terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Os 25 Melhores Filmes de 2019

Chega ao fim a retrospectiva aqui no blog. Depois de postar algumas listas com o que teve de melhor em 2019, finalmente chego com a de melhores filmes do ano. Assim como ano passado, optei por deixar 25 títulos, pois acredito que seja um número bom para que todos os que eu realmente gostei estejam aqui. Durante esses doze meses consegui ver bastante coisa, por isso espero ter feito uma seleção justa. 2019 foi um ano muito bom para o cinema e digo que foi ótimo poder escrever esse texto e relembrar todas essas preciosidades. 

Sempre bom lembrar, aqui no blog, diferente de outros sites e listas, prefiro selecionar os filmes que foram lançados aqui no Brasil entre janeiro e dezembro, independente do ano em que foram lançados em seus respectivos países de origem. Enfim, espero que gostem dos selecionados e deixem nos comentários os títulos que sentiram falta aqui. 

por Fernando Labanca


25. Midsommar
de Ari Aster / EUA
Paris Filmes
Precisei de um bom tempo para digerir. É certo dizer que foi o único filme este ano a me proporcionar isso. Esse desconforto, esse sentimento agonizante que somente uma grande obra do terror pode entregar. As respostas de "Midsommar" não são fáceis e é preciso um distanciamento para ver as coisas com mais clareza. Ari Aster deu nova forma ao medo e à céu aberto, construiu um ambiente aterrorizante. Uma obra perturbadora, que nos leva ao limite da bizarrice ao nos fazer presenciar uma seita pagã, ao mesmo tempo em que nos aprofunda na mente traumática de sua protagonista. Diz muito sobre aceitar uma cultura nova e sobre como rimos e vimos com maus olhos aquilo que definimos como anormal. Como um pesadelo que queremos esquecer, "Midsommar" é um longo e doloroso impacto. 




24. O Anjo
de Luis Ortega / Argentina, Espanha
Pagu Pictures
Com rosto angelical, Carlos assassinou 11 pessoas e se tornou um dos criminosos mais procurados da Argentina. Como ele se envolveu nesta vida de roubos e mortes é a premissa do brilhante “O Anjo”. A obra recupera com vigor aquele ritmo dos bons filmes de crime, com direito a boas perseguições, planos mirabolantes, personagens cativantes e uma trilha musical para ninguém por defeito. O grande fascínio, porém, vem pela construção do protagonista, que encanta pela feição de bom moço, mas logo se prova assustador, complexo. É interessante, também, a relação entre Carlos e seu parceiro, Ramon, interpretado por um apaixonante Chino Darín. Há algo de confuso entre eles, um romance que se insinua mas nunca é claro na tela. Neste sentido, é muito novo e bem-vindo a forma como tratam a homossexualidade, principalmente porque é a típica trama contada por héteros. A produção é mais uma prova do quão fantástico é o cinema argentino. É grande, bem realizado e nos faz ficar vidrados por cada sequência.




23. Dois Papas
de Fernando Meirelles / EUA
Netflix
Quando ninguém mais tava esperando um filme bom em 2019 (já que tivemos vários durante o ano), a Netflix veio e no fim do segundo tempo entrega essa preciosidade. "Dois Papas" é uma produção incrível e deliciosa de assistir. Seus minutos fluem com uma naturalidade admirável, tamanho capricho e tamanha sensibilidade em escrever um roteiro tão sensível e tão humano. O encontro entre o cardeal Jorge Bergoglio e o papa Bento XVI é simplesmente fascinante de acompanhar. E só basta isso. Dois grandes personagens. Dois grandes atores. Diálogos incrivelmente bem escritos. Essa é a receita de um dos mais belos filmes que tivemos. É muito divertido ver esses dois homens conversando sobre tudo, sobre Deus, música, futebol e todos os dilemas que enfrentam enquanto líderes. O filme quebra por completo esta barreira que existe entre nós e essas figuras emblemáticas que sempre pareceram tão distantes de nós. O roteiro encontra humanidade por trás da batina que vestem. Jonathan Pryce e Anthony Hopkins dispensam comentários e Fernando Meirelles, o diretor, nos enche de orgulho. 




