quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Crítica: Killer Joe - Matador de Aluguel (Killer Joe, 2011)

William Friedkin é um nome de peso na história do cinema, foi o responsável por dirigir o clássico “O Exorcista” e desde então, porém, escolheu por trilhar um caminho não tão óbvio em Hollywood, esteve sempre distante dos holofotes, realizando alguns projetos bastante desconhecidos do grande público, tendo até uma filmografia curta pela longa carreira que tem. Eis que ele retorna, aos 77 anos de idade, provando que ganhou muita experiência ao longo dessas décadas e é ainda capaz, mesmo que num filme tão simples, provar seu potencial em construir uma obra memorável, provar sua força, genialidade e ousadia como diretor.

Por Fernando Labanca

Baseado na peça de teatro de Tracy Letts, que também assina o roteiro, o filme gira em torno de uma família disfuncional e a estranha relação que ela passa a ter com um matador de aluguel. Tudo se inicia com um plano bizarro de Chris (Emile Hirsch), o filho mais velho, que devendo para traficantes perigosos chega a conclusão de que o único modo de conseguir dinheiro e quitar suas dívidas é recebendo a apólice de seguro de sua mãe, neste caso, só acontecendo com ela morta. Para isso, ele,  ao lado do pai (Thomas Haden Church) e da madrasta (Gina Gershon), decide contratar Joe Cooper (Matthew McConaughey), um detetive que é assassino nas horas vagas, para mata-la. Com o dinheiro em mãos, o plano era pagar a metade para Joe, e o resto dividir entre os membros da família, inclusive para a filha mais nova, a inocente Dottie (Juno Temple). Os piores conflitos surgem quando, ao não receber o pagamento adiantado, assim como o de costume, Joe exige uma garantia: Dottie, o que causa a fúria em Chris, que coloca a proteção de sua irmã acima de qualquer coisa. 


Tendo uma peça de teatro como base, “Killer Joe” parece mesmo estar acontecendo sob os limites de um palco, os personagens percorrem os poucos ambientes que nos são apresentados logo no início e parecem ser obrigados a se encarar nestes pequenos espaços no qual, nitidamente, é um grande esforço para cada um deles, é uma luta diária por sobrevivência, onde cada membro desta disfuncional família parece ter uma meta pessoal no qual não divide com mais ninguém, mesmo que a intenção seja forjar uma confiança que nunca existiu. E o roteiro, com seu divertido e sutil humor negro, denúncia através destes indivíduos, uma sociedade em total degradação, com valores extremamente invertidos, parece revelar o que há de pior nos seres humanos, onde para conseguir o que querem são capazes de realizar os atos mais absurdos. E os personagens caminham com tranquilidade neste palco, desfrutando do poder e o que o dinheiro poderá fazer com suas vidas, desfrutando da luxuria e dos desejos mais secretos, da violência, do incesto, alguns pecados que esses seres não escondem e convivem como se não houvesse mais limite entre o certo e o errado.

William Friedkin não nos poupa de absolutamente nada, por isso vejo o quanto sua direção foi ousada, e depois de tantos anos de carreira, ele ainda é capaz disso, de nos proporcionar este espanto. Contendo cenas de nudez, quase que gratuita, sexo, agressão e sequências que ficam na memória de tão chocantes e obscenas que são (coisas que ninguém nunca imaginou fazer com um frango frito!). “Killer Joe” é um amontoado de momentos “what the fuck?” que nos fazem questionar o porquê de estarmos vendo aquilo, a questão é que no fundo, nada chega a ofender, muito pelo contrário, sua loucura, o nonsense, o bizarro, o humor negro, a violência trash, é tudo bem perto do genial, tão grotesco que consegue agradar, simplesmente por ser tão fora no normal. 

A história é, na verdade, bem simples, e o outro grande acerto do roteiro foi conseguir entregar tanta personalidade aos personagens ali em cena, são neles a evolução que acontece, e transmitem isso através de excelentes diálogos. Claro que eles escolheram os atores certos para essa expor toda essa loucura, essa fúria, estão todos magníficos, do jovem Emile Hirsch aos veteranos Thomas Haden Church e Gina Gershon, que surpreendem. Juno Temple é a nova aposta de Hollywood, nunca consegui entender este apreço tão grande por ela, até que finalmente vi um grande momento da atriz, simplesmente ótima, sabendo trilhar muito bem entre a inocência e mistério que ronda sua personagem. Entretanto, é Matthew McConaughey que rouba a cena. 2013 marcou uma reviravolta tremenda na carreira deste grande ator, que de galã de comédia romântica, é agora, nitidamente, um dos nomes mais fortes do cinema atual, e seu Joe Cooper é insanamente incrível, um sujeito assustador que usa desta sua “vida fora-da-lei” para realizar seus desejos mais sujos e tórridos. 

Com roteiro bem amarrado, situações inusitadas e contendo ainda elementos surpresas que dão à trama algumas boas reviravoltas, “Killer Joe” nos prende facilmente até seu final, mesmo que Friedkin sempre opte por incomodar seu público, há uma tensão forte ali em cena e personagens bem construídos que por fim, acaba nos criando uma certa afeição a este estranho mundo, exagerado, bizarro, teatral e muitas vezes sem sentido algum. Poderia ter dado muito errado, entretanto, colocaram a frente de tudo isso um experiente diretor, que parece não temer nada, entregando um filme provocativo, cru e ousado. Recomendo.

NOTA: 8,5 

País de origem: EUA
Duração: 102 minutos
Distribuidor: California Filmes
Elenco: Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Juno Temple, Gina Gershon, Thomas Haden Church
Diretor: William Friedkin
Roteiro: Tracy Letts


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