quarta-feira, 12 de junho de 2019

Crítica: Rocketman

Tão fantástico quanto Elton John merece. 
Tão mágico quanto o cinema permite. 

por Fernando Labanca

As comparações com o recente "Bohemian Rhapsody" vieram cedo e existe uma razão para isso. Em pouco tempo, tivemos duas cinebiografias de dois mestres da música: Freddie Mercury e Elton John. Curiosamente, ambos tiveram as mãos de Dexter Fletcher, que dirigiu este e foi chamado, às pressas, para finalizar Bohemian, ano passado, quando o diretor Bryan Singer foi afastado das gravações. Há muitas semelhanças entre as obras, que falam sobre dois homens que viveram de excessos e construíram um império para si mesmos. A grande diferença, porém, além deste abraçar de vez o musical como gênero, é que "Rocketman" não tem vergonha de Elon John, do que ele viveu, experimentou e sentiu. O longa é tão energético, revigorante e vibrante como o astro merece. É digno do que ele construiu até aqui.

Claro que, como toda cinebiografia, "Rocketman" não consegue fugir das tantas armadilhas que um roteiro precisa enfrentar ao contar a vida de alguém que alcançou o sucesso. Problemas familiares, ascensão artística, fama, excessos, problemas com produtores gananciosos e decadência. Tudo está aqui, conforme pede a cartilha.  No entanto, o texto acerta ao conseguir, dentro de suas duas horas bem preenchidas, contar toda sua vida, desde criança, sem parecer apressado ou sem perder a profundidade de cada evento e o afeto existente entre os personagens. É bem contado e por isso, nos envolve, nos faz querer viver sua jornada e dessa fantasia que Fletcher encontrou para ilustrar uma vida tão cheia de cores e delírios. É um retrato vibrante, inventivo e cheio de alma. Características tão raras de se encontrar atualmente na tela grande. 

As letras de Elton John sempre foram muito sinceras e pessoais. Logo, não haveria ninguém melhor para contar sua vida do que suas próprias canções. Justamente por isso, é muito feliz a escolha por fazer desta história um musical e trazer para a tela, todo o exagero fantástico que o gênero permite. É lindo quando o filme esquece a realidade e embarca de vez na fantasia. Momentos como quando a plateia flutua em um dos shows ou quando Elton voa como um foguete são algumas das liberdades poéticas que a sétima arte permite e é fascinante quando a produção abraça isso de vez. Aliás, as canções são muito bem inseridas em todos os instantes e tudo se torna maior quando a direção de Fletcher, tão segura, entrega sequências belas de se verem. Coreografias, figurinos e design, enfim...um show incrivelmente bem orquestrado, digno de ser visto no cinema, em alto e bom som.  


Taron Egerton tem construído uma carreira interessante em Hollywood e mesmo se envolvendo em grandes produções, tem conseguido se desvencilhar do aspecto de galã, se permitindo se arriscar em papéis desafiadores, longe de qualquer vaidade. Ele está ótimo aqui e surpreende ao emprestar sua própria voz às canções. Não é caricato porque ele não tenta ser Elton John. Nada de próteses ou lip sync. É apenas um ator em cena, entregando sua versão do que acredita. 

Mais do que contar a vida de um astro da música, "Rocketman" é uma história sobre aceitação. Sobre um homem que lutou durante anos contra sua própria identidade. A vida inteira de Elton as pessoas lhe diziam para ser ele mesmo. Aquela citação clichê que sempre ouvimos. É duro, porém, ouvir isso quando tudo o que você não pode é ser você mesmo, não enquanto viver em uma sociedade que não aceita sua verdade. É comovente como a homossexualidade do protagonista entra neste contexto. Em como ele luta, constantemente, para aceitar a si mesmo enquanto busca o amor que não recebeu de ninguém durante toda sua jornada, inclusive de sua família. Incrível, então, quando uma produção tão grande, capaz de chegar em tantas pessoas, pode, enfim, falar sobre um personagem gay, que se relaciona com homens enquanto constrói sua carreira. É lindo como o filme prova que não há nada de errado naquele que procura por amor, seja a forma como for. Sem qualquer tipo de censura e sem querer agradar os mais conservadores, "Rocketman" é o filme que Elton John merecia e o filme que os fãs dele precisavam. É um espetáculo lindo e radiante, tão extraordinário quanto o cinema pode ser. 

NOTA: 9



País de origem: EUA, Reino Unido e Irlanda do Norte
Título original: Rocketman
Ano: 2019
Duração: 121 minutos
Distribuidor: Paramount Pictures
Diretor: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Bryce Dallas Howard, Richard Madden, Gemma Jones


Um comentário:

  1. "Rocketman" é um filme honesto sobre uma das maiores estrelas da história da música e que não se intimida em revelar a sua real pessoa. Veja a minha analise completa no meu blog de cinema https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/05/cine-dica-em-cartaz-rocketman-destrua-o.html

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