22. Anos 90
de Jonah Hill / EUA
Diamond Films
Debute de Jonah Hill na direção, o ator surpreende ao entregar um produto longe do glamour hollywoodiano, intimista, repleto de honestidade e alma. É competente ao utilizar de boas referências - trazendo de volta o que há de melhor no cinema de Harmony Korine e Larry Clark (Kids, Ken Park) - e acaba por reviver uma fórmula que parecia esquecida. Na trama, Stevie, de 13 anos, encontra um grupo de garotos no qual se identifica em meados da década de 90, construindo um laço afetivo muito grande e passando a desfrutar de sua adolescência precoce, além de conhecer mais de perto a realidade daquelas ruas. O que poderia ter se tornado um filme sobre um bando de babaca andando de skate, acaba se transformando, de forma tão singela e delicada, em um recorte naturalista e profundo sobre a juventude. Há beleza em cada pequeno instante e, aos poucos, tudo aquilo vai se tornando especial para nós. Parece um filme de outra época. É bonito, é prazeroso, é o cinema em sua forma mais genuína. 




21. Perdi Meu Corpo
de Jérémy Clapin / França
Netflix
Animação francesa lançada pela Netflix, "Perdi Meu Corpo" nos leva a conhecer a sentimental aventura de uma mão, que viaja em busca do seu corpo decapitado. É, também, uma viagem pelas memórias de um jovem que perdeu a mão e sobre como ela esteve ao seu lado nos momentos mais decisivos de sua vida. É poesia em forma de filme, são inúmeros sentimentos ilustrados por belas imagens. Intriga por sua fantasia mirabolante e encanta facilmente por sua sensibilidade e por falar sobre luto, abandono, solidão através de um protagonista que busca constantemente por novos começos. 




20. Nós
de Jordan Peele / EUA
Universal Pictures
"Nós" chegou com altas expectativas sobre como seria a performance de Jordan Peele depois do sucesso de "Corra". Pode não ser tão bom quanto seu filme anterior, mas ainda assim ele entregou um produto absurdamente bem elaborado e que merece destaque no cenário atual do terror. Apesar de ser extremamente bem humorado, a obra tem o poder de nos deixar tensos do começo ao fim ao contar a misteriosa história sobre a invasão dos "duplos" à superfície e como uma família luta contra suas cópias para sobreviver. É divertido, original e empolgante. Peele é, também, um grande roteirista e constrói uma trama bem costurada, rica em detalhes. Ele mais uma vez da protagonismo aos negros em um filme que, há poucos anos atrás, não seria possível de existir. Cheio de simbolismos e boas ideias, "Nós" é aquele tipo de filme capaz de ter diversas interpretações e com potencial de ficar na nossa mente por muito tempo, remoendo tudo o que nos foi mostrado. 




19. Oitava Série
de Bo Burnham / EUA
Sony Pictures
Não é fácil falar sobre adolescência, sobre essa fase de amadurecimento, de conhecer um mundo novo. Poucas vezes, no cinema atual, um filme conseguiu ser tão relevante e tão real quanto este. É um olhar muito sensível e honesto sobre solidão, constrangimento, sobre se apoiar em redes sociais para se sentir parte de algo. A protagonista Kayla é um retrato íntimo e desconfortavelmente sincero sobre o que um dia fomos. Sem grandes pretensões, o diretor e roteirista Bo Burnham, que teve sua carreira começada no YouTube, parece compreender os jovens como ninguém e como a tecnologia tem impactado nesta nova construção social que se estabelece. É real, profundo e necessário. 




18. Homem-Aranha no Aranhaverso
de Bob Persichetti, Peter Ramsey, Rodney Rothman / EUA
Sony Pictures
“Aranhaverso” vai na contra-mão de tudo o que tem sido feito de adaptações em quadrinhos e consegue, em seus belíssimos minutos, humilhar tudo o que foi feito nos últimos anos com o personagem icônico da Marvel. O filme traz um jovem que vive no Brooklyn e quando, por eventos inesperados, se torna o homem-aranha, passa a ter contato com realidades paralelas onde conhece outras versões do herói. Se trata de um roteiro inventivo, original e empolga com sua divertida aventura. É incrível o tratamento que seus personagens recebem e como a trama vai crescendo, se transformando e se ressignificando a cada instante. A animação é um deleite para os olhos e surpreende pelas soluções visuais que a produção encontra. 




