quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Crítica: A Delicadeza do Amor (La Délicatesse, 2011)

Baseado no livro de David Foenkinos, que também roteirizou e dirigiu o longa, ao lado de seu irmão, Stéphane Foenkinos, “A Delicadeza do Amor” é um romance francês, que trata com bastante humor e sensibilidade a história de uma mulher e os caminhos que ela percorreu após a morte de seu marido, passando pela dor do luto até o envolvimento com outro homem. Com mais uma marcante atuação de Audrey Tautou, é o típico filme difícil de não gostar, leve, divertido e também emocionante, simplesmente adorável.

Por Fernando Labanca

Conhecemos o casal Nathalie (Tautou) e François (Pio Marmai), feitos um para o outro, se amam, se entendem, planejam uma vida juntos, porém o destino planeja outra coisa, e ele sofre um acidente e acaba morrendo. Transtornada com o ocorrido, a vida de Nathalie vira de cabeça para baixo, perde seu rumo, seu chão. Entretanto, a vida segue, precisa seguir, ela passa a se dedicar inteiramente ao trabalho e é lá que certo dia, sem pensar duas vezes, beija um dos seus funcionários, Markus (François Damiens). Ele é o típico “loser”, com poucos amigos e baixa autoestima e vê neste beijo a promessa de uma vida diferente, se entrega e tenta investir nesta relação, por mais que não leve jeito algum para isso. E Nathalie, que após sentir a dor da perda, tenta se reerguer e se deixa envolver por ele, mesmo que isso esteja completamente fora de seus planos.


"Ela me permite ser a melhor versão de mim mesmo."

O filme já inicia com um certo impacto, de certa forma, nos afeiçoamos ao casal apresentado em seu começo e assim, a morte de Fraçois carrega uma forte emoção, sofremos por Nathalie e de repente, aquele adocicado romance se transforma num drama pesado, eis que o filme nos surpreende mais uma vez, dando mais uma reviravolta, pois a questão nesta obra não é exatamente a perda, mas sim, o recomeço. E é neste recomeço na vida da protagonista que o longa mostra sua verdadeira face, bastante sutil e leve, uma comédia romântica sofisticada, quase que difícil de encaixá-la neste gênero, pois muito se difere das demais. E com a entrada do personagem Markus, com quem Nathalie se apaixona, o roteiro, muito bem escrito, relata a paixão num clima bem intimista, talvez por nos colocar dentro da mente de cada um deles através da narração em off, mas compreendemos bem cada um deles e nos afeiçoamos e torcemos por eles, por mais que todos ao redor olhem torto para o casal, devido ao fato de Markus ser, para muitos, um homem feio, que jamais poderia estar ao lado de alguém como Nathalie, tão bem de vida e tão bonita. E esta é a beleza desta relação, por todos apontarem as diferenças que há entre eles, mas somente os dois sabem o quanto um completa o outro, e nós, como público, também sabemos o quanto um precisa do outro. “A Delicadeza do Amor” também explora o amor de forma mais sensível, não aquela louca paixão de duas pessoas que querem aproveitar a vida intensamente, mas de um casal que apenas espera ter alguém para acompanhar até em casa.

“La Delicatesse” conta com mais uma interessante interpretação de Audrey Tautou, meiga mas que consegue transmitir com força as dores de sua personagem. François Damiens diverte com as estranhezas de Markus e funciona muito bem ao lado de Audrey, formando um casal adorável. Como disse anteriormente, é o típico filme difícil de não gostar, que emociona, que diverte e encanta facilmente com sua história, tratada de forma sensível e bastante delicada pelo diretor David Foenkinos, talvez por ele mesmo ter escrito o livro que o originou, soube guia-lo da melhor forma, nos entregando, acredito eu, um dos romances mais cativantes que surgiu nos últimos anos, e constrói cenas extremamente bem feitas, que de tão belas nos faz esquecer a própria vida. Com direito a uma ótima trilha sonora e um incrível final, tão simples, encantador e poético como todo o resto. Recomendo.  

NOTA: 9


País de origem: França
Duração: 108 minutos
Elenco: Audrey Tautou, François Damiens, Pio Marmai, Bruno Todeschini
Diretor: David Foenkinos, Stéphane Foenkinos
Roteiro: David Foenkinos





11 comentários:

  1. Acabei de assistir e resolvi procurar uma crítica bacana. A do blog está perfeita, traduzindo tudo o que gostaríamos de dizer. Obrigado!

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    1. Eu que agradeço...muito obrigado!! Que bom que gostou do filme e da crítica também! :)

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  2. lí nessa crítica justamente todas as sensações que senti ao assistir o filme. O monólogo de Markus no final do filme foi tão encantador que repeti umas cinco vezes.

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    1. Poxa, muito obrigado!! Gostei muito das palavras de Markus no final do filme também! Valeu pelo comentário

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  3. Por favor, me tirem uma dúvida.
    Eles ficam juntos no fim ou ela ñ consegue superar a morte do marido? Isso ñ ficou claro pra mim

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  4. Ficaram, e como nao, o amor tem formas inexplicaveis.Markus um poeta cativamente.

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  5. Acabei de ver pela segunda vez esse maravilhoso filme...lindamente sensível e delicado, me emocionando sempre...

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    1. Pois é, Val...é daqueles filmes para se ver muitas vezes e se emocionar sempre!

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  6. Filme incrível de lindo. Delicado como o próprio título (talvez sugere ou até tê-lo assistido você ficará leve). Assisti duas vezes, e sei que assistirei de novo, rs. Engraçado que lá pelo meio ou quase final do filme, a gente nem se lembava mais do Fraçois (o falecido marido) e nem mesmo Nathalie também; ela nem lembava mais da dor das lembranças, nem se esforçava mais para seguir em frente com resiliência devido ao sofrimento que antes sentia. Passam milênios e milênios, e poetas, filósofos tentam definir o que é o amor, revistas, blogs, nos mostram como encontrar e ficar com esse alguém, e no final ficam parecendo regras....mas no amor ou como ele surge ou como ele chega a você, não veio depois de te lido regras ou conselhos enfim, o amor chega assim como Markus a Nathalie ou como Natalie a Markus: leve, sem dizer muito pro que veio. Chega assim só querendo ficar mesmo, sem muito alarde. Tautou impecável, recomendo assistir quantas vezes puderem.
    Bela crítica.

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    1. Obrigado pelo comentário, Keyla! Que bom q gostou da crítica e, aliás, também concordo com tudo oq vc disse!

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    2. Discordo completamente de você, ninguém esquece de alguém que amou de verdade. Lógico que o filme mostra a dificuldade dela no novo romance. Exemplo é quando o chefe dela pergunta de esqueceu o Fraçois ela fica desnorteada. Como o próprio autor da crítica disse, o filme não foca no luto, mas no "recomeço". Até porque se fosse o contrário, acho que seria monótono para os telespectadores. Infelizmente, quem passa por situação assim sempre é julgado, principalmente as mulheres. Se a pessoa é vista sorrindo, por exemplo, já saem falando que esqueceu da pessoa, que superou, ou coisa do tipo. O luto, a saudade de alguém que se foi, é algo muito mais profundo e complexo que se possa imaginar, só quem vive mesmo é que sabe. A dor e saudade são insuperáveis.

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