quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Crítica: Nasce Uma Estrela

Grande demais para o pouco que tem. 

por Fernando Labanca

Este é o terceiro remake de "Nasce Uma Estrela". A história da moça simples que cantava em um bar e acaba conhecendo o sucesso volta aos cinemas agora com Lady Gaga na pele da protagonista. Apesar da trama simples, os norte-americanos parecem ter um certo fascínio por ela. Digamos, porém, que não estamos falando de uma adaptação qualquer. Se trata de uma produção grande, bem realizada e que surpreende por ser apenas o primeiro trabalho de Bradley Cooper como diretor, que aqui também atua. Ainda que as canções apresentadas tenham força, é um musical de atuações, que aposta seu sucesso na presença de Cooper e Gaga. De fato, é um espetáculo que precisa ser visto na tela grande e apesar de ser um evento não tão digno de sua espera, encanta como um bom entretenimento que é. 

Lady Gaga é Ally, uma garçonete que conseguiu espaço para cantar as noites em um bar. Sua voz potente acaba chamando atenção do cantor Jackson Maine (Bradley Cooper), um astro do rock. Os dois se apaixonam e enquanto a relação entre eles vai crescendo, o sucesso dos dois acaba indo em direções opostas. Ele passa a ser uma espécie de mentor dela que logo encontra os holofotes e a fama repentina. Por outro lado, os problemas de Jackson com bebidas o faz perder cada vez mais o controle de sua carreira, que já não consegue mais seguir os mesmos passos daquela que tanto ama. 


A música tem grande importância em "Nasce Uma Estrela". É através dela que seus personagens expressam seus sentimentos. O amor, a dor e tudo aquilo que eles são feitos. É sincera cada canção apresentada e emociona este poder que possue nas vida de Ally e Jackson. Quando os dois cantam, algo mágico acontece. O filme para e adentramos em um novo universo. Aliás, um dos grandes méritos da obra é esta atmosfera que cria, nos colocando para dentro das cenas musicais e nos fazendo parte daquilo. Seja pelo alto nível da produção, a montagem e até mesmo do som, somos inseridos naqueles shows. O momento em que eles fazem o dueto de Shallow - uma das músicas originais da obra - é hipnotizante. Além disso, é maravilhoso vivenciar um pouco dos bastidores, das conversas e dos raros momentos de inspirações que levam aqueles astros a compor suas canções. 

Acredito que o maior problema do filme seja sua trama simplória. E pior do que ter uma trama simplória é ter um roteiro que não saiba conduzi-la. É muito fraco o desenvolvimento de tudo. Seja a relação dos protagonistas com suas famílias, seja a estranha facilidade com que Ally se joga nessa aventura e encontra a fama. As coisas fluem de forma picotada, sem muito sentido e sem muita profundidade. É difícil se conectar com essa evolução que os personagens enfrentam simplesmente porque é mal contada. Sinto que a trama foi explicada na primeira meia-hora de filme e tudo o que ele fez até o fim foi nos enrolar com situações repetitivas, que já não nos dizia mais nada. Tem pouco conteúdo e o pouco que tem é previsível demais, o que também não justifica sua longa duração. É frustrante ver o potencial que tinha, pela produção, pelos atores e canções e sentir que a base de tudo não foi bem planejada. 

Admiro Bradley Cooper. É um projeto ambicioso demais para um primeiro filme. Não é sempre que ele acerta a mão, mas é nítido sua coragem e seus acertos se sobressaem. Como ator ele é ainda melhor, oferecendo um dos momentos mais relevantes de sua carreira, surpreendendo ainda com sua belíssima voz. A presença de Lady Gaga me deixa em dúvidas. Fiquei o tempo todo tentando caçar esta grande atuação que muitos falaram, mas pouco encontrei. É um papel desenhado para ela. Isso é bom porque é difícil imaginar outra artista em seu lugar, por outro  lado o filme também enfraquece com essa escolha. Quando sua personagem vira, enfim, uma estrela, a obra estranhamente perde seu brilho, justamente porque já vimos Lady Gaga naquele momento. A dança e as altas notas alcançadas não perderiam o encanto da surpresa se fosse uma atriz que nunca tivesse enfrentado aquilo. Quando poderia ser um clímax, aqui se torna um estado de conforto. Ela, claro, faz tudo extremante bem feito... Mas quando foi que ela não fez? Gosto sim de vê-la em cena e digo que é uma profissional que respeito e admiro mas existe uma exaltação desta sua atuação que nunca se justifica. Ela é poderosa cantando, mas nas cenas dramáticas deixa a desejar. E muito. 

"Nasce Uma Estrela" é um belíssimo espetáculo. Apesar dos erros, trata-se de um produto revigorante, marcante e comovente. Vale uma ida ao cinema, sem dúvidas. Inclusive, é lá que precisa ser visto. No entanto, não é tão bom quanto a crítica e o público quer que ele seja. É exatamente o que sua canção Shallow já nos anuncia: vazio. Faz um bem enorme aos ouvidos, mas é vazio. 

NOTA: 6,5


País de origem: EUA
Título original: A Star is Born
Ano: 2018
Duração: 135 minutos
Distribuidor: Warner Bros.
Diretor: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Eric Roth, Will Fetters
Elenco: Bradley Cooper, Lady Gaga, Sam Elliott


2 comentários:

  1. Olá Fernando. Você sempre certeiro na critica e observações! Vi o filme ontem e a expectativa foi maior que a entrega. Pena! Em muito momentos parecia um filme sobre o Astro do Rock, pois a atuação do Bradley foi bem superior a da Gaga, obviamente. Ela se destaca nas cenas onde canta, pois é seu melhor talento sem dúvida! Até o meio do filme a história vinha numa crescente e do meio ao final deixou a desejar, com um desenrolar arrastado da história até sua conclusão. Ainda sim é um filme para ser visto. A atuação do Bradley como ator, cantor e instrumentista é impressionante e é o ponto alto do filme para mim. Abraço.

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    Respostas
    1. Obrigado Mirelle, que bom que gostou da crítica.
      Senti exatamente isso, também. O filme funcionou bem até a metade, depois se tornou arrastado e com nada de desenvolvimento. Fiquei meio frustrado porque minha expectativa era grande. O Bradley está realmente fantástico.

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