17. História de Um Casamento 
de Noah Baumbach / EUA
Netflix
A melancólica história de um divórcio. Noah Baumbach, um dos maiores expoentes do cinema independente norte-americano, revela a dolorosa jornada de Charlie e Nicole, um casal de artistas que dá início a um processo de separação. É sufocante assistir essa história de amor às avessas, principalmente quando o primeiro take do filme é justamente um declarando o amor pelo outro e tudo o que um completa no outro. Um roteiro realista, que não romantiza e nem diminui o impacto da situação. É delicado, humano e nos faz sofrer ao lado de seus protagonistas, a cada desencontro, a cada discussão. Adam Driver e Scarlett Johansson estão incríveis em cena.  




16. As Loucuras de Rose
de Tom Harper / Reino Unido, Irlanda do Norte
Diamond Films
O cinema atual tem criado um certo fascínio sobre estrelas da música e de todos os filmes que foram feitos recentemente sobre o assunto, “As Loucuras de Rose”, ao meu ver, foi o mais bem sucedido. A jornada de Rose nos fascina porque é real, porque é a história possível de uma mulher. É o relato de uma jovem mãe solteira que sonha em ser uma cantora country, mas sua realidade sempre a puxa de volta, a impede de viver seus sonhos. É um musical brilhante, tão energético quanto sua protagonista e tão agridoce quanto a vida é. E nada disso seria possível sem a presença de Jessie Buckley. Ela é uma artista completa, dá vida a uma grande personagem e emociona com seus potentes vocais. 




15. Rainha de Copas
de May el-Toukhy / Dinamarca
Arteplex Films
"Rainha de Copas" tem o triunfo de trair nossa expectativa e ir completamente na direção oposta do que esperamos dele. A trama começa com um passo um tanto quanto intrigante, onde uma advogada que defende menores de abusos, acaba se envolvendo sexualmente com seu afilhado. Traçamos um caminho previsível em nossa mente, mas o roteiro, incrivelmente esperto, nos surpreende a todo instante. O filme, então, se torna um thriller pesado, sexy, angustiante e segue como se a qualquer instante uma bomba pudesse explodir. O final é brilhante, o tornando uma das produções mais corajosas e ousadas deste ano. 




14. Dor e Glória
de Pedro Almodóvar / Espanha
Universal Pictures
O projeto mais pessoal de Pedro Almodóvar. É nítido em cada situação e diálogo que há muito do cineasta no protagonista, Salvador Mallo, vivido por Antonio Banderas. Longe de ser espalhafatoso ou exagerado, "Dor e Glória" é um filme pequeno, simples mas de discursos poderosos. É íntimo e soa como uma carta de amor do diretor ao cinema e às suas próprias memórias. Entre relatos de tantos personagens que passeiam pela vida do personagem, entendemos que "Dor e Glória" é sobre o tempo, sobre saudade, sobre o que acontece depois do ápice. Neste sentido, é até curioso como o filme vai nascendo, apenas navegamos em seus discursos sem nunca saber a direção exata que pretende chegar. Mas há lógica na sua desordem e paixão em cada elo que une suas inesperadas passagens. O novo filme de Almodóvar é sutil, cheio de sentimento e honestidade. Destaque, claro, para Antonio Banderas que surge em um dos melhores momentos de sua carreira. 




13. Ford vs. Ferrari
de James Mangold / EUA
20th Century Fox
“Ford vs Ferrari” é aquele tipo de filme que dá gosto de ver. É bom simplesmente porque é bem contado, porque o roteiro cresce de forma fluida, natural e quando menos percebemos estamos ali, completamente imersos em seu universo e na vida de seus personagens. O mais fascinante é que eles falam de um tema de nicho, sobre como a Ford resolveu entrar no ramo das corridas automobilísticas e o torna interessante até para aqueles não familiarizados com a trama. É uma obra que convida, que nos faz participar e vibrar por cada conquista. Gostoso de assistir e extremamente bem realizado pelo diretor James Mangold, que capricha na edição e faz com que uma simples corrida de fórmula 1 seja um evento a ser apreciado, tornando esses instantes hipnotizantes. 




