quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Crítica: Garota Fantástica (Whip It, 2009)

Além de atriz, Drew Barrymore, desde muito tempo, tem participado da produção de diversos filmes e "Garota Fantástica", lançado em 2009, marca sua estreia como diretora. Apesar de não ter voltado na função, ela demonstra aqui um talento notável, realizando uma obra simples, mas extremamente divertida, cool, que difere e muito do que já foi feito no cinema independente norte-americano, justamente por trazer em sua alma algo que carece no gênero, autenticidade.

por Fernando Labanca

Baseado no livro "Derby Girl" de Shauna Cross, que também roteiriza o filme, conhecemos a trajetória de Bliss Cavendar (Ellen Page), uma jovem que vive numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos, trabalha numa lanchonete beira-de-estrada e não tem muitos sonhos para o futuro, até porquê se vê forçada a participar dos concursos de beleza que sua mãe (Marcia Gay Harden) tanto ama e que ela não consegue ver sentido algum. Até que, certo dia, ao visitar uma cidade vizinha, descobre a existência daquilo que poderia ser sua salvação, o roller derby. Esporte que ganhou popularidade na década de 70, mas ressurge como o grande entretenimento daquele local, uma competição formado apenas por equipes femininas, que requer velocidade, força e muito contato físico, e tudo em cima de um patins. Fascinada por aquele universo, Bliss forja sua idade para conseguir competir dos torneios e esconde de sua mãe, que jamais aceitaria o fato de que sua grande habilidade estaria na patinação.


Lembro da época em que Drew Barrymore se arriscou neste projeto, pouco se falou e por isso perdi a vontade e o interesse por descobrir como ela havia se saído na direção. Bons anos depois, resolvi arriscar e dar uma chance à "Garota Fantástica" (sim, este título e a capa me afastaram também, confesso). Nos primeiros minutos algo já fica claro: é um filme digno de ser visto. Realmente não esperava encontrar tantas qualidades aqui, é uma junção muito bem orquestrada de diversos elementos, personagens, roteiro, diálogos, direção, trilha sonora e tudo flui perfeitamente bem do começo ao fim. É daqueles filmes gostosos de se ver, que até remetem um pouco o que houve de melhor na "sessão da tarde", aquela trama simples mas que é tão bem contada, com roteiro bem amarrado, que possui bons personagens, que evoluem e que sempre tem algo bom a dizer. Os diálogos são expertíssimos, com excelentes sacadas, o bom humor se mantem o tempo inteiro presente e é dos bons, consegue fazer rir, é realmente engraçado e diverte fácil com suas hilárias situações.

A escalação do elenco não poderia ter sido melhor. Ellen Page surge quase como uma sátira às adolescentes do cinema, é tão natural e descontraída que às vezes nem parece que está atuando, sabe ser leve nas cenas cômicas mas também tem a força de encarar uma boa cena dramática, ainda mais quando precisa contracenar com o talento de Marcia Gay Harden, que se destaca. Drew Barrymore se manteve como uma coadjuvante de luxo ali no meio, fez bem, deu espaço para suas colegas de elenco, como a sempre incrível Kristen Wiig, Eve, Juliette Lewis, Zoe Bell, Ary Graynor, que dão a sensação que estavam se divertindo tanto quanto nós, foi muito bom vê-las juntas, há uma sintonia incrível em cena, Além delas, participações divertidas de Andrew Wilson, Jimmy Fallon e Alia Shawkat.

Gostei de como a trama foi se desenvolvendo. consegue dar espaço para cada uma das situações mostradas, onde tudo tem sua relevância e importância dentro da história, desde a relação entre a protagonista e sua família, seu relacionamento amoroso que surge no meio da agitação de sua nova vida até os treinamentos e competições do roller derby. E cada um desses itens carrega em si uma boa dose de autenticidade, os embates entre mãe e filha nunca são fáceis e trás uma conclusão simples, porém comovente, assim como sua relação com o vocalista de uma banda de rock, que de início parece ser só um motivo para enrolação, é tratada com bastante maturidade e originalidade pelo roteiro, principalmente em seu final. A maneira como as mulheres deste inusitado esporte nos é apresentado é bem interessante, no começo, elas surgem quase como seres de um outro mundo, vindas de um universo fantasioso onde tudo é possível, cada uma com seu nome de guerra, e aos poucos vamos conhecendo as verdadeiras faces por trás daquela força, é divertido e ao mesmo tempo encantador essas personagens, são elas que fazem de "Garota Fantástica" valer a pena, aquela nítida felicidade de vê-las fazendo aquilo, independente das derrotas, do fracasso, chega a ser inspirador e esta é a beleza do filme, Bliss passa a ser uma heroína, não necessariamente por vencer, mas por ter a coragem de fazer o que ama.


"Garota Fantástica" me surpreendeu, uma experiência deliciosa, daquele tipo de filme que dá vontade de ver e rever milhões de vezes. É engraçado, leve, descontraído, uma jornada adorável ao lado de personagens adoráveis. Drew Barrymore acertou a mão e mostrou que fez exatamente aquilo que sua obra prega, fez aquilo que queria e não necessariamente o que esperavam dela. É nítido em cada sequência a paixão que a atriz tinha por este projeto, é a sua cara, é cool e carregado de muita personalidade, e a prova disso vai muito além da excelente trilha musical - que passa por Ramones, Radiohead e MGMT - está presente na maneira como suas tramas são construídas, mais do que isso, em como todas elas são concluídas. Irreverente e autêntico, um filme a se descobrir. Recomendo.

NOTA: 8,5






País de origem: EUA
Duração: 111 minutos
Distribuidor: California Filmes
Elenco: Ellen Page, Kristen Wiig, Marcia Gay Harden, Landon Pigg, Juliette Lewis, Alia Shawkat, Andrew Wilson, Drew Barrymore, Zoe Bell, Eve, Jimmy Fallon, Ary Graynor
Diretor: Drew Barrymore
Roteiro: Shauna Cross

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