens de seu próprio partido, Lincoln ainda teve que correr atrás do maior número de aliados possível, os do partido Democrata, se utilizando de alguns "favores políticos" além de seus longos discursos revolucionários, para que tivesse mais votos no Congresso. 


Por mais que os bastidores da política sejam o grande alvo desta nova produção de Steven Spielberg, o longa acaba ganhando força ao tentar humanizar o ex-presidente, seja como pai ausente de seu filho mais velho, interpretado com competência por Joseph Gordon-Levitt, seja como fiel parceiro de sua esposa (Sally Field), que após perder um filho, enfrenta uma grande instabilidade emocional. Por trás desta figura icônica, há um homem, um ser capaz de cometer erros, e em suas expressões vemos a dor de quem viu, enfrentou e lutou por muita coisa. No entanto, é na política que o filme acaba focando mais e assim, digamos, se torna um filme nem tão interessante de se ver, há diálogos intermináveis, discussões, debates, mostradas, às vezes, em cenários claustrofóbicos, fechados e com pouca luz, bem distante do cinema que conhecemos de Spielberg, aquele diretor grandioso que sempre evitou trabalhos menores, é um filme mais intimista, menos exagerado e infelizmente, com menos impacto e menos emoção. Parece não haver intenção alguma de se fazer uma obra para o público, para ser admirada, comentada, como disse anteriormente, é sem sombra de dúvida, o filme mais ordinário do diretor, menos audacioso, tradicional e quadrado, parece ter sido feito para a TV ou para alguma aula de história, não que fosse agradar aos alunos.

Há, porém, todo um cuidado com a produção, cenários, figurinos e trilha sonora, assinado pelo compositor John Williams, não há nenhuma canção tema marcante, e apesar de tímida, funciona bem durante todo o filme. Antes mesmo de se ver "Lincoln", é nítido que o grande destaque é seu ator principal, Daniel Day-Lewis, pronto e na medida para seu próximo Oscar, ele é, com certeza, a melhor coisa de toda a obra. É simplesmente inacreditável seu talento em se transformar em cada filme que faz, não há nada na composição de seu personagem que me lembrasse de alguma outra atuação em sua carreira, faz de Lincoln um grande protagonista, um personagem forte, talvez mais forte do que o roteiro pretendia. Os coadjuvantes são bons, nomes como Joseph Gordon-Levitt, David Strathairn, John Hawkes, Jackie Earle Haley, Hal Holbrook e Lee Pace, todos ótimos. Os indicados ao Oscar, Sally Field e Tommy Lee Jones, ao meu ver, não são tão merecedores do prêmio. Ela, surge teatralmente forçada, uma característica que Field não tem é naturalidade e isso prejudica suas cenas. Já Tommy Lee Jones é ótimo, admito, mas o papel do velho extremamente sério e rabugento e de opinião forte não é novidade para o ator, faz isso quase sempre, na verdade. No entanto, com tantos atores bons no elenco, ninguém, além de Day-Lewis, tem espaço para desenvolver bem um personagem, são meros obstáculos ou simplesmente pessoas com quem ele convive, sem mais profundidades.

O público brasileiro tem ainda menos chance de se envolver na trama, é sobre aquele velho patriotismo norte-americano, sobre como os "bons homens brancos" lutaram bravamente pela liberdade dos negros. É também, um antigo desejo de Steven Spielberg em levar para as telas a vida de Abraham Lincoln. Ok, ele conseguiu, mas sua obra provavelmente será logo esquecida assim que a cerimônia do Oscar acabar, não há nada neste longa que permaneça na memória, um grande momento ou uma grande cena, ele simplesmente acontece, sem o envolvimento do público. A verdade é que faltou Spielberg neste filme, os seus velhos exageros parecem fazer falta aqui, é tudo tão calmo e sem sal, sequências que poderiam ser marcantes são amenizadas. Uma produção caprichada de um filme sem personalidade, sem emoção. 

NOTA: 6,5




Um comentário:

  1. Olá Fernando.
    Parabéns pela crítica. A minha foi um pouco mais condescendente. Minha admiração por Spielberg não me deixou pegar com pesado com ele.

    "Antes de mais nada é necessário situarmos que Lincoln não é filme de fácil leitura para quem não é íntimo da história americana. As situações, personagens e motivações não nos são (pelo menos em boa parte) de conhecimento amplo, o que torna a compreensão do enredo algo um tanto trabalhoso. A partir de uma hora de filme essa sensação incômoda de não estar entendendo quase nada tende a diminuir e o filme acaba engrenando." Crítica completa em: http://amahet.blogspot.com.br/2013/02/lincoln-lincoln-2013.html

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