quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Crítica: Entre Risos e Lágrimas (Obvious Child, 2014)

Comédia independente que fez sucesso pelos Festivais que passou mas que acabou tendo um destino injusto aqui no Brasil, sendo lançado diretamente na TV. Bastante original, o longa se destaca por sua coragem em debater assuntos pesados de forma leve e descontraída, além de revelar o talento de Jenny Slate.

por Fernando Labanca

Donna (Slate) é quase como uma versão masculina de Louis C.K, em sua série Louie. Comediante sem muito sucesso, ela sobe aos palcos em pequenos bares para apresentar seu stand up. Entre os dramas de sua vida, é lá que ela sente força em fazer piada de toda sua desgraça, como forma de encontrar alguma lógica em sua vida sem rumo. Após ser abandonada por seu namorado e despedida de seu emprego, Donna chega a conclusão que tudo, definitivamente, está perdido. É neste momento de crise, que ela acaba conhecendo o bom rapaz Max, com quem passa uma noite. Pouco tempo depois, ela descobre que está grávida e não sabe como lidar com esta novidade, parte porque não quer envolver um cara que mal conhece em toda essa confusão e parte porque tem a certeza de que não tem maturidade e nem condições de criar um filho.


"Obvious Child" pode pegar muitas pessoas de surpresa, por um simples elemento, seu final. É aquele tipo de final que altera nossa percepção sobre toda a trama e que ficamos ali, parados, refletindo sobre quando foi a última vez que uma comédia romântica foi tão corajosa. O roteiro pega uma premissa simples e batida, a jovem mulher que engravida de um desconhecido na primeira noite que passam juntos, e passa, a partir deste ponto, a debater um assunto bastante polêmico, o aborto. Gravidez indesejada, no cinema, parece sempre fluir para um mesmo caminho e ficamos a espera do momento em que o filme vai se render aos clichês e entregar o final que obviamente iria chegar. "Entre Risos e Lágrimas" surpreende justamente por isso, porque não é óbvio, pelo contrário, é de uma originalidade e ousadia extrema. Falar de aborto é sempre complicado e como foi incrível a maneira como eles abordaram o tema aqui, de forma leve, simples, sem julgamentos, deixou com que tudo fosse resolvido por sua protagonista, pois somente ela saberia o melhor caminho a seguir. No mínimo, uma atitude honesta do roteiro, que oferece seus argumentos e permite que discussões e reflexões sejam feitas fora da tela.

Donna, por sua vez, é uma daquelas fortes protagonistas femininas. O cinema carece disso. Como é fantástico acompanhar sua jornada, suas loucuras, seus fracassos, é muito fácil se identificar porque ela é real, é humana, ela é como todos nós, jamais subestima sua capacidade em cometer a piores cagadas. Criada no curta-metragem de 2009, também dirigido por Gillian Robespierre, a personagem ganha forma pelo despojamento de Jenny Slate, engraçada e bastante carismática, a atriz se destaca no papel. Se podemos afirmar que o longa tem um pouco de Louie, também é possível dizer que ele trás muito da série "Girls" da HBO, aquela ausência de glamour da vida das mulheres perto dos 30 e a frieza e naturalidade com que trata seus temas. Inclusive, seu elenco retorna, como a sempre competente Gaby Hoffman e o sempre bom moço Jake Lacy, que funciona bem ao lado de Slate, aliás, é quase que impossível não se apaixonar por eles enquanto dançam a canção-tema e abrasileirada "The Obvious Child" de Paul Simon. Entre outros tantos bons momentos, é aquele filme gostoso de assistir, que flui bem por seus espontâneos diálogos e situações. É uma obra simples, genuína, no entanto, muito longe de ser inofensiva. É uma comédia corajosa, original, inteligente e tem seu nível elevado devido seu brilhante final. Recomendo.

NOTA: 8






País de origem: EUA
Duração: 84 minutos
Diretor: Gillian Robespierre
Roteiro: Gillian Robespierre
Elenco: Jenny Slate, Jake Lacy, Gaby Hoffman

4 comentários:

  1. Estava passando ontem de madrugada na Sky, mas acabei indo dormir pq precisa levantar cedo. Pra variar, todos os canais da Sky exibe porcarias durante o dia e aos finais de semana, guardando os filmes pelo menos razoáveis para a madrugada, quando ninguém assiste. vai entender.....
    Devem ter um convênio com a Ambev para nos forçar a ir ao buteco

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    1. huahuahua...uma ótima teoria, Germano! É uma pena que isso aconteça mesmo e infelizmente isso é comum. Mas o filme é bom e vale a pena ficar de olho nos próximos horários

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  2. Cara, que filme gostoso,simplesmente um dos meus melhores achados diante de tanta coisa ruim por aí.

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    1. Pois é...esta é uma excelente definição: Um dos melhores achados! Fiquei feliz quando eu o descobri, é uma pena que pouca gente o viu

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