12. As Golpistas
de Lorene Scafaria / EUA
Diamond Films
“As Golpistas”, enquanto arte, prova que vivemos novos tempos. Temos aqui um produto majoritariamente realizado por mulheres. Escrito, dirigido, produzido e com um elenco feito por elas. Nada mais justo quando se fala sobre o universo feminino e é ótimo poder ver as histórias delas sendo, finalmente, contadas pelas vozes de quem realmente as entende. É aquele famoso espaço de fala que há pouco tempo atrás parecia não existir. O filme nos leva ao ano de 2008 e como um grupo de stripers decide se unir para aplicar um golpe nos banqueiros da Wall Street. Poderia ser um típico "filme de crime" se não fosse o olhar da diretora e roteirista Lorene Scafaria, que além de trazer toda a elegância e dinamismo que um produto como este requer, também traz um olhar terno e verdadeiro sobre seus personagens e todas as situações que enfrentam. "As Golpistas" é um surpreendente evento. Luxuoso, insano e divertidíssimo.




11. Entre Facas e Segredos
de Rian Johnson / EUA
Paris Filmes
Uma grande homenagem às criações de Agatha Christie. Um suspense bem humorado, que instiga por seus bons mistérios e personagens de caráter duvidoso. Qualquer um deles poderia ter cometido o assassinato do patriarca desta família disfuncional apresentada. Um quebra-cabeça engenhoso e um detetive decidido a desvendar o crime que aconteceu em uma mansão luxuosa. São elementos clássicos que retornam aqui pelo olhar fascinante de Rian Johnson, que nos guia através de um roteiro inteligente e esperto, que está sempre a um passo a nossa frente, traindo nossas previsões constantemente. O elenco dá um brilho a mais e torna tudo ainda mais interessante do que é. Ter Toni Collette, Michael Shannon, Daniel Craig, Ana de Armas e Jamie Lee Curtis no mesmo filme foi um baita de um presente. 




10. Poderia Me Perdoar?
de Marielle Heller / EUA
Fox Film do Brasil
Queimei minha língua. Olhei para as divulgações quando estava para lançar e tinha a certeza que seria só mais um filme chato do Oscar que eu veria por obrigação para completar minha maratona anual. Não era. E indo completamente contra ao que eu esperava, "Poderia Me Perdoar?" me surpreendeu em todos os possíveis aspectos. Ao falar sobre as falcatruas reais da escritora Lee Israel ao lado de seu companheiro de crime, Jack Hock, o filme nos faz mergulhar nessas aventuras escritas com extrema sensibilidade e delicadeza. Ora cômico, ora trágico, somos facilmente cativados por esta belíssima trama e seus grandes protagonistas. E no meio de sua inusitada história, somos agraciados com um fascinante relato de amizade. Como é doce o envolvimento dos dois em cena e como é bom ver Melissa McCarthy e Richard E.Grant contracenando. Um dos maiores presentes de 2019...acabou e eu só queria poder entrar ali dentro e abraçar todo mundo que tornou este filme possível. 




09. Ad Astra - Rumo às Estrelas
de James Gray / EUA
Fox Film do Brasil
Há algo de especial no cinema de James Gray. Uma sensibilidade que intriga e uma calmaria que hipnotiza. É difícil desviar nosso olhar quando o que ele oferece é tão belo e rico de detalhes. Uma experiência cinematográfica formidável vinda de uma obra cheia de alma, cheia de poesia. Temos ainda o prazer de ver um inspirado Brad Pitt, que aqui vive um engenheiro espacial que é chamado para cruzar a galáxia e descobrir o que aconteceu com seu pai, um astronauta desaparecido que pelos últimos vinte anos acreditou-se que estava morto. E nesta viagem ao infinito, o protagonista busca se conectar com o mundo, preencher o vazio deixado pela ausência, pelo abandono. Me vi hipnotizado por suas palavras e por suas tantas questões existenciais, onde ao terminar nos deixa desolados, devastados pelas respostas que não tivemos e uma estranha sensação de que, de fato, estamos sozinhos nesta imensidão. 




08. Fora de Série
de Olivia Wilde / EUA
Imagem Filmes
A maior e mais grata surpresa de 2019! A atriz Olivia Wilde, em sua primeira experiência como diretora, veio e nos presenteou com esta pérola. “Fora de Série” se firma como uma das melhores comédias que tivemos nos últimos anos, não apenas porque é muito hilária, mas porque trouxe com vigor aquela energia e inteligência que o gênero tinha perdido. O cenário é o mesmo de sempre - um colégio norte-americano com jovens querendo aproveitar a última chance de se divertirem - mas os personagens não são. Sem caricaturas e muito distante de qualquer estereótipo, o filme acaba sendo um bem-vindo coming of age e encanta por trazer indivíduos tão únicos. Embarcamos nesta divertida aventura de duas amigas, Amy e Molly, e nos afeiçoamos a elas, torcemos, vibramos e rimos de cada inusitado obstáculo que elas enfrentam. É original, é revigorante e nos deixa simplesmente maravilhados pela cuidadosa direção e pela sensibilidade em falar sobre adolescência. 




07. Rocketman
de Dexter Fletcher / Reino Unido, Irlanda do Norte
Paramount Pictures
"Rocketman" é um grande espetáculo. E não poderia ser menos espalhafatoso, mágico e energético para falar sobre a vida do astro Elton John. É lindo como o diretor Dexter Fletcher percebeu a possibilidade de abusar da fantasia para contar essa trajetória de excessos. Somos levados, então, a um musical vibrante, onde tudo parece realmente possível. Interessante, também, em como as canções de Elton ganham importância aqui. São elas as narradoras desta história e são com elas que atravessamos o tempo e encontramos o homem por trás do nome. É, também, um belíssimo e sensível conto sobre aceitação, sobre entender a própria identidade. "Rocketman" é tão intenso quanto a vida do astro foi e tão extraordinário quanto o cinema pode ser. 




06. Coringa
de Todd Phillips / EUA
Warner Bros.
Há muitos anos o icônico personagem merecia um filme solo no cinema. No entanto, ainda assim, ninguém realmente esperava que o resultado disso sairia tão incrível. "Coringa" foge completamente ao que o público aguarda de uma adaptação de quadrinhos e entrega um produto refinado, inteligente, que não aposta na ação e sim no belo desenvolvimento e construção de seu grande personagem. Através de Arthur Fleck, o filme ganha ao explorar suas doenças mentais e tratar com tamanha seriedade as duras consequências delas. No fim, a obra acaba sendo uma súplica por empatia, uma súplica para olharmos as pessoas ao nosso lado. É sobre negligência e o quanto isso afeta aqueles que vivem à margem da sociedade. Joaquin Phoenix dispensa comentários. Ele é um gênio e renasce para viver Coringa. Uma performance assustadora, hipnotizante, antológica. 




05. Bacurau
de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles / Brasil
Vitrine Filmes
É com “Bacurau” que Kleber Mendonça Filho se firma como a voz mais relevante da produção brasileira e seu novo longa vem para fazer barulho. É audacioso. É grande. A história, bastante intrigante, acontece no sertão de Pernambuco, quando uma cidadezinha começa a ser exterminada por norte-americanos sedentos por violência. Um filme tenso, brilhante e que tem a ousadia de transitar por diversos gêneros como pela comédia, o terror e pela ação hollywoodiana. Aquele produto que está sempre criando uma saída nova, se ressignificando, ganhando novas camadas. É muita coisa dentro de um único filme e tudo funciona incrivelmente bem. Poucas vezes, nos últimos anos, o cinema nacional foi tão corajoso e grandioso como aqui. "Bacurau" entra para aquele seleto grupo de longas que sobrevivem ao tempo, que viram referência, que se tornam clássicos. Temos aqui uma obra grandiosa, impactante, que nos faz vibrar e sair da sala com o coração preenchido, com um puta orgulho da produção nacional. 




04. Assunto de Família
de Hirokazu Kore-eda / Japão
Imovision
Dirigido pelo renomado Koreeda, “Assunto de Família” encanta com sua trama profundamente emocionante. Vemos na tela o encontro de personagens gentis e a ternura existente nessa família que não possui o mesmo sangue, mas que se une no meio da desgraça em que vivem. Na dor e na alegria, somos levados a compartilhar momentos íntimos dessas pessoas tão humanas, que vivem à margem da sociedade e lutam diariamente pela sobrevivência. É um retrato da pobreza sem romantização, que nos atinge, nos sufoca, e nos faz abraçar todos os sentimentos relatados ali. Uma obra sutil que vai crescendo de pequenos passos e chega a um final catártico, de uma força que nos desestabiliza. É difícil julgar as atitudes de cada indivíduo ali e enquanto o filme nos invade por esses dilemas morais, somos agraciados por momentos incrivelmente doces, mágicos e de uma sensibilidade ímpar. 




03. A Vida Invisível
de Karim Aïnouz / Brasil
Vitrine Filmes
Dirigido pelo talentosíssimo Karim Aïnouz, temos aqui uma produção grande, deslumbrante e que espanta pela enorme qualidade. É lindo em muitos aspectos e nos faz acreditar no poder da produção do nosso país, que alcança aqui um nível poucas vezes alcançado. Em "A Vida Invisível", conhecemos duas irmãs, Guida (Julia Stockler) e Eurídice Gusmão (Carol Duarte), que vivem sob o forte regime patriarcal no Brasil da década de 40 e devido à alguns eventos trágicos, uma perde o contato da outra. O filme, então, se propõe a mostra a vida das duas, durante vários anos de separação e ver esses anos passando diante de nossos olhos é o que torna a obra tão dolorosa. É comovente demais esta jornada traçada pelas duas, a jornada dos rompimentos, do abandono, da solidão. Desta forma que chegamos ao final e digo que foi o final mais belo que vi em muitos anos. Chorei e não foi pouco. Me senti sufocado, angustiado por toda aquela trajetória e pela forma destruidora e irretocável que se concluiu. É lindo, intenso e poético. 




02. Cafarnaum
de Nadine Labaki / Líbano
Sony Pictures
Poucas vezes em 2019 senti isso. Fiquei sem chão. O filme terminou e eu continuei chorando por um tempo. "Cafarnaum" revela a realidade cruel do Líbano e a pobreza que não da chances para quem vive nela. É um retrato que nos atinge porque é universal, porque olhamos para o lado em nossas ruas e vimos toda a dor que o filme representa. A trama já começa com um baque, onde um garoto entra em processo contra os próprios pais por terem o colado no mundo. E assim a trama segue, com um choque atrás do outro. É simplesmente impossível se manter firme diante do filme, que trata seus temas com um realismo impactante, emocionando intensamente pelo rumo de seu forte protagonista. "Cafarnaum" é um soco doloroso na alma, que dificilmente sairá de nossa cabeça. 




01. Parasita
de Bong Joon-ho / Coreia do Sul
Pandora Filmes
“Parasita” é unânime. Não é sempre que isso acontece, mas de tempos em tempos surgem estas obras capazes de mobilizar esta propaganda involuntária. Do nada, as pessoas começam a conhecê-lo e de repente um filme sul-coreano atravessa o mundo e vira um hit. Apesar do bom humor, o roteiro sabe a força de suas palavras e entrega um produto potente e deliciosamente sádico. Bong Joon-ho desenha essa luta de classes e trilha por diversos gêneros - oscilando de forma harmoniosa entre o pastelão e o thriller - tornando seu filme ainda mais empolgante e saboroso. Existe, ainda, uma tensão sempre presente, colocando seus personagens em situações extremas, vivendo no limite da barbárie. Com um texto provocativo e crítico, o filme parece sempre caminhar no ápice e  jamais perde sua genialidade e seu poder em dialogar com o público. O impacto de “Parasita” se deve ao fato de que sua trama traz algo com que nos identificamos, um drama universal que diz muito sobre nossa realidade. Bong Joon-ho é um cineasta brilhante e merece este reconhecimento que finalmente veio. Este é seu melhor trabalho, deixando marca e impacto com uma obra que poderá ser revisitada e analisada daqui muitos anos